PICA-MIOLOS
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NOVA PANDEMIA:
DEMÊNCIA NACIONAL
UM SEM-ABRIGO EM BELÉM
O homenzinho, de olhar vago, cabelo sem
jeito, alquebrado, corcovado e trôpego, sai pela porta mal iluminada
com o saquinho de plástico na mão e quase se admira com as câmaras de TV que
lhe barram o caminho.
"Lá estão os abutres da comunicação social a aproveitar a desgraça dos outros para ganhar audiências!", resmunguei. Num primeiro momento, julguei que o desgraçado estava a sair da sopa à Rua do Frigorífico para, com passagem pelo seu cacifo no Campo da Barca oferecido pelo Cafofo, voltar ao cartão nas traseiras do Mercado dos Lavradores - para finalmente ingerir um pouco de compaixão ainda quentinha com arroz e ovo a cavalo.
Logo percebi que a reportagem decorria em
Lisboa. Porque o homem acabou por se meter num carro e arrancar pela conhecida
A5, seguindo numa condução distante e titubeante de Cascais a Lisboa.
As câmaras em sua perseguição mostraram um
ancião desorientado às voltas por alturas de Entrecampos, provavelmente atacado
de alzheimer, sem saber que fazer ao carro que conduzia, com a máscara sobre a
boca e o nariz. Uma vez estacionado nas imediações da Faculdade de Direito e da
antiga 'Gôndola', e de expressão pasmada, balbuciou uns monossílabos
imperceptíveis.
Pus-me a tentar adivinhar e as cenas
seguintes foram concludentes: pelo traço decrépito, estava ali a caquéctica
figura que 2 milhões e meio de portugueses acabavam de reeleger para Presidente
da República. Tratava-se do Chefe do Estado porque minutos depois estava ele a
sair-se com um arrazoado de pensamentos em cima da Bandeira Nacional.
Entre outras coisas, disse que a sua
reeleição não é igual a um cheque em branco.
Acrescentou que vai garantir que se
ultrapassem a xenofobia, as exclusões e os medos instalados.
Aqui seria de perguntar como o irá fazer
se não o fez nos 5 anos anteriores, quando lhe competia obrigar o governo a
tratar disso.
Mas o homem não está em condições de
acertar em tudo.
Como se viu naquela castiça noite
portuguesa, o reeleito faz tudo sozinho, sem deixar brilhar porta-vozes,
mandatários, chefes de casa militar ou civil, agências de marketing,
conselheiros, assessores, adjuntos, secretários, secretárias ou motoristas.
Como resolve os problemas que lhe surgem?
Se o caso for consensual, promulga segundo o gosto da maioria. Se houver vozes
descontentes, manda para o Constitucional, e este que assuma o odioso.
De resto, é elogiar a política oficial
como o Costa desgoverna - depois de ambos se terem telefonado - e o mandato vai
andando, cantando e rindo.
Que fez Marcelo nestes últimos 5 anos,
além de, em equipa com o Costa, ter colocado Portugal no primeiro País do mundo
a matar gente afectada pelo '19'?
Durante o mandato anterior, todos
perceberam que o homenzinho era assim. Não foi eleito para desunir, mas para
unir. A qualquer preço.
Aliás, as suas principais funções
consistem na proximidade com o povo, abraços e selfies. Claro que os eternos
críticos contestam que se pague um salário presidencial quando o beneficiário
deixou de trabalhar por causa da pandemia '19': ele não pode dar o mau exemplo
de desrespeitar o distanciamento legal, e assim acabaram-se praticamente as
selfies e os afectos.
Mas alguém defenderá neste País que se
escandalize a União Europeia e o mundo em geral arranjando uma solução lay-off
para o Presidente da República ou mandando-o inscrever no Desemprego?
O problema é que, chegados a esta parte do
texto académico em desenvolvimento, concluo que o mal não é a circunstância de
morar em Belém um alto magistrado cheché.
Ao tempo que estamos habituados a isso!
