'BANDOS', 'PATAS RAPADAS' E 'GOLPISTAS'
HUMILHAM E EXPULSAM JARDIM DA POLÍTICA
Vaga da mudança circunscreve últimas tropas jardinistas às 'Costas de Baixo'; independentes, PS e PP arrasam laranjal; fenómenos CAFÔFO e 'Mudança' abatem bastião social-democrata do Funchal; ALBUQUERQUE analisa sexta-feira situação no PSD em conferência de imprensa
Cafôfo na euforia da brilhante vitória. (Foto H.S.) |
Todo o santo domingo, a chuva miúda largada por um céu de nuvens espessas e escuras caiu sobre os funchalenses como que a prenunciar o advento de um tempo novo. Um dia teria de ser. Foi este domingo.
Previa-se algumas semanas atrás que, na noite destas autárquicas 2013, não haveria na já fúnebre sede PSD, à Rua dos Netos, nem champanhe nem o 'Madeira em marcha' nem o 'quem não salta não é da Jota'. Que não haveria bandeiras nem cânticos fanáticos numa camioneta percorrendo a cidade carregadinha de militantes como o eléctrico de Sete Rios... com gritos anti-colonialistas à passagem pelo Palácio de São Lourenço.
Confirmadíssimo. A festa acabou há muito. Nesta noite de domingo, reinou um silêncio de morgue naquela casa onde o próprio diabo e as bruxas receiam entrar, de há tempos a esta parte.
Que domingo eleitoral!
Confirmadíssimo. A festa acabou há muito. Nesta noite de domingo, reinou um silêncio de morgue naquela casa onde o próprio diabo e as bruxas receiam entrar, de há tempos a esta parte.
Que domingo eleitoral!
A empatia de Cafôfo com as pessoas fez o milagre. |
Quanto à capital, o fenómeno 'Mudança'/Cafôfo prometera resultados nas urnas - e achávamos redutor pensar que chegava retirar a maioria absoluta ao PSD.
Santa Cruz também nos parecia um caso arrumado. Filipe Sousa e o movimento Juntos Pelo Povo caíram no goto do povo do concelho de Santa Cruz. Não nos saía da cabeça o que uma comerciante do Santo da Serra nos dissera havia meses acerca da popularidade natural dos rapazes da camisola verde.
O trabalho dos JPP recebeu um prémio inesperado de tão suculento. |
Guardado estava o bocado...
Agora, e com toda a franqueza, não previmos que 'guardado estava o bocado' para o eterno líder em tantos outros concelhos da Madeira. Confessamos: o sado-masoquismo revelado por este povo ao longo de mais de 30 anos parecia-nos doença incurável.
Não era.
O vento do Norte soprou docemente, mas a direito e sem hesitações. Teófilo é amigo do povo desde quando não pensava sequer entrar na política. |
José António Garcês e os Unidos por São Vicente, Teófilo Cunha e o PP em Santana, Filipe Menezes e o PS no Porto Santo, Ricardo Franco e o PS em Machico e Emanuel Câmara e o PS no Porto Moniz - que humilhação impuseram esses candidatos e esses partidos e movimentos, não aos adversários locais, mas ao chefe do regime que acaba de apanhar esta violenta machadada!
Alguém não percebeu que os porto-santenses não admitem que maltratem os filhos da terra. Ora, foram do Funchal para lá chamar 'tachista' e 'golpista' a Filipe Menezes... |
O povo fez uma última vontade a Jardim: não entregou 'o ouro ao bandido'. Chefe das Angústias tinha pedido. O eleitorado concedeu a graça e resolveu à sua maneira. Foi votar e escolheu sem a canga do costume.
É capaz de o povo não estar treinado para sequer ladrar como cachorro - como ofendeu Jardim, um dia, na Ribeira Brava. Mas mostrou uma personalidade forte que ainda não víramos a esta geração.
