MONTE
DOCUMENTO INÉDITO
A INVESTIGAÇÃO CONTADA POR DENTRO
- O diário de Pedro Ginja
Logo depois do irreal que a dolorosa tragédia do Monte chegou a parecer, em Agosto de 2017, a população levou, resignada, com uma sequência de episódios cada um mais surreal do que o outro.
Nos momentos dramáticos em que ainda se 'desencarceravam' as vítimas para os salvamentos possíveis, o então Presidente da Câmara do Funchal inventava friamente argumentos para sacudir responsabilidades pessoais em relação à queda da árvore - cujo balanço daria 13 mortes e 50 feridos.
"Não foi um plátano, não foi um plátano, foi um carvalho", entusiasmou-se o edil com o álibi, como se a qualidade da árvore fatal pudesse ainda salvar alguém.
Seguiram-se atitudes, discursos e ofensas às famílias das vítimas e à inteligência do povo que se deu uma rápida desmobilização social, impensável em circunstâncias tais.
Quem mais falava nos primores do parlamento democrático fugiu à comissão - enquanto se punha de fora do processo apontando o dedo a colaboradores no município, acusando-os antecipadamente das culpas que o tribunal decidisse ter de aplicar.
À tragédia seguiram-se 3 ou 4 dias em que o MP não só permitiu como até estimulou uma brigada da Câmara - parte envolvida como suspeita - a vasculhar o local da tragédia. Mexendo, remexendo e dispondo de todas as provas e contraprovas para as trabalhar à vontade.
Com uma secção da PSP destacada para os deixar "trabalhar" à vontade.
Eram os peritos da Câmara e os contratados - com dinheiros públicos - a moldar a tragédia. MP e PJ na expectativa, "com tranquilidade". Como se estivessem de férias enquanto a raposa se internava na capoeira e a segurança da ourivesaria era entregue ao cadastrado.
Pois, na Justiça há aqueles turnos, a pessoa que lá trabalha defronta-se com tantas dificuldades!
É de desistir de esperar justiça quando há um suspeito que responde impunemente a dezenas e dezenas de itens com o 'não sei', 'não me recordo', 'desconheço', 'não faço ideia' - isto a respeito de colaboradores com os quais lidava diariamente.
E quando se esperaria punição a começar desde logo pelo desprezo à Justiça, ouve-se a inexplicável expressão "não acusado"!
É de desistir. Desde os especialistas que se sabem capazes de chegar à verdade ao povo leigo em questões de Botânica.
De desistir para os familiares das vítimas, que além da dor insarável continuam massacrados por um poder público que mal pagou os funerais das vítimas, quanto mais assistir com as indemnizações legais.
Quatro anos depois, os espíritos continuam chocados. Talvez seja conveniente saber como viu, sentiu e enfim viveu aqueles primeiros tempos de "investigação" - temos de utilizar o termo - que se seguiram ao 14-15 de Agosto de 2017.
O arboricultor Pedro Ginja, contratado pela CMF, elaborou um relatório técnico na forma de 'diário' que muita gente achará de útil leitura.
Da nossa parte, que desistimos de sequer perceber as peripécias mais comezinhas do processo, deixamos o texto plasmado no Fénix para memória futura.
A ver se daqui por umas décadas, com as tecnologias então evoluídas a níveis inimagináveis para os atrasados que somos hoje, pode ser que então entendam aquilo que nos escapa agora.
O trabalho que se segue é, pois, de Pedro Jorge Ginjas, redigido para efeitos do processo que ainda parece longe do fim.
MEMÓRIA DESCRITIVA
E IDENTIFICAÇÃO DE ENTIDADES
Pedro Jorge Ginja
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