PICA-MIOLOS 

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SELF-CONTROL

Miguel Albuquerque começa mal o ano. Surpreendendo, Cafofo começa bem. Miguel Silva Gouveia, com perspicácia, subiu ao palco da fama 'covid' e continua a ser um sério perigo para os dois. O que é que isto quer dizer?

Quando eu era novo e sabia de tudo, dificilmente alguém conseguia demonstrar um erro meu. Não tenho ideia de ter perdido uma discussão, pese o esforço de muitos amigos ou companheiros de trabalho para me indicarem um caminho melhor.

Com o passar do tempo, comecei a constatar que os meus conhecimentos não eram essas coisas. E agora, na provecta idade, vejo que, depois de a vida me passar uns 'sabões' bem correctivos, não cheguei a passar de um 'sabão' cuja sabença se limitava às manias próprias da 'idade da parva'. 

E não me posso queixar de ter esquecido o que sabia, já que de memória vou muito bem. Aproveito até para pedir desculpa a tanta gente que gastou sabão a tentar livrar-me das teimosias narcísicas. Lavar a cabeça a burros...

Isto vem a propósito de, agora que sei nada saber, pelo menos imaginar que o nosso Amigo Albuquerque, na sua qualidade de Presidente da Madeira, já vai entradote na idade o suficiente para reconhecer que as 'indiscutíveis sabedorias' do tempo de juventude também nele começam a perder fulgor. 

Veja-se a dissenção renovadinhos-velhinhos logo a seguir à substituição de Jardim, guerra intestina que não acabou com o PSD-M porque não. Mas a lição pelos vistos de pouco valeu a Miguel, porque a vitória por 3-0 nas três eleições de 2019 mal escondem o tormento que foi para o vencedor minoritário constituir governo. O resultado de 22 de Setembro roçou o empate técnico (PSD-PS).

Com a crise do malvado '19', é o que temos dito. Com alguma surpresa, o Chefe agarrou bem o problema e brilhou a bom brilhar. Elogiado justamente pela coragem e argúcia por parte de muitos sectores, tanto do viver madeirense como lá fora. 

No entanto, a auto-confiança exagerada, aliás como se previa, tornou a sobrepor-se ao realismo do nascer da 2.ª vaga. E o caldo entornou-se, mais uma vez. É só andar agora na rua para perceber que quantos cantavam hosanas à situação controlada pelo Presidente do Governo mudaram o discurso para 'isto vai uma desgraça e o outro diz que está tudo sob controlo'.

Uma das coisas que o 'entradote das Angústias' já devia ter interiorizado: a popularidade é uma escada difícil de subir e facílima de descer, principalmente aos trambolhões.

 

Para complicar as coisas, surge agora um dado novo, a merecer atenção dos laranjas habituados à carreira quentinha. Se não é engano meu, Paulo Cafofo começa o novo ano disposto a baixar a crista e a 'fazer política'. O seu artigo no DN de hoje nada tem a ver com as trapalhadas que apresentou antes, invariavelmente. O Chefe socialista não diz neste artigo que Miguel é mau porque sim. Aponta-lhe erros concretos. O principal dos quais - e aqui eu não podia estar mais de acordo com o Profe - a descredibilização em que Albuquerque se está a deixar esvair. É verdade. Com as suas contradições. A 'sabedoria' dos tempos de rapaz.

Também não esqueço as trocas e destrocas na conduta de Cafofo começadas praticamente logo a seguir ao derrube do PSD na Câmara do Funchal, em 2013. Mal aconselhado por agências de publicidade obviamente sem bandeira que não a dos milhões, foram anos trágicos para quem chegou a ser a esperança da oposição madeirense. Temos aqui uma colecção dessas trocas e baldrocas, para o caso de ser preciso. Era o tempo em que Cafofo só dizia e fazia cafofices, com incríveis cacófatos naquela sua cafofomania geradora de cafofonias e cafofobia em tantos segmentos regionais.

Quando há dias na ALM acusava o PSD-M de estar amarrado aos lobbies, estava com ideias de um dia fazer o mesmo que o adversário, como fez na sua passagem pela Câmara?

