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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Ambiente



O VENTO NÃO GOSTA DO RADAR






Quando em 2002 questionei o impacto ambiental do radar que a Força Aérea Portuguesa pretendia construir no Pico do Areeiro, fui vergastado com argumentos geoestratégicos por especialistas militares e ecólogos oficiais. Até ao início das obras do impactante edifício multiplicaram-se os escritos com raizame científico e técnico, com o objetivo de me apoucar. Opor-se à instalação do radar era sinónimo de fundamentalismo ecológico e ignorância quanto aos grandes desígnios da defesa nacional.
Em Agosto de 2010 o edifício do radar escapou incólume ao pavoroso incêndio que destruiu cerca de 90% do coberto vegetal do maciço montanhoso do Pico do Areeiro. Ainda não refeitos da forte dor provocada pela perda da biodiversidade, os voluntários da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal iniciaram o árduo trabalho de cortar e estilhaçar os esqueletos calcinados de árvores e arbustos. Concomitantemente, no interior da enorme bola branca os técnicos espanhóis e os militares portugueses ultimavam a montagem dos sofisticados equipamentos para deteção de intrusos no espaço aéreo português.
O tempo foi passando, imensas plantas foram renascendo das cinzas e cerca de 12 milhares de plantas de espécies indígenas já foram colocadas no solo para repovoar as áreas outrora habitadas pelas suas irmãs mortas pelo fogo. O percurso da recuperação será longo, mas, graças à persistência dum grupo de cidadãos e à resiliência da natureza, naquele píncaro da ilha as cores da biodiversidade surgem aos olhos dos visitantes como um novo manto de vida na  nudez dos solos rochosos.
Entretanto, e ainda sem estar completamente operacional o equipamento de deteção e transmissão de imagens, o  edifício já revela sinais de deterioração. A 24 de  Novembro do ano passado uma rajada de vento de cerca de 100 km / hora arrancou e transportou para fora do recinto militar duas placas e deixou fissuras na face inferior da estrutura. Passados quase dois meses, ainda não houve tempo ou dinheiro para o restauro, sendo de prever que um próximo vendaval continue a escavacar a construção encavalitada no topo da montanha.
Perante o cenário atual do Pico do Areeiro, sinto vontade de perguntar: o que é que mais contribuirá para a segurança e qualidade de vida dos madeirenses, o repovoamento vegetal feito com trabalho voluntário, ou o radar que já custou muitos milhões de euros do erário público?

Saudações ecológicas,
Raimundo Quintal




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