Nem Chão da Lagoa nem Tony Carreira nem carros do governo para votar. São passados os tempos do 'pão e circo'. Foi uma excelente resposta dos 'patas rapadas' e daqueles que, por se organizarem para democraticamente irem a eleições, receberam o rótulo de 'bandos' e 'golpistas'. Aí estão as coisas nos devidos lugares.
Custa largar o brinquedo, mas vai ter de ser. Falamos do grande responsável pela derrota laranja: chefe Jardim. |
Fez pena ver o eterno chefe laranja na noite eleitoral feito criança que não quer largar o brinquedo. Completamente alheado da realidade. Igual a ele próprio - e só a ele. A tentar justificar a humilhação sofrida com velhos argumentos que só não deram para rir porque... fazia pena.
Dizia o homem que perdeu - ele, pois claro, não candidatos obrigados a dar a cara por militância - dizia ele perante os jornalistas que perdeu por causa dos efeitos da situação nacional e das tentativas de destruição do PSD-M por dentro. Ora por que raio haveria de ser!
E os militantes social-democratas, em casa, a pensar no que fazer para evitar que Jardim destrua o resto do partido que ele começou a destruir há muito.
O homem parecia contentar-se com a vitória numas freguesias e nos concelhos popularmente conhecidos como das 'Costas de Baixo' - Câmara de Lobos, Ribeira Brava, Ponta do Sol e Calheta.
Já Bruno Pereira recebeu a derrota com humildade. Propondo-se tratar o futuro democraticamente. Colaborando, enquanto vereador, com o novo presidente, Paulo Cafôfo.
Bruno recebeu o veredicto popular com humildade. Tem muito tempo pela frente para voltar aos objectivos políticos. |
Mas é isso. Enquanto Jardim receber pelo menos um voto nas urnas, estrebuchará para não largar a cadeira de onde o povo o correu ontem.
Ele disse uma verdade: que as próximas semanas serão para dar largas à necessidade de um congresso extraordinário no PSD. Mas acrescentou uma ideia que pode ser mentira: ...Um congresso que não haverá.
Bom, se os social-democratas que pretendem abrir ao partido algumas possibilidades de sobrevivência não conseguirem dar o abanão que a estrondosa derrota de ontem impõe, tanto melhor para a Oposição.
É que a Oposição não tem pressa nenhuma. Quem esperou até aqui...
O vendaval da mudança soprou futuro este domingo no Funchal. PS, PTP, BE, PND, PAN e MPT, inteligentemente, esqueceram há meses quezílias entre partidos para dar o primeiro passo sem o qual se passaria o resto da vida a falar em missões impossíveis. Está dado o passo. Faz rir o mau agouro da ex-maioria de que os partidos da 'Mudança' começarão já hoje a brigar. Como se se tratasse de meninos que, antes de assumir esta responsabilidade, não pensassem que o dia seguinte exigiria mil cuidados e uma estratégia cirúrgica!
O Partido Socialista e o PP partiram à conquista de troféus e conquistaram-nos. Juntos pelo Povo de Santa Cruz e Unidos por São Vicente arrasaram a maioria... que já não é.
E há umas tais regionais em 2015...
As oposições, do ponto de vista autárquico, passaram para o poder e deixaram esse papel, de oposição, ao velho PSD. Houve mudança e a mudança já volta o leme para um objectivo ainda mais decisivo.
Se o PSD entende que, perante os novos ventos, deve continuar como até aqui, está no seu direito.
Julgamos é que, ao verem a vaga de mudança por toda a Madeira, os eleitores social-democratas das 'Costas de Baixo', e sem querermos pôr em causa o sentido do seu voto e as vitórias claras dos candidatos laranja, julgamos que esses eleitores padecem hoje de uma certa mágoa com possíveis efeitos em futuras eleições.
Por último, dirigimos os parabéns a quantos fizeram História este domingo no Funchal. O bastião central caiu, e agora...
Parabéns ao PS pelo grande resultado e as 3 câmaras.