As pessoas aprendem e mudam, o que é bom quando mudam para melhor. Assim sendo: será que a prosa cafofiana de hoje, sóbria, fresca e clara, e que me parece escrita sem palpites dos habituais assessores de pacotilha, vem para ficar, sobretudo os pensamentos nela contidos? Para quem vive a política cá da terrinha, seria o prolongar das luzinhas de Natal. Por obrigar muita gente a trabalhar.

Quanto a Miguel Albuquerque, tem ainda um berbicacho no futuro-próximo que será o seu covid político-partidário deste ano: como conseguir que os funchalenses votem para retirar a Câmara a Miguel Silva Gouveia. É que, por enquanto, não se vê como o PSD o consiga. Se com Calado, se com dois Calados. Albuquerque não se atreverá a candidatar João Paulo Marques, actual estrela laranja na CMF (depois da ALM). 'Renovar sim, mas devagar'. Os velhos tubarões da Rua dos Netos e os 'velhos renovadinhos' não lidam bem com sombras. 

Caros Senhores Albuquerque e Cafofo: quem não ganhar as autárquicas, e com o Funchal necessariamente incluído na vitória, pode começar a fazer contas ao desemprego político. 

Aqui com uma nova situação a considerar: Miguel Silva Gouveia  matutou acertadamente e conseguiu mostrar-se, ainda por cima sem ondas tontas, no palco luminoso da crise sanitária. Abdicando do aproveitamento político (nestas situações não há cores partidárias, disse), mas para um dia não ser acusado de ter abandonado os munícipes em tempo de pandemia. 

Confirma-se que o Presidente da capital é um perigo para Miguel Albuquerque. Mas também para Paulo Cafofo. E porquê? Porque é o mais credível dos três. E o mais criativo, se ignorarmos uns 'eventos' pueris que vêm do passado e da sua ainda reduzida permanência no cargo. Facto que urge ultrapassar urgentemente, digo eu - e não é a velha mania minha de saber tudo. 

Quem é que não sorri ao lembrar-se do 'Fica na cidade' em praças vazias? Programas digitais que não deram em nada, a não ser a conferência de imprensa para os anunciar? E mesmo agora aquela feirazita de Natal no Largo do Município, com frequência confrangedora, quando há tantas alternativas para fazer melhor?! 

Miguel Gouveia andará bem se aproveitar o tempo a estudar a fórmula para libertar a Câmara (e a si próprio) dos barões e tubarões que dominam as respectivas áreas de influência e acção. 

É pesquisa complexa. Atendendo ao histórico da Região, primeiro dominada pelos estrangeiros residentes; depois pelos emigrantes de luxo que não investiram um tostão seu na ilhota; e agora por filhos da terra (desemigrados ou não) - perante isto, o Sr. Eng.º Miguel terá de inventar uma nova teoria, porque a relatividade geral e a mecânica quântica serão insuficientes para desbloquear charada de tal jaez.

 

Para terminar:

Miguel Albuquerque não fará mal se, em primeiríssimo lugar, seguir o conselho sobre a sua credibilidade. É um perigo a população perder a confiança nele, o que não admira verificar-se depois do descalabro de casos de infecção no Natal e fim-de-ano. Assim, urge recuperar a confiança do povo para o fazer acatar as restrições e cumprir os planos de vacinação. Convencer as pessoas de que todos os esforços serão feitos em prol da economia regional. Mas que, nesta fase, a Saúde não é um meio, é decididamente um fim. 

É pegar no primeiro sábado mais folgado que lhe aparecer, Sr. Presidente, e, em vez de gastar o tempo a tocar piano e a cantar (!), ou de andar nos copos com os secretários regionais, leve a sua pandilhazinha a uma sabatina muito séria. Subordinada ao tema: 'Self-control, Miguel'.

Pense nos Madeirenses. Não ande a fazer o que proíbe aos 'súbditos' em matéria de confinamentos, testes, máscaras - lavar as mãos não se sabe. Faça também o que manda a população fazer. Não precisamos de um Frei Tomás nas Angústias.

A menos que não se importe de, em vez da sabatina, receber em 2023 guia-de-marcha para um governo sabático de 4 anos - pelo menos.

 

Luís Calisto