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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

 

CRÓNICA


JUVENAL XAVIER                                                                            


                      "LER É MAÇADA?”

 

Por que “carga-d´água” (ou desassossego) Fernando Pessoa disse que “ler é maçada?”

O livro é uma extensão da memória e da imaginação – escreveu Jorge Borges. E para Kafka, um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós. Esse livro, revela-nos José Luís Peixoto, era a solidão – boa e grandiosa. Umberto Eco acrescenta que o mundo está cheio de livros fantásticos que ninguém lê.

O livro é um mestre que fala, mas que não responde – conta Platão. É um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive – nas palavras do Padre António Vieira. Surpreendentemente ou não, Herberto Hélder (face da poesia experimental portuguesa) vem dizer-nos que existem romances imperdoáveis. Quase todos os romances contemporâneos são imperdoáveis. Como é imperdoável a maioria dos poemas portugueses deste século. A bem dizer não há nada!

Voltaire (figura do Iluminismo) entende que a enorme quantidade de livros que circulam por aí está a deixar-nos completamente ignorantes. Eu escrevo livros, confessou Tolstoi, por isso, sei todo o mal que eles fazem. (Que mal fizeram Guerra e Paz e Anna Karenina?)

Hoje, notou Nelson Mandela (Prémio Nobel da Paz em 1993), uma das tristes realidades é que pouquíssimas pessoas, em especial jovens, leem livros. A menos que encontremos formas imaginativas de resolver esse problema as futuras gerações arriscam-se a perder a sua história. Mia Couto recorda que a palavra "ler" vem do latim "legere" e quer dizer "escolher". Era isso que faziam os antigos romanos quando, por exemplo, selecionavam entre os grãos de cereais. A raiz etimológica está bem patente no nosso termo “eleger”. Ora, o drama é que, hoje, estamos deixando de escolher. Estamos deixando de ler no sentido da raiz da palavra. Cada vez mais, somos escolhidos. Cada vez mais, somos objeto de apelos que nos convertem em números, em estatísticas de mercado.

Mas, Fernando Pessoa (ou Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Bernardo Soares), como é que o “sol doira sem literatura”?

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom artigo mas no fundo é pérolas a porcos

Anónimo disse...

O Sr, Calisto deveria de abrir uma crónica feminina no seu blogue e delegar ao Juvenal Xavier tal cargo de coordenação
Elas pensam que está no club Naval, mas anda ligado agora às letras para refrescar o seu intelecto
Força jovem