Felicitamos o PP, que ganhou várias freguesias e, também feito histórico, arrancou a câmara de Santana ao PSD - para isso contando com o trabalho no terreno de Teófilo Cunha, a favor do povo, que começou, devemos dizê-lo, muito antes da sua entrada na política.
Santa Cruz e São Vicente: Filipe Sousa e José António Garcês que transmitam aos seus bravos soldados o nosso aplauso. Ganharam mesmo todas as freguesias?! Diachos!
Parabéns a Filipe Menezes no Porto Santo e a Ricardo Franco em Machico. Ao Emanuel do Porto Moniz - já não era sem tempo.
Não podemos ignorar as vitórias dos candidatos PSD em Câmara de Lobos, Pedro Coelho, na Ribeira Brava, Ricardo Nascimento, na Ponta do Sol, Rui Marques, e na Calheta, Carlos Teles. Excelentes resultados numa conjuntura extremamente adversa e que espelham a consideração que merecem por parte dos conterrâneos.
Mas, se o Leitor nos permite, vai daqui uma palavra de simpatia e encorajamento para todos quantos concorreram e calcorrearam montes e vales a contactar o povo - mesmo derrotados depois nas urnas. Sejam do PSD sejam dos outros partidos e movimentos, admiramos sobremaneira o seu trabalho em prol do poder local.
Não seríamos nós a disponibilizar tal dedicação, nem pouco mais ou menos.
Albuquerque com trabalho antecipado fala do PSD na sexta-feira
Que fará Miguel Albuquerque depois da hecatombe laranja? Jardim diz que não se demite, apesar da copiosa derrota ...
Miguel acaba de marcar conferência de imprensa para sexta-feira, em hora e local a designar. Até lá, precisa de pensar muito.
Miguel acaba de marcar conferência de imprensa para sexta-feira, em hora e local a designar. Até lá, precisa de pensar muito.
O presidente do Funchal, ainda por cima em hora de saída, tem duas hipóteses: assumir o trabalho antecipado que os resultados de domingo lhe sugerem; ou deixar cair o resto que está por cair no PSD, para disputar as eleições na altura estipulada, Dezembro de 2014.
Do ponto de vista da Oposição, é melhor que Albuquerque fique quieto. Se houver mexida no laranjal, a estratégia contrária terá de ser redefinida e redimensionada. Se continuar tudo como está, com Jardim a mandar... bom, com essas facilidades também nós.
RTP-M também ganhou
A cobertura das eleições feita pela RTP-M, desde as 3 da tarde até altas horas da noite, fica também para a história da televisão cá da terra. A informação moderna vive do directo. E o esquema montado, com resultados em tempo interessante e reacções por toda a Região, em cada local de festa ou pesar, certamente satisfez todos os telespectadores.
O painel que acompanhou a fase quente da noite - divulgação dos resultados - dificilmente poderia ter sido melhor escolhido. António Trindade, Violante Saramago de Matos, Ricardo Vieira e Francisco Santos estiveram inexcedíveis - pelas qualidades naturais, pela genuinidade e pela criatividade.
Gil Rosa apresentou-se com uma coordenação sóbria, intervindo a propósito, e tem ali um dia da sua carreira para recordar mais tarde. Assim como Tânia Spínola fez boa televisão, como é seu timbre, nos períodos que lhe couberam na programação da emissão.
Os repórteres em campo, a nosso ver, houveram-se a contento, mas temos de registar as intervenções de Helena Correia desde a Ponta do Sol, sempre com novidades e enquadramentos de cada momento eleitoral francamente agradáveis - um registo a segurar o telespectador com naturalidade, que é o que se pretende numa televisão de excelência.
Para toda a equipa da RTP-M, de Martim Santos e Miguel Cunha aos operacionais, o apreço do 'Fénix'. O trabalho deste 29 de Setembro é um marco para a história da casa e mostrou aos madeirenses que não só é importante ter a nossa televisão em força e independente, como ela nos é indispensável em absoluto. Que Lisboa saiba disso.