A “praga do Powerpoint”
ameaça
dizimar a agricultura madeirense
Por Vitorino Seixas
Segundo fontes oficiais a praga da
vespa-das-galhas-do-castanheiro já dizimou 60% da produção de castanha na
freguesia do Curral das Freiras e 90% na Serra de Água. Perante esta
catástrofe, que começou em 2014, é lícito perguntar a Humberto Vasconcelos porque
deixou alastrar a praga durante mais de um ano e meio?
Numa pesquisa, no sítio da Secretaria Regional de
Agricultura e Pescas (SRAP), sobre a praga da vespa-das-galhas-do-castanheiro,
fui surpreendido com o resultado “Não foram encontrados documentos para a sua
pesquisa”, o que desmente as mensagens políticas que aparecem junto ao rosto
sorridente de Humberto Vasconcelos, entre as quais destaco “Técnicos estarão no
terreno em proximidade com o agricultor”.
No entanto, a visita ao sítio da SRAP acaba por ser
interessante pois permite ter um conhecimento mais aprofundado das iniciativas
de Humberto Vasconcelos, em especial sobre os planos estratégicos que tem apresentado.
Neste domínio, rapidamente se constata que, apesar da comunicação social ter
noticiado cerca de uma dezena de planos estratégicos, só estão disponíveis os
planos para o maracujá ¹, a anona ² e a agricultura biológica ³.
Numa leitura atenta dos três planos, que são meras
apresentações Powerpoint, verifica-se que o seu conteúdo, em rigor, nunca
poderá ser denominado de “plano estratégico” dada a sua fragilidade técnica.
Senão, vejamos. Bata ler o denominado “Plano
Estratégico para a Agricultura Biológica” para se perceber a falta de
consistência do conteúdo dos 32 slides. Sem
tentar ser exaustivo, vou centrar a análise em três elementos do referido “plano”:
Análise SWOT, Objetivos e Avaliação dos Resultados.
Quanto à análise SWOT, há uma descrição que
demonstra que a análise foi feita por alguém sem a devida preparação, dada a
confusão entre o que é uma oportunidade, um ponto forte, um ponto fraco ou uma
ameaça. Por exemplo, o Plano Estratégico aparece, ao mesmo tempo, como uma
força e uma fraqueza. Por outro lado, não há informação sobre as medidas a
implementar no sentido de melhorar os pontos fracos, nem de minimizar o impacto
das ameaças no sector da agricultura biológica.
No tocante aos objetivos, há referência ao
“objetivo geral de conseguir a
médio-longo prazo que a Agricultura Madeirense seja maioritariamente realizada
em Modo de Produção Biológico (na ilha do Porto Santo, a 100%)” e a seis objetivos
específicos. No tocante ao “objetivo geral”, como não se define concretamente o
ano em que será atingido, trata-se de uma mera intenção política que não pode ser
avaliada. Prosseguindo a análise, constata-se que apenas o primeiro e o sexto “objetivos
específicos” contêm metas que permitem avaliar os resultados alcançados, mas os
restantes quatro são, mais uma vez, meras intenções políticas que não podem ser
avaliadas.
Por fim, a informação
sobre a avaliação dos resultados resume-se a um único slide relativo à vigência
e revisão periódica do plano, mas não indica nem o período de vigência do plano
nem especifica o processo de revisão anual. Acresce que, se os objetivos
definidos são, na sua maioria, intenções sem indicação de metas anuais, que
tipo de avaliação poderá ser feita?
Na verdade,
nenhuma, pois a “praga do Powerpoint” está tão disseminada na Secretaria da
Agricultura que não resta outra solução senão importar mais
uma “vespa parasitoide” para combater esta praga que ameaça dizimar a
agricultura madeirense.
“Nós temos um plano estratégico. Chama-se fazer as coisas”, Herb Kelleher
¹ “Plano Estratégico para o Maracujá”
http://www.madeira.gov.pt//Portals/9/Images/Imprensa/PE%20MARACUJA%20SITE%20SRAP.pptx
² “Plano Estratégico para a Anona”
http://www.madeira.gov.pt//Portals/9/Users/014/14/14/Plano%20Estrat%c3%a9gico%20ANONA%20MADEIRA%20SITE%20SRAP.pptx
³ “Plano Estratégico para Agricultura
Biológica”
http://www.madeira.gov.pt//Portals/9/Users/014/14/14/PE%20AGRICULTURA%20BIOL%c3%93GICA%20SITE%20SRAP.pptx
8 comentários:
É tudo em cima do joelho, tudo para inglês ver e vilhão votar.
E a politica da fotografia
Nao há um projecto que seja aprovado em 2 anos
Continuem a ignorar a agricultura veremos se vale 2 % do pib nas próximas eleições
A diferença é que o anterior presidente sabia o valor da agricultura enquanto que o actual esta se marimbando e a prova esta a frente dos olhos nomeou amigos para congelar o sector
Bando de ingratos.
Então um powerpoint não é um plano estratégico?
Claro que é. Digo mais, hoje em dia são poucos os agricultores que vão para a terra sem projetor e tela.
Tal é a eficácia dos powerpoints da Agricultura que já nem é necessário usar a enxada: Coloca-se a tela amarrada na parede do poio, projeta-se lá o slide estratégico com um plantação de maracujás e toca a se deliciar com a paisagem.
Os técnicos estão no terreno é para alguma coisa, para dar formação em projetar na tela, na parede, na beira da cerca, no palheiro e mais.
Antigamente o que havia era uns homens que ajudavam a pulverizar pesticidas e tal - gente atrasada.
Não eram técnicos no terreno (by Humberto) - invisíveis!
Uma análise Swot sem prazo é mais flexível - pode ser projetável.
Também, produzir castanhas, peros e mel de abelhas são coisas do passado.
Modernizem-se,
!
Queria dizer: Seixas muito sibilino.
Um secretário que não percebe nada do assunto, de que é que estavam à espera. O diretor regional não pode fazer tudo.
E plano estratégico para a castanha, não há?
Comentador das 14.22
Não é desfazer por desfazer, mas penso que o salto a sério teria de ser com a imagem na tela do poio já em 3D. Para não perdermos tempo e dinheiro com um desnecessário estágio intermédio.
Sempre os intermediários a obstaculizar os circuitos da agricultura!
Muito bom, senhor Vitorino.
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