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quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

 


OPINIÃO


Gil Canha                                                     



É SEMPRE MELHOR UMA FARSA 

QUE UMA TRAGÉDIA

 



"A história repete-se sempre, pelo menos duas vezes", disse Hegel. Karl Marx acrescentou: "a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa."

O recente ataque de apoiantes de Trump ao Capitólio dos E.U.A vem confirmar rigorosamente aquilo que Marx afirmou sobre a repetição da história (Nietzsche falava do eterno retorno). Basta um qualquer observador examinar os disfarces utilizados pelos atacantes do Capitólio para se  perceber até que ponto chegou a mascarada farsante. E apesar das cinco vítimas mortais, que é sempre de lamentar, temos de reconhecer que o assalto teve episódios completamente hilariantes de fazer uma pessoa se desmanchar a rir.

No entanto, tenho observado que certos políticos da extrema esquerda, alguma esquerda ´light´ e alguns ´direitolas´ tresmalhados têm utilizado o ataque ao Capitólio para atemorizar os cidadãos com avisos do tipo: “vejam lá em quem vão votar nas presidenciais para não acontecer em Portugal o que aconteceu nos Estados Unidos, com aquele ataque à democracia”. 

Ora, eu aceito que a maioria dos portugueses façam essa crítica, que na minha opinião é legitima e verdadeira. Contudo, o que me cria uma certa repulsa e asco, é ver certa gente que militou e milita em partidos da extrema esquerda radical, incluído o PCP, todos muito empertigados e enraivecidos sobre este ataque à casa da democracia americana, como se eles no passado (e alguns no presente) não tivessem apoiado precisamente a mesma coisa. (Veja-se o caso do cerco violento à Assembleia Nacional da Venezuela pelos esquerdalhas cubano-chavistas)

Como a história se repete, se me perguntarem o que mais gosto - se na forma de drama ou da farsa - eu prefiro de longe a farsa. Porque normalmente uma farsa faz-nos rir e dá um certo colorido aos factos históricos, embora ambas causem sempre inúmeras vítimas. Por exemplo, na Cimeira das Lajes ou da Guerra de 2003, o pessoal divertiu-se à brava ao ver aqueles quatro grandes palhaços (deviam de ser julgados e presos pelos seus crimes) a enganarem meio Mundo com a tal farsa mirabolante que o Iraque de Saddam tinha poderosas armas químicas.

No ataque ao Capitólio, repetiu-se o mesmo gozo cruel. Achei divertido o tal tipo em tronco nu, cornos de bisonte enfiados num boné em pelo macio de Guaxinim, com a bandeira dos E.U.A estampada na cara e segurando um enorme lança com a bandeira americana presa por um cordel, intitulando-se de Xamã Sioux da paz. E então rebentei a rir quando ele disse todo prazenteiro: “Eu sou um grande peixe, e quando me veem, dizem… oh, é melhor não se meterem com ele”. E a lista de mascarados não tem fim, aparece de tudo: um super-homem, um Pato Patriótico, uma Águia careca, um Capitão América, um Abraham Lincoln, outros ainda, um misto de super-heróis com coletes à prova de bala e capacete militar, com pinturas de guerra, tipo índios Navajo, e envergando camuflados, não faltando o respetivo boné vermelho com Trump estampado ou ´Make America Great Again´. Junto a uma coluna consegui vislumbrar uma mulher, imaginem, mascarada de Estátua da Liberdade, rodeada de Cowboys e caçadores barbudos, que pelo castiço aspeto, seriam talvez provenientes dos pântanos do Louisiana ou destiladores de álcool ´moonshines´ dos montes Apalaches misturados com certos adereços de “hillbilly” dos Montes Ozark.    E agitando freneticamente uma bandeira confederada e empoleirado em cima de uma escultura patriótica, vi um dos apoiantes de Trump, impecavelmente mascarado de General Robert Lee após a célebre batalha de Gettysburg, enquanto verdadeiros Homens-aranha escalavam a escadaria principal deste vetusto edifício. E olhando com especial atenção para os inúmeros corredores do Capitólio, parecia que a casa da democracia americana tinha sido tomada pelos ´Village People´ e por uma alegre turba de divertidos ´red neks´, em tempos do Halloween, gritando como crianças: “Trick-or-treat” (Doces ou travessuras) o que torna a coisa mesmo hilariante e digna de se ver.  E este desfile de pobres-diabos (agora abandonados pelo seu mentor) representam de facto a América profunda, ingénua, cheia de pastores evangélicos e de supremacistas brancos e negros, e carregada de teorias da conspiração, mas que, e apesar de todo o aparato e frenesim mediático, nunca chegaram a por em causa as fortes instituições democráticas americanas nem conseguiram ultrapassar a linha ténue que vai da comédia ao terror de outras bandas. (E digo e repito, tendo em atenção a quantidade de armas que polícias e atacantes carregavam, noutro país, teria sido uma carnificina)

Pinheiro de Azevedo, o Almirante Sem Medo, (tio-avô de Bruno de Carvalho) quando cercado pelos manifestantes proferiu a célebre frase carregada de sarcasmo: “Não gosto de ser sequestrado. É uma coisa que me chateia. E agora vou almoçar, pá!


