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sábado, 9 de janeiro de 2021

 

OPINIÃO



CARLOS JARDIM                                                                                          




A madrugada de 2021

 

A madrugada do ano nem nos deixou respirar de alívio pelo fim de 2020.

Amanhecemos com a esperança de uma nova vacina mas também com novas variantes do vírus. Entramos no ano novo com a esperança de um virar de página mas os elementos da natureza voltaram a mostrar a sua força e a pequenez do Homem perante o Universo. Assistimos, incrédulos, à invasão do Capitólio por uma horda de bárbaros.

E perdemos o Pio… Ficamos estarrecidos perante uma realidade que não queríamos acreditar pudesse acontecer em pleno século XXI, numa época que, tantas vezes ouvi dizer, tínhamos a geração com mais qualificações de sempre.

Como chegamos a isto?

Como é que assistimos a um Presidente dos Estados Unidos da América a ser permissivo com um ataque a um dos símbolos da democracia?

A realidade é que Donald Trump faz parte da nova geração de populistas que tomaram de assalto as instituições políticas por todo o Mundo.

Tal como ele, indivíduos, em todas as democracias, invadiram as instituições políticas. Indivíduos sem princípios, sem qualificações, sem competências ou sem relevância social, através da sua imposição, dos seus abusos e pela falta de vergonha que os carateriza, imiscuem-se nos meios partidários, ganhando relevância através de práticas mais ou menos claras, passando por cima de tudo e de todos.

A realidade é que, tal como no passado, o sucesso da ascensão destes indivíduos é culpa exclusiva dos partidos do arco do Poder. É graças à sua transigência perante as falhas do sistema que nasce o descrédito dos cidadãos nas instituições, que o descontentamento se instala e surgem as fendas no edifício da democracia.

E assim ganham poder os arautos da desgraça. Vendedores de banha da cobra, cujas realizações pessoais, profissionais ou académicas são nulas, mas que, com a sua lábia e palavreado rápido, tocam a flauta e levam atrás de si largas franjas da população.

Assistimos a isso no passado. A inconsistência das suas capacidades era tal que os poderes instituídos, nem tão pouco a sociedade em geral, acreditava nas suas conquistas do poder. Assim, fará em breve 100 anos, ascenderam ao poder Hitler, Mussolini, Lenine e depois Estaline. Abriu-se a porta aos regimes totalitários e, para a ascensão de ditaduras tornou-se comum o derrube de democracias. Assim foi em Portugal. Pelo desentendimento dos democratas terminou a primeira República com a subida ao poder de Salazar.

Pois bem. Da democracia nos EUA aquilo que esperamos é uma reposição do sentido de Estado e de Direito Democrático que sempre norteou a governação americana. Não é o estado da democracia nos EUA que me preocupa. Acredito que as instituições reconheceram agora a deriva que viveram nos últimos anos e preocupar-se-ão em expurgar do sistema todos os que procuram destruir a democracia americana.

Preocupa-me é a jovem democracia em Portugal.

É comum dizer-se que na história das famílias, a primeira geração constrói, a segunda mantém e a terceira destrói.

Temos em Portugal uma democracia com pouco mais do que três anos em Portugal.

Tivemos uma geração que reconquistou a Democracia em 1974. Construímos essa democracia ao longo destes 40 anos. A segunda geração viveu essa democracia ao longo dos anos 90 e primeira década deste século. Começamos agora a ver as tentativas de destruir essa democracia.

Sejamos claros. As falhas dos partidos instituídos – PS, PSD, CDS, PCP e BE – fizeram crescer nos últimos anos um sentimento de insatisfação, de impotência na população. Por força disso, crescem os movimentos populistas, liderados por quem, sob uma capa de aparente prosápia rápida e conhecimento universal, denota já os tiques longamente conhecidos de quem abomina as diferenças, desrespeita instituições, regras de Estado de Direito e cultiva um ódio de estimação bem revelador dos complexos que os caraterizam.

Não é esta uma questão de somenos importância. É quando os complexos e as caraterísticas individuais se sobrepõem ao exercício das funções públicas e políticas que a Democracia está em risco.

E assim é. Sentimos, em Portugal e na Madeira, um crescimento desta impaciência sobre a nossa condução comum.

Como ultrapassar isto?

Olhemos aos EUA. Vejamos como resolveram a questão.

Os partidos do arco do Poder não transigiram perante este feroz ataque à democracia.

O mesmo terá de acontecer aqui.

Cabe aos partidos instituídos apresentarem às eleições que aqui virão os seus quadros mais bem preparados. Sem olhar a questões de aritmética interna e sem receios.

Cabe aos cidadãos a tarefa de votar nos mais bem preparados e não se iludir com os Flautistas de Hamelin modernos.

A solução é simples sob pena de, não sendo seguida, a vítima ser a nossa democracia e o nosso futuro ser mais um inverno de 40 anos de Ditadura tirânica.

3 comentários:

Anónimo disse...

Se existisse menos corrupção no sistema político- partidário e mais Ética estavam dispensados os desventuras deste mundo.
Mas os partidos engordaram,burguesinhos de pacotilha surgiram como formigas; As drag-queens oportunistam atravessam os partidos do poder, o PSD Madeira é um Estado paralelo e criouum mosntro chamado administração pública. Não vejo futuro.

Anónimo disse...

Parabéns Carlos Jardim. Um artigo de opinião muito bom que deveria ser lido pelo líder do Chega André Ventura e seus apoiantes, para eles saberem que a gente está a topar a verborreia deles, e que apenas enganam os tolos e os parolos!
Claro que o artigo está bom para quem defende a democracia e o respeito pelos outros. Quem defende as ditaduras o artigo é uma vergonha.

Anónimo disse...

Como disse há uns dias o Nuno Drummond num post no Facebook (estamos nas mãos de boys e de babes)