CRÓNICA
JUVENAL XAVIER
Por
que “carga-d´água” (ou desassossego) Fernando Pessoa disse que “ler é maçada?”
O livro é uma extensão da memória e da imaginação – escreveu Jorge Borges. E para Kafka, um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós. Esse livro, revela-nos José Luís Peixoto, era a solidão – boa e grandiosa. Umberto Eco acrescenta que o mundo está cheio de livros fantásticos que ninguém lê.
O
livro é um mestre que fala, mas que não responde – conta Platão. É um mudo que
fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive – nas palavras
do Padre António Vieira. Surpreendentemente ou não, Herberto Hélder (face da
poesia experimental portuguesa) vem dizer-nos que existem romances imperdoáveis.
Quase todos os romances contemporâneos são imperdoáveis. Como é imperdoável a
maioria dos poemas portugueses deste século. A bem dizer não há nada!
Voltaire
(figura do Iluminismo) entende que a enorme quantidade de livros que circulam
por aí está a deixar-nos completamente ignorantes. Eu escrevo livros, confessou
Tolstoi, por isso, sei todo o mal que eles fazem. (Que mal fizeram Guerra e Paz
e Anna Karenina?)
Hoje,
notou Nelson Mandela (Prémio Nobel da Paz em 1993), uma das tristes realidades
é que pouquíssimas pessoas, em especial jovens, leem livros. A menos que encontremos
formas imaginativas de resolver esse problema as futuras gerações arriscam-se a
perder a sua história. Mia Couto recorda que a palavra "ler" vem do
latim "legere" e quer dizer "escolher". Era isso que faziam
os antigos romanos quando, por exemplo, selecionavam entre os grãos de cereais.
A raiz etimológica está bem patente no nosso termo “eleger”. Ora, o drama é que,
hoje, estamos deixando de escolher. Estamos deixando de ler no sentido da raiz
da palavra. Cada vez mais, somos escolhidos. Cada vez mais, somos objeto de
apelos que nos convertem em números, em estatísticas de mercado.
Mas, Fernando Pessoa (ou Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Bernardo Soares), como é que o “sol doira sem literatura”?
2 comentários:
Bom artigo mas no fundo é pérolas a porcos
O Sr, Calisto deveria de abrir uma crónica feminina no seu blogue e delegar ao Juvenal Xavier tal cargo de coordenação
Elas pensam que está no club Naval, mas anda ligado agora às letras para refrescar o seu intelecto
Força jovem
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