Alta Política
Guterres chegou a fazer beicinho e quase chorou. Biden deixou mesmo ver um fundo aquoso no olhar. O trágico atentado em Cabul ainda ecoava e a reacção dos grandes chefes do mundo era certamente sincera.
O efeito desse choro é que é igual ao das 'lágrimas de crocodilo'.
Os momentos patéticos, e em certa medida peripatéticos, enchem noticiários mas só evidenciam cada vez mais a hipocrisia que rege as relações internacionais, em que os grandes levam sempre a melhor, sobretudo nas contas da balança comercial.
De repente, a América percebeu que ninguém lhe passou mandato para ser polícia do mundo. Depois de 'cavar' algumas vezes dos teatros de guerra onde prometia instaurar as maravilhas ocidentais, desta vez o processo está a doer a sério.
Mas será que os experts da CIA não perceberam que o paradigma bélico mudou radicalmente? Podem muito bem jogar sujo recorrendo a acordos com os terroristas talibãs. E nem por isso, como se viu, há modo de eliminar as ondas de choque das bombas atrás de bombas.
Quanto a Guterres - e a todos os antecessores lá no trono -, as suas posições e apelos esganiçados valem zero. A organização serve aos tachos. Qual é o papel do manda-chuva das Nações Unidas? Nenhum, como aliás demonstrou o maluco do Trump.
Lá chegar aos microfones e falar aos soluços a respeito do ataque de horas antes, até eu faço. Condenar veementemente mais um acto terrorista, também sou capaz disso. Solidarizar-se com as famílias das vítimas, como ele faz, também eu. Pedir ajuda internacional urgente para estropiados e refugiados da guerra afegã, também se faz.
E depois?
Que resultados daquele monstro embandeirado que dá pelo nome de Nações Unidas?
A ONU está armadilhada de tal maneira que nem o Conselho de Segurança pode tomar uma decisão com consequências no terreno. Se a decisão for pró-ocidental, o esquizofrénico do Putin veta (ou deixa isso para o democrata chinês) e não se faz nada. Se se tratar de coisa que fosse beneficiar o Oriente, o Macron trata de a inviabilizar - ou o velhote Biden ou o desparafusado Johnson. E ficam todos muito contentes e de consciência tranquila, porque tentaram.
E as pessoas morrem no terreno, velhos, mulheres e crianças, enquanto os tipos vão discutindo a paz no mundo em hotéis cheios de lagosta, caviar e charutos.
Quando a situação se agudiza, mostram uma falsa operacionalidade enviando capacetes azuis praticamente indefesos que ficam na mira fácil dos terroristas dessas Áfricas e desses Médios Orientes.
Mais famílias a chorar.
Então como é que se acode a situações como esta de Cabul?
Nada percebo de estratégia militar, muito menos falando-se de conflitos com tais dimensões. Mas um exército internacional participado por todos os países e com decisões maioritárias, independentemente do agrado do Tio Sam ou do russo do karaté; em que não fosse preciso pedir instruções à OPEP e aos fabricantes de armamento; com soldados armados até aos dentes e não reduzidos a um chapeuzito azul para a fotografia; talvez com uma tropa internacional varrendo as zonas mais escabrosas do Globo se pusesse termo a determinados comportamentos massivamente assassinos.
Mas então e o poder soberano de cada país independente? Isso é só violar fronteiras?
Pois sim, aqueles a quem interessa a perpetuação das guerras argumentam desse modo. Não se deve invadir territórios contra a vontade dos respectivos governos. Que bom para os Idi Amins e 'colegas' africanos, para os Pinochets e Maos. Os chefes não aceitam interferências estrangeiras e o povo morre massacrado à vista do mundo.
Tudo uma hipocrisia.
Uma tropa justiceira mundial que actuasse primeiro e tratasse das burocracias de soberania depois, aí sim muita coisa iria mudar.
Ah, para que houvesse alguns resultados, seria preciso dar caça - para utilizar o termo de Bidden - àqueles engravatados que dirigem as guerras a partir de Las Vegas e de algumas ilhas no Pacífico.
PS - Aviso que dentro em pouco apagarei este texto. O Leitor entende-me, certamente. Se esta utopia se espalha, ainda me arranjam umas férias lá em cima. E com fundamento.
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