O problema é que a senilidade alastra. A
tender para a demência. Veja-se que o próprio povo da Madeira, à força de dar
maiorias tão grandes a dignitários espertos, como fez antes do 25 de Abril e
depois do 25 de Abril, continua a pensar hoje em dia que as coisas
devem ser assim. Que a saída é dar maiorias pornográficas aos mais espertos e
ponto final - como aconteceu nas eleições de domingo, e não só na Calheta.
Sim, o eleitorado regional tem dividido
ultimamente as autarquias e os votos nas eleições regionais, sem propiciar as
maiorias escandalosas de outrora. Mas é um caso de mera desorientação. O povo
madeirense não encontra ninguém com um mínimo de carisma em quem votar em
massa, como tradicionalmente.
Com uma agravante. O centro-direita
confessa-se baralhado quando Miguel Albuquerque começa por negar apoio ao
candidato do seu segmento ideológico, o inquilino de Belém, ameaçando até
concorrer para o enfrentar. O centro-direita devia então votar na extrema-direita
do Chega-Chaga? Ou nos perigosos partidos do centro para a esquerda?
...Assim como o sargento também baralhou
os do centro-"esquerda": Cafofo aconselhou o voto dos socialistas na
candidatura de direita Marcelo-PSD-CDS. Dentro do próprio P"S", o
Cafofo colou-se ao inevitável vencedor de direita, fazendo coro com o PSD
(Miguel sempre reconsiderou, a custo e sem dar nas vistas). E enquanto Cafofo
marchava mais descaradamente para a direita, Iglésias e companheiros de bancada
parlamentar faziam esquerda-volver, sem chamar as atenções da caserna, acenando
com um apoio envergonhado a Ana Gomes - a única candidatura sincera nestas
eleições, fora a de Tino e, talvez, a de Mayan.
Quando começarem os testes à vaga de
Demência, não sei onde fazer os internamentos em massa que se adivinham.
O drama é que não é só a velhada que
engrossa os afectados. Uma pessoa ouve o jovem chefe CDS nacional e arrepia-se
com as premissas pseudo-maquiavélicas - ou delirantes - que o levam a concluir
que o seu partido ganhou as Presidenciais.
O CSD quis assim, ganhou. O CDS quis
assado, ganhou. O CDS quis grelhado, ganhou.
De gritos, como diz o outro.
Já parece a mesmíssima personagem quando,
na irreverência da sua juventude, ameaçou queixar-se à Entidade
Reguladora porque as empresas de sondagens andam a dar-lhe 'zero vírgula
qualquer coisa'.
Não sei se ainda haverá CDS quando a ER
der o seu despacho à queixa.
Mais velho mas ainda na força da idade,
Rui Rio também anda com a sua mania.
Diagnostiquemos o tipo de demência em tonalidade
laranja.
O próprio Marcelo disse-se um político de
direita, de direita social. Explicou-o para se demarcar do papão da
extrema-direita populista não social. Marcelo disse-o na TV. Pois é o Rui
Rio que aparece a dizer que o PSD não apoiou nenhum candidato de direita, que
apoiou Marcelo por ser de centro, e não de qualquer direita. Não apoiou
candidato de centro-esquerda, como não apoiou de direita. Apenas deu apoio ao
candidato de centro... que se diz de direita pura.
Cheguei a pensar que o bom do Rui Rio
estava a tentar influenciar as tácticas do Sérgio Conceição, já que o FCP
jogava na segunda-feira em Faro.
Coitado do Rio. Ainda há tão pouco tempo
parecia bem. Mas as pessoas em Portugal ficam assim. Preço de quase 9
séculos de maluqueiras no rectângulo e por esses novos mundos do mundo.
E Rio insistia lá na sua, misturando na
argumentação a constituição do governo açoriano com os resultados de Ventura no
Alentejo e com o problema que o Chega constitui para o Partido Socialista.
O melhor é não contrariar.
Catarina Martins, que não é nenhuma velha,
saiu-se com esta: é verdade que a nossa candidatura resultou num desastre
eleitoral, mas também é verdade que se não fosse a Marisa não se tinha falado
dos cuidadores informais, do desemprego e de coisas assim.
