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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

 

 PICA-MIOLOS 

 (4) 



NOVA PANDEMIA:

DEMÊNCIA NACIONAL



UM SEM-ABRIGO EM BELÉM

 

O homenzinho, de olhar vago, cabelo sem jeito, alquebrado, corcovado e trôpego, sai pela porta mal iluminada com o saquinho de plástico na mão e quase se admira com as câmaras de TV que lhe barram o caminho. 

"Lá estão os abutres da comunicação social a aproveitar a desgraça dos outros para ganhar audiências!", resmunguei. Num primeiro momento, julguei que o desgraçado estava a sair da sopa à Rua do Frigorífico para, com passagem pelo seu cacifo no Campo da Barca oferecido pelo Cafofo, voltar ao cartão nas traseiras do Mercado dos Lavradores - para finalmente ingerir um pouco de compaixão ainda quentinha com arroz e ovo a cavalo.

Logo percebi que a reportagem decorria em Lisboa. Porque o homem acabou por se meter num carro e arrancar pela conhecida A5, seguindo numa condução distante e titubeante de Cascais a Lisboa.

As câmaras em sua perseguição mostraram um ancião desorientado às voltas por alturas de Entrecampos, provavelmente atacado de alzheimer, sem saber que fazer ao carro que conduzia, com a máscara sobre a boca e o nariz. Uma vez estacionado nas imediações da Faculdade de Direito e da antiga 'Gôndola', e de expressão pasmada, balbuciou uns monossílabos imperceptíveis. 

Pus-me a tentar adivinhar e as cenas seguintes foram concludentes: pelo traço decrépito, estava ali a caquéctica figura que 2 milhões e meio de portugueses acabavam de reeleger para Presidente da República. Tratava-se do Chefe do Estado porque minutos depois estava ele a sair-se com um arrazoado de pensamentos em cima da Bandeira Nacional. 

Entre outras coisas, disse que a sua reeleição não é igual a um cheque em branco. 

Acrescentou que vai garantir que se ultrapassem a xenofobia, as exclusões e os medos instalados. 

Aqui seria de perguntar como o irá fazer se não o fez nos 5 anos anteriores, quando lhe competia obrigar o governo a tratar disso. 

Mas o homem não está em condições de acertar em tudo.

Como se viu naquela castiça noite portuguesa, o reeleito faz tudo sozinho, sem deixar brilhar porta-vozes, mandatários, chefes de casa militar ou civil, agências de marketing, conselheiros, assessores, adjuntos, secretários, secretárias ou motoristas.

Como resolve os problemas que lhe surgem? Se o caso for consensual, promulga segundo o gosto da maioria. Se houver vozes descontentes, manda para o Constitucional, e este que assuma o odioso.

De resto, é elogiar a política oficial como o Costa desgoverna - depois de ambos se terem telefonado - e o mandato vai andando, cantando e rindo.

Que fez Marcelo nestes últimos 5 anos, além de, em equipa com o Costa, ter colocado Portugal no primeiro País do mundo a matar gente afectada pelo '19'?

Durante o mandato anterior, todos perceberam que o homenzinho era assim. Não foi eleito para desunir, mas para unir. A qualquer preço.

Aliás, as suas principais funções consistem na proximidade com o povo, abraços e selfies. Claro que os eternos críticos contestam que se pague um salário presidencial quando o beneficiário deixou de trabalhar por causa da pandemia '19': ele não pode dar o mau exemplo de desrespeitar o distanciamento legal, e assim acabaram-se praticamente as selfies e os afectos. 

Mas alguém defenderá neste País que se escandalize a União Europeia e o mundo em geral arranjando uma solução lay-off para o Presidente da República ou mandando-o inscrever no Desemprego?

O problema é que, chegados a esta parte do texto académico em desenvolvimento, concluo que o mal não é a circunstância de morar em Belém um alto magistrado cheché. 

Ao tempo que estamos habituados a isso!

