OPINIÃO
CARLOS JARDIM
A madrugada de 2021
A
madrugada do ano nem nos deixou respirar de alívio pelo fim de 2020.
Amanhecemos
com a esperança de uma nova vacina mas também com novas variantes do vírus.
Entramos no ano novo com a esperança de um virar de página mas os elementos da
natureza voltaram a mostrar a sua força e a pequenez do Homem perante o
Universo. Assistimos, incrédulos, à invasão do Capitólio por uma horda de
bárbaros.
E
perdemos o Pio… Ficamos estarrecidos perante uma realidade que não queríamos
acreditar pudesse acontecer em pleno século XXI, numa época que, tantas vezes
ouvi dizer, tínhamos a geração com mais qualificações de sempre.
Como chegamos a isto?
Como
é que assistimos a um Presidente dos Estados Unidos da América a ser permissivo
com um ataque a um dos símbolos da democracia?
A
realidade é que Donald Trump faz parte da nova geração de populistas que
tomaram de assalto as instituições políticas por todo o Mundo.
Tal
como ele, indivíduos, em todas as democracias, invadiram as instituições
políticas. Indivíduos sem princípios, sem qualificações, sem competências ou
sem relevância social, através da sua imposição, dos seus abusos e pela falta
de vergonha que os carateriza, imiscuem-se nos meios partidários, ganhando
relevância através de práticas mais ou menos claras, passando por cima de tudo
e de todos.
A
realidade é que, tal como no passado, o sucesso da ascensão destes indivíduos é
culpa exclusiva dos partidos do arco do Poder. É graças à sua transigência
perante as falhas do sistema que nasce o descrédito dos cidadãos nas
instituições, que o descontentamento se instala e surgem as fendas no edifício
da democracia.
E
assim ganham poder os arautos da desgraça. Vendedores de banha da cobra, cujas
realizações pessoais, profissionais ou académicas são nulas, mas que, com a sua
lábia e palavreado rápido, tocam a flauta e levam atrás de si largas franjas da
população.
Assistimos
a isso no passado. A inconsistência das suas capacidades era tal que os poderes
instituídos, nem tão pouco a sociedade em geral, acreditava nas suas conquistas
do poder. Assim, fará em breve 100 anos, ascenderam ao poder Hitler, Mussolini,
Lenine e depois Estaline. Abriu-se a porta aos regimes totalitários e, para a
ascensão de ditaduras tornou-se comum o derrube de democracias. Assim foi em
Portugal. Pelo desentendimento dos democratas terminou a primeira República com
a subida ao poder de Salazar.
Pois
bem. Da democracia nos EUA aquilo que esperamos é uma reposição do sentido de
Estado e de Direito Democrático que sempre norteou a governação americana. Não
é o estado da democracia nos EUA que me preocupa. Acredito que as instituições
reconheceram agora a deriva que viveram nos últimos anos e preocupar-se-ão em
expurgar do sistema todos os que procuram destruir a democracia americana.
Preocupa-me
é a jovem democracia em Portugal.
É
comum dizer-se que na história das famílias, a primeira geração constrói, a
segunda mantém e a terceira destrói.
Temos
em Portugal uma democracia com pouco mais do que três anos em Portugal.
Tivemos
uma geração que reconquistou a Democracia em 1974. Construímos essa democracia
ao longo destes 40 anos. A segunda geração viveu essa democracia ao longo dos
anos 90 e primeira década deste século. Começamos agora a ver as tentativas de
destruir essa democracia.
Sejamos
claros. As falhas dos partidos instituídos – PS, PSD, CDS, PCP e BE – fizeram
crescer nos últimos anos um sentimento de insatisfação, de impotência na
população. Por força disso, crescem os movimentos populistas, liderados por
quem, sob uma capa de aparente prosápia rápida e conhecimento universal, denota
já os tiques longamente conhecidos de quem abomina as diferenças, desrespeita
instituições, regras de Estado de Direito e cultiva um ódio de estimação bem
revelador dos complexos que os caraterizam.
Não
é esta uma questão de somenos importância. É quando os complexos e as
caraterísticas individuais se sobrepõem ao exercício das funções públicas e
políticas que a Democracia está em risco.
E
assim é. Sentimos, em Portugal e na Madeira, um crescimento desta impaciência
sobre a nossa condução comum.
Como
ultrapassar isto?
Olhemos
aos EUA. Vejamos como resolveram a questão.
Os
partidos do arco do Poder não transigiram perante este feroz ataque à
democracia.
O
mesmo terá de acontecer aqui.
Cabe
aos partidos instituídos apresentarem às eleições que aqui virão os seus
quadros mais bem preparados. Sem olhar a questões de aritmética interna e sem
receios.
Cabe
aos cidadãos a tarefa de votar nos mais bem preparados e não se iludir com os
Flautistas de Hamelin modernos.
A solução é simples sob pena de, não sendo seguida, a vítima ser a nossa democracia e o nosso futuro ser mais um inverno de 40 anos de Ditadura tirânica.
3 comentários:
Se existisse menos corrupção no sistema político- partidário e mais Ética estavam dispensados os desventuras deste mundo.
Mas os partidos engordaram,burguesinhos de pacotilha surgiram como formigas; As drag-queens oportunistam atravessam os partidos do poder, o PSD Madeira é um Estado paralelo e criouum mosntro chamado administração pública. Não vejo futuro.
Parabéns Carlos Jardim. Um artigo de opinião muito bom que deveria ser lido pelo líder do Chega André Ventura e seus apoiantes, para eles saberem que a gente está a topar a verborreia deles, e que apenas enganam os tolos e os parolos!
Claro que o artigo está bom para quem defende a democracia e o respeito pelos outros. Quem defende as ditaduras o artigo é uma vergonha.
Como disse há uns dias o Nuno Drummond num post no Facebook (estamos nas mãos de boys e de babes)
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