A bloquista começa a ficar afectada e
quer-nos arrastar com ela.
A esperança do PCP João Ferreira tentou
manter alguma sensatez no meio do pântano trapicheiro geral. Disse que não
concorreu contra percentagens. Portanto, o descalabro não tinha especialidade
nenhuma. Coisa normal ao sabor da corrente comunista para o abismo, mesmo que
tenha incendiado todo o Alentejo.
Por falar no Alentejo, temos que André
Ventura fica a dever à sua loucura genuína todas as vantagens que retirou da
demência congénita dos outros. Ainda ontem, vi uma cigana dirigir-se pela
televisão ao chefe do Chega-Chaga lembrando-lhe para comparecer lá na aldeia e
dar casas aos cabeças de família da etnia residente. E não tenho dúvidas de que
ele vai lá. Pelo menos o assumido extremo-direito não é ingrato. Ele sabe que,
sem os ciganos em Portugal, estaria hoje à noite na televisão a inventar
desculpas para a nova barraca de Jesus no Benfica-Nacional de ontem.
Sim, ir ao encontro dos ciganos, o Ventura
é capaz de ir. Pode é ele chegar lá e negar-se a cumprir a promessa dizendo que
eles não querem casa nova, e que preferem caravanas e umas peças de tecido não
inflamável.
A terminar, honra seja feita ao chefe
Chega. Ele disse que se demitia se ficasse atrás de Ana Gomes. E logo na noite
eleitoral, reconhecendo essa derrota parcial, pôs o seu lugar à disposição.
Homem de palavra, só que... partir de
premissas incorrectas dá argumentação com uma conclusão falsa.
Uma pessoa que quer demitir-se - demite-se
e mais nada. Cai fora. Pôr o lugar à disposição é outra coisa. É artifício para
ganhar tempo. Depois do cargo à disposição, há talvez lugar à vaga de fundo para
o impedir, há dirigentes que pedem ao sujeito que continue no lugar.
Quando um treinador de futebol põe o seu
lugar à disposição da Direcção não está a dizer nada. Porque o seu lugar está
sempre à disposição da Direcção. Ele que perca uns jogos seguidos e verá se
precisa de pôr o lugar à disposição.
Ou seja, o sr. Ventura prometeu
demitir-se, não prometeu colocar o lugar nas mãos dos militantes. Domingo à
noite devia ter-se ido embora. Ao dizer que daria a palavra aos militantes, falhou a promessa. Sabe que se por absurdo os militantes o mandassem sair, ele ficava, punha
todos os militantes na rua e arranjava outros.
Mas pelo menos é um político normal. E o
país precisa de políticos normais, que dizem uma coisa e fazem outra.
O Ventura ainda está bem do juízo. Dos
poucos.
Se o Leitor não levar a mal, fico por
aqui. Já estou a ligar para o 300.
- É da Casa de Saúde S. João de Deus?
Quando é que começam a chegar as vacinas contra a demência viral?
Luís Calisto
4 comentários:
Palmas.
Texto digno de um Tino
Parece que vem aí uma nova bancarrota criada de novo pelo PS, o partido da comunicação social e das sondagens. Desta vez é na área da saúde e como sempre, pioneiros. Não tarda é lá vamos de novo, recorrer à ajuda internacional.
Obrigado Luís Calisto pelo texto que me fez rebolar de tanto rir! Já não bastava a casa de loucos ali para o lado da Av.do Mar e agora temos o rectângulo de loucos e dementes! Só mesmo gozando com estes políticos oportunistas que nos querem passar um atestado de demência, mas que enquanto o fisco não cobrar pela galhofa, pelo menos vamos arreganhar a placa gozando com eles todos.
Caro calisto
O nosso louco das angústias, hoje manteve o casaco azul, mas mudou a gravata para a cor da do Chega
Apareceu no telejornal vestido de veterinário e arroga-se já que tem direito a ser vacinado
Vai fazer o favor ao nosso sargentão costa e aceitar ser vacinado antes dos sem abrigo
Quem está ciumento é o nosso romântico Iglésias que até teve cócegas no fundo das costas
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