Mas, voltando aos nossos “esquerdalhas”, tenho a relembrar que Portugal já sofreu um caso semelhante de ataque às instituições democráticas, em que a história se repetiu como uma farsa, e que se não fosse o 25 de Novembro de 1975, teria levado o país à tragédia (Guerra Civil) e possivelmente à Ditadura vermelha.

A 12 de novembro de 1975, um grupo de cerca de 100 000 mil manifestantes, a maioria operários da construção civil, instigados e manipulados pelo PCP e elementos da UDP, PRP (Partido Socialista Revolucionário) e mais elementos da esquerda radical cercaram o Palácio de São Bento, onde se reunia a Assembleia Constituinte, e a residência oficial do Primeiro-ministro, Pinheiro de Azevedo, e sequestraram durante 36 horas, tanto o Governo provisório como os deputados democraticamente eleitos. A situação descambou de tal ordem que, Vítor Crespo, na altura ministro da Cooperação, fez um apelo desesperado aos manifestantes para não destruírem o património do atual edifício da Assembleia da República.

A Assembleia Constituinte tinha sido eleita democraticamente em abril de 1975, em sufrágio universal directo, em que a participação popular tinha sido esmagadora, mas, como a esquerda radical e o PCP tinham sofrido um sério revês neste acto eleitoral, tentaram pela força fazer cair o VI Governo Provisório e paralisar a Assembleia Constituinte, num total desrespeito pelas regras democráticas, isto é, tentaram substituir a legitimidade democrática pela legitimidade revolucionária, tudo muito semelhante ao que os farsantes de Trump tentaram fazer no Capitólio.

Concluindo, o PCP e a esquerdalha extremista desejavam repetir em Portugal, infelizmente sem êxito, a Revolução Russa de Outubro 1917, (esta sim, nada teve de farsa), onde os bolcheviques encabeçados por Lenin tinham tomado pela força o Palácio de Inverno, em Petrogrado, e acabaram com o governo provisório menchevique de Kerenski e dissolveram a Constituinte, democraticamente eleita, onde os comunistas radicais estavam em minoria. E foi deste modo, de uma violência indescritível, que os desejos dos políticos moderados em transformar a Rússia numa República democrática e parlamentar ruíram em frente ao totalitarismo comunista.   

Com este assalto ao poder, iniciou-se uma nova era na Europa de governos soviéticos de assassinos genocidas, que até chegaram ao descaramento de se aliarem aos Nazis de Hitler, em 1939, para destruírem as pequenas democracias do Báltico e dividir a Polónia em duas metades, como se fosse um queijo suíço.

E são muitos destes comunas e ex comunas leninistas, trotskistas, maoistas, cubanos, chavistas, simpatizantes de Pinochet, do Erdogan, do Putin, do Lukashenko e do ditador chinês Xi Jinping, que estão muitos escandalizados, todos muito sentidos, todos muito melindrados, porque a democracia na América foi ferida e atacada por um grupo de campónios mascarados, a mando de um cavalheiro alucinado, com tiques e trejeitos muito semelhantes ao nosso ex-Bokassa residente.

16 comentários:

Edgar Silva disse...

Aplaudo esta lição de história... Por mim acabou a tolerância a partidos de esquerda... Com alguns ainda se consegue dialogar com outros são perfeitos estados de psicose doentia...

DaSilva Samuel disse...

Gostei de ler e realmente fico cada vez mais contente por ver esta e outras demonstrações de acontecimentos passados, são estas lições que são necessárias para que muitos iludidos se apercebam da realidade das intenções da esquerda. Apesar de muitos já estao num estado não reversível nas suas opiniões.

Anónimo disse...

Canha não escrevas mais destas coisas que ainda fechas de vez o PCP fascista comunista

Anónimo disse...

Mas que texto reacionário, os operários que cercaram S. Bento queriam melhores salários e não foram manipulados não altere a historia.

Anónimo disse...

O Coelho comunista vai publicar esta matracada do amigo Canha? Pois é....dói!

