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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013



AGORA QUE NÃO HÁ RAZÕES PARA ISSO 
É QUE V. EX.ª TEM DÚVIDAS!










Caro Sr. Presidente da República

Escrevo-lhe estas linhas sabendo à partida que V. Ex.ª não as lerá, porque não costuma distrair-se das altas funções de cuidar dos netos, seja para decidir questões nacionais, seja para ouvir reparos da plebe.
Mesmo assim, enquanto contribuinte do modesto vencimento de V. Ex.ª, considero-me no direito de também 'pregar um bocado no deserto', tolice que eu já costumava assumir publicamente há uns bons anos, era o Prof. Cavaco primeiro-ministro.

O Sr. Presidente manda o Tribunal Constitucional fiscalizar o Orçamento do Estado para 2013. Ou seja, V. Ex.ª desvia para os juízes um berbicacho que no caso é nitidamente político. Seu. Porque aquilo que preocupa neste momento são as feridas de morte que o governo abre na carne dos massacrados Portugueses. Sim, esses milhões de ingénuos que o puseram em Belém... duas vezes!

O que me traz aqui, porém, é a justificação do Sr. Presidente para se descartar dessas responsabilidades que lhe cabem como Chefe do Estado.
V. Ex.ª, conhecido por nunca se enganar e raramente ter dúvidas - conforme a gabarolice nos seus tempos de governante - deixa-se agora tomar de assalto pela cruel angústia das dúvidas!
Diz que o documento redigido pelo fuinha do Gaspar lhe "suscita fundadas dúvidas sobre a justiça na repartição dos sacrifícios".

Por favor, Sr. economista! O Senhor ainda tem dúvidas nessa matéria? Precisa de recorrer aos magistrados do TC para ter a certeza de que a "repartição dos sacrifícios" pelos portugueses é injusta? O Senhor, que foi professor de Economia no velho ISCEF, não consegue descortinar, mesmo sem fazer contas, a tragédia que estas novas medidas de Passos Coelho representa para o povo mais desabonado? O senhor tem dúvidas de que estamos em vésperas do completo desaparecimento da explorada classe média?

Nos seus tempos de primeiro-ministro, o Senhor vangloriava-se de só ter certezas. Não tinha dúvidas sobre a situação portuguesa. O Senhor pintava-na conforme o seu gosto. E assim se apartou a terra lusa nas valas para onde fomos atirados e de onde estamos cada vez mais longe de saltar, ainda hoje.
Pois agora, que toda a gente vê como a governação Passos-Portas-Gaspar impõe a mais ignóbil injustiça na tal 'repartição de sacrifícios', que só ao de leve atinge os barões gestores e a classe política, logo agora é que V. Ex.ª sente as dúvidas!

Tem graça, Sr. Presidente, mas hoje quem não tem dúvidas sou eu. Sempre me enganei, sempre hesitei no mar de dúvidas da vida, porém hoje não tenho dúvidas.
Por exemplo, não tenho dúvidas de que V. Ex.ª vai ficar na História entre outros coveiros deste regime democrático lusitano, como Passos Coelho e o rei da tabanca madeirense que chamou "Sr. Silva" a V. Ex.ª e pediu mesmo a sua expulsão do PSD.
Não tenho dúvidas de que V. Ex.ª agride a Constituição que jurou 'cumprir e fazer cumprir', ignorando uma situação para a qual foi alertado com documentos diversas vezes, seja a da comunicação social na Madeira, onde as leis continuam friamente violadas às claras. V. Ex.ª continua com um pavor imbatível da língua jardineira.
Não tenho dúvidas também de que o Estado chefiado por V. Ex.ª rouba dinheiro daquele que me obrigou a descontar uma vida inteira e que hoje, através de uma nojenta extorsão, usa dele como seu dono, para pagar as custas das suas próprias asneiras.
Não tenho dúvidas de que é por ser mais fácil imitar Pilatos que V. Ex.ª se contradiz promulgando esse OE enquanto o envia para o TC, alegando que seria mais dramático chumbá-lo e impedir o país de acorrer aos compromissos internacionais.
Não tenho dúvidas de que, se V. Ex.ª fosse um político de envergadura compatível com o cargo que ocupa, provocava eleições antecipadas, custasse o que custasse, ou então fazia as malas com a Ex.ª Dra Maria Cavaco e partia para Boliqueime, de vez.
Não tenho dúvidas de que V. Ex.ª se está 'borrifando' para a Nação de que é representante, e que o que o Senhor quer é acabar o mandato passando incólume no meio do tiroteio - e para isso vai sublimando algum remorso que o assalte passando horas no facebook e na play station, com os pequenos.
Atalhando o longo caminho das minhas certezas, não tenho dúvidas nenhumas de que V.Ex.ª, caso voltasse a eleições hoje, perdia perante aquele antigo candidato, camionista de profissão, ou apanhava 90-10 diante de Manuel Alegre.

Em todo o caso, desejo-lhe um novo ano com saúde. Saúde física, já que no campo financeiro nada lhe doerá, ao contrário dos desgraçados que passam fome para sustentar certa classe política interesseira e cobarde. 

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