O problema é que a senilidade alastra. A tender para a demência. Veja-se que o próprio povo da Madeira, à força de dar maiorias tão grandes a dignitários espertos, como fez antes do 25 de Abril e depois do 25 de Abril, continua a pensar hoje em dia que as coisas devem ser assim. Que a saída é dar maiorias pornográficas aos mais espertos e ponto final - como aconteceu nas eleições de domingo, e não só na Calheta.

Sim, o eleitorado regional tem dividido ultimamente as autarquias e os votos nas eleições regionais, sem propiciar as maiorias escandalosas de outrora. Mas é um caso de mera desorientação. O povo madeirense não encontra ninguém com um mínimo de carisma em quem votar em massa, como tradicionalmente.

Com uma agravante. O centro-direita confessa-se baralhado quando Miguel Albuquerque começa por negar apoio ao candidato do seu segmento ideológico, o inquilino de Belém, ameaçando até concorrer para o enfrentar. O centro-direita devia então votar na extrema-direita do Chega-Chaga? Ou nos perigosos partidos do centro para a esquerda?

...Assim como o sargento também baralhou os do centro-"esquerda": Cafofo aconselhou o voto dos socialistas na candidatura de direita Marcelo-PSD-CDS. Dentro do próprio P"S", o Cafofo colou-se ao inevitável vencedor de direita, fazendo coro com o PSD (Miguel sempre reconsiderou, a custo e sem dar nas vistas). E enquanto Cafofo marchava mais descaradamente para a direita, Iglésias e companheiros de bancada parlamentar faziam esquerda-volver, sem chamar as atenções da caserna, acenando com um apoio envergonhado a Ana Gomes - a única candidatura sincera nestas eleições, fora a de Tino e, talvez, a de Mayan.

Quando começarem os testes à vaga de Demência, não sei onde fazer os internamentos em massa que se adivinham.

 

O drama é que não é só a velhada que engrossa os afectados. Uma pessoa ouve o jovem chefe CDS nacional e arrepia-se com as premissas pseudo-maquiavélicas - ou delirantes - que o levam a concluir que o seu partido ganhou as Presidenciais.

O CSD quis assim, ganhou. O CDS quis assado, ganhou. O CDS quis grelhado, ganhou.

De gritos, como diz o outro.

Já parece a mesmíssima personagem quando, na irreverência da sua juventude, ameaçou queixar-se à Entidade Reguladora porque as empresas de sondagens andam a dar-lhe 'zero vírgula qualquer coisa'. 

Não sei se ainda haverá CDS quando a ER der o seu despacho à queixa.    

 

Mais velho mas ainda na força da idade, Rui Rio também anda com a sua mania. 

Diagnostiquemos o tipo de demência em tonalidade laranja. 

O próprio Marcelo disse-se um político de direita, de direita social. Explicou-o para se demarcar do papão da extrema-direita populista não social. Marcelo disse-o na TV. Pois é o Rui Rio que aparece a dizer que o PSD não apoiou nenhum candidato de direita, que apoiou Marcelo por ser de centro, e não de qualquer direita. Não apoiou candidato de centro-esquerda, como não apoiou de direita. Apenas deu apoio ao candidato de centro... que se diz de direita pura. 

Cheguei a pensar que o bom do Rui Rio estava a tentar influenciar as tácticas do Sérgio Conceição, já que o FCP jogava na segunda-feira em Faro.

Coitado do Rio. Ainda há tão pouco tempo parecia bem. Mas as pessoas em Portugal ficam assim. Preço de quase 9 séculos de maluqueiras no rectângulo e por esses novos mundos do mundo.

E Rio insistia lá na sua, misturando na argumentação a constituição do governo açoriano com os resultados de Ventura no Alentejo e com o problema que o Chega constitui para o Partido Socialista.

O melhor é não contrariar.

 

Catarina Martins, que não é nenhuma velha, saiu-se com esta: é verdade que a nossa candidatura resultou num desastre eleitoral, mas também é verdade que se não fosse a Marisa não se tinha falado dos cuidadores informais, do desemprego e de coisas assim.

A bloquista começa a ficar afectada e quer-nos arrastar com ela.