Anónimo disse...

Deveriam era cercar a casa de loucos, apelidada pelo ditadorzinho Bokassa, e afastar os representantes das máfias no bom sentido.

Anónimo disse...

Caro Gil,
texto magnifico, e se me permite só acrescentaria que muitos dos ofendidos por aquela palhaçada defendem manifestações violentas, com pilhagens e destruição de bens públicos e privados.
Os EUA estão feridos de morte, depois de um louco, teremos agora uma louca, a menos que os democratas consigam controlar os progressistas instalados no seu partido, o que duvido muito. É o fim de uma hegemonia, a Oriente outra se ergue, enquanto isso a Europa dorme na parada, como sempre. Não auguro nada de bom.

jose manuel da mata vieira coelho disse...

O meu amigo Gil é um pedacinho anticomunista, mas eu respeito a opinião dele. A Revolução Russa, fez mais pela humanidade do que todas as revoluções do mundo juntas. A Revolução francesa (1789-1799) trouxe imensos avanços à humanidade e isso não impediu que fossem assassinadas muitos milhares de pessoas em França que culminaram com as devastadoras guerras napoleónicas. Claro que em todas as Revoluções que fizeram avançar a humanidade, se comentem desvios e erros.
Jesus Cristo o Nazareno fez a grande revolução cristã há 2030 anos atrás. Fez a humanidade evoluir mas isso não impediu que séculos depois, o papa e os padres na Idade Média assassinassem milhões de "herejes" que tinham opinião diferente do cristianismo pregado por Roma papal.

Anónimo disse...

21.55,
O que é que (de positivo) a revolução russa fez pela humanidade?

Anónimo disse...

Muito bem. Os comunistas mataram e matam ainda hoje muito mais gente que os nazis...se partido Nazi é proibido (e bem) o partido comunista também devia ser proibido

Anónimo disse...

Os ideais da revolução francesa espalharam-se por toda a europa com as tropas de Napoleão, e bem! As tropas de Stalin só espalharam terror, totalitarismo e morte em Gullags de povo e elites pensantes. Tens de atualizar Coelho!

Anónimo disse...

Jose Coelho não sabes? O sr. Canha estou na América e aprendeu a ser reacionário e burguês na pátria do Grande Capital e do Imperialismo.

jose manuel da mata vieira coelho disse...

Caros Amigos com o devido respeito por vossas opiniões eu penso que o Socialismo e uma sociedade comunista, tal como foi pensado por Karl Marx e Friedrich Engels, mantém-se actual e apesar da queda da União Soviética voltará a ressurgir no próximo século XXII ou talvez ainda neste século. Tal como a extinção do colonialismo pelo apoio do Estado soviético que levaram à libertação de muitos povos e o surgimento de novos países, foi um grande avanço civilizacional.
A igualdade entre homens e mulheres no que toca a salários e direitos cívicos também foi uma conquista da Revolução de Lenine no partido dos sovietes. A luta pela libertação da humanidade da exploração do homem pelo homem constitui uma utopia que um dia irá ser realidade em todo o mundo. Até lá chegaremos apesar de todos os avanços e recuos. A roda da história não vai parar. Uma nova sociedade no futuro será uma realidade porque o capitalismo não consegue acabar com a pobreza e a escravidão assalariada. Eu continuo a acreditar numa nova forma cientifica de organização da nossa sociedade. Onde finalmente conseguiremos igualdade fraternidade e justiça social sem exploradores nem explorados. Tenho fé que o Socialismo e o Comunismo deverão orientar e reger as sociedades do futuro, rumo a uma nova era de paz e felicidade. Porque o Homem veio ao mundo para ser feliz e não para ser explorado e discriminado em função de sua raça classe social ou capacidade económica. Viva o socialismo científico vivam as ideias de Karl Marx!

Anónimo disse...

José Manuel Coelho,
É até enternecedora a sua ingénua mas convicta crença nas extraordinárias mudanças no mundo como algo conquistado pela Revolução Soviética.
Mas, ninguém pode deixar de reconhecer que é um homem de fé. Parece um daqueles apoiantes de Trump. Eles também acreditam numa série de patranhas, embora a realidade e todos os factos os desmintam.

Anónimo disse...

Pelo visto o José Manuel Coelho defende o comunismo utópico, porque aplicado na prática é uma desgraça como criticou Orwell no seu "Animal Farm". É um bom ideal, como o cristianismo, o islamismo, etc... mas na prática estas religiões têm deixado um rasto de sangue atrás de si.

Anónimo disse...

Os comunas estão bravos. O Canha vem buscar estas coisas e pronto! Baba e ranho para baixo