A esperança do PCP João Ferreira tentou manter alguma sensatez no meio do pântano trapicheiro geral. Disse que não concorreu contra percentagens. Portanto, o descalabro não tinha especialidade nenhuma. Coisa normal ao sabor da corrente comunista para o abismo, mesmo que tenha incendiado todo o Alentejo.

 

Por falar no Alentejo, temos que André Ventura fica a dever à sua loucura genuína todas as vantagens que retirou da demência congénita dos outros. Ainda ontem, vi uma cigana dirigir-se pela televisão ao chefe do Chega-Chaga lembrando-lhe para comparecer lá na aldeia e dar casas aos cabeças de família da etnia residente. E não tenho dúvidas de que ele vai lá. Pelo menos o assumido extremo-direito não é ingrato. Ele sabe que, sem os ciganos em Portugal, estaria hoje à noite na televisão a inventar desculpas para a nova barraca de Jesus no Benfica-Nacional de ontem.

Sim, ir ao encontro dos ciganos, o Ventura é capaz de ir. Pode é ele chegar lá e negar-se a cumprir a promessa dizendo que eles não querem casa nova, e que preferem caravanas e umas peças de tecido não inflamável.

A terminar, honra seja feita ao chefe Chega. Ele disse que se demitia se ficasse atrás de Ana Gomes. E logo na noite eleitoral, reconhecendo essa derrota parcial, pôs o seu lugar à disposição.

Homem de palavra, só que... partir de premissas incorrectas dá argumentação com uma conclusão falsa.

Uma pessoa que quer demitir-se - demite-se e mais nada. Cai fora. Pôr o lugar à disposição é outra coisa. É artifício para ganhar tempo. Depois do cargo à disposição, há talvez lugar à vaga de fundo para o impedir, há dirigentes que pedem ao sujeito que continue no lugar. 

Quando um treinador de futebol põe o seu lugar à disposição da Direcção não está a dizer nada. Porque o seu lugar está sempre à disposição da Direcção. Ele que perca uns jogos seguidos e verá se precisa de pôr o lugar à disposição.

Ou seja, o sr. Ventura prometeu demitir-se, não prometeu colocar o lugar nas mãos dos militantes. Domingo à noite devia ter-se ido embora. Ao dizer que daria a palavra aos militantes, falhou a promessa. Sabe que se por absurdo os militantes o mandassem sair, ele ficava, punha todos os militantes na rua e arranjava outros.

Mas pelo menos é um político normal. E o país precisa de políticos normais, que dizem uma coisa e fazem outra. 

O Ventura ainda está bem do juízo. Dos poucos.

 

Se o Leitor não levar a mal, fico por aqui. Já estou a ligar para o 300.

- É da Casa de Saúde S. João de Deus? Quando é que começam a chegar as vacinas contra a demência viral?


Luís Calisto

4 comentários:

Anónimo disse...

Palmas.
Texto digno de um Tino

Anónimo disse...

Parece que vem aí uma nova bancarrota criada de novo pelo PS, o partido da comunicação social e das sondagens. Desta vez é na área da saúde e como sempre, pioneiros. Não tarda é lá vamos de novo, recorrer à ajuda internacional.

Anónimo disse...

Obrigado Luís Calisto pelo texto que me fez rebolar de tanto rir! Já não bastava a casa de loucos ali para o lado da Av.do Mar e agora temos o rectângulo de loucos e dementes! Só mesmo gozando com estes políticos oportunistas que nos querem passar um atestado de demência, mas que enquanto o fisco não cobrar pela galhofa, pelo menos vamos arreganhar a placa gozando com eles todos.

Anónimo disse...

Caro calisto
O nosso louco das angústias, hoje manteve o casaco azul, mas mudou a gravata para a cor da do Chega
Apareceu no telejornal vestido de veterinário e arroga-se já que tem direito a ser vacinado
Vai fazer o favor ao nosso sargentão costa e aceitar ser vacinado antes dos sem abrigo
Quem está ciumento é o nosso romântico Iglésias que até teve cócegas no fundo das costas