Alta Política
Quem ouviu o chefe socialista madeirense falar em Portimão, e se acaso não adormeceu como aconteceu a 90% dos congressistas, reparou que o Profe utilizou o seu raciocínio do costume, a exigir análise profunda. Só que não há tempo.
Praticamente na mesma frase, acusou o governo madeirense de lidar em conflito permanente com o homólogo nacional e de viver de mão estendida para Lisboa.
Pois, como é que se consegue adoptar as duas atitudes em simultâneo, também me interrogo - sempre de mão fechada e sempre de mão aberta. O Leitor que lhe pergunte a ele.
Aliás, Cafofo é o mesmo que acusa Albuquerque de gritar incessantemente com o governo central e acusa o mesmo Albuquerque de ignorar teimosamente Lisboa com o habitual silêncio anti-diálogo.
O homem das Angústias afinal grita sempre ou está sempre calado?
Costa só levantou um pouco a sobrancelha quando Cafofo se ufanava da vitória dele, Costa, com 94% do congresso. Porque assim, insinuava o imprevisível/previsível Cafofo, Lisboa continua a ser amiga da Madeira, mandando vacinas, bazucas, autorizações para empréstimos... E o nosso primeiro a falar para a sua alva trunfa: o rapaz está a falar de quem, de quê, de quando?
Nas suas queixinhas que desta vez meteram tiros de pólvora seca em vez de murros na mesa, Profe denunciou o poder absolutista na Madeira há décadas. Por um triz, calculo, não informou que tentou editar um livro escrito pelo principal rei absoluto dessas décadas de "democracia áspera".
Alguns congressistas ouviram uma aqui e outra ali e gostaram das flagrantes contradições do nosso Profe, em linha perfeita com um congresso de que não se perceberia a utilidade se não fosse o primeiro-ministro aparecer na magna reunião partidária com promessas governamentais de bacalhau a pataco principalmente para a 'malta' nova - os que já têm idade de votar em 26 de Setembro próximo.
O congresso havia criado tanta expectativa que o seu tema nuclear não era tema nenhum.
Antes, durante e depois, falou-se preferencialmente da sucessão de António Costa. Ou seja, o homem ainda não tinha sido eleito para o mandato a sair do congresso e já estavam 50 microfones com pergunta da sucessão engatilhada à frente dos notáveis: quem o vai substituir em 2023?
O nível da cegada subiu tanto, com Mariana Vieira da Silva e Marta Temido atiradas para o banco dos convocados - ao lado dos, aqui sim, credíveis Medina, Pedro Nuno e Ana Catarina - que cheguei a admitir que os altos pensamentos de Cafofo o levariam também ao grupo dos delfins do Sargento.
E por que não, perante o desnorte do partido que, sozinho no mercado, compreensivelmente nem sabe o que fazer.
Calcule-se que até uma peregrina condicionante foi lançada para a arena: não se esqueçam de que, com quase uma dezena de secretários-gerais no Rato, não figura no quadro de honra uma única mulher.
Estamos a perceber.
Daqui a uns anos, somos capazes de ouvir: aquela senhora é líder do PS por ser mulher. Como se vê nas eleições para outras instâncias. Deputada? Pois, está lá sentada graças à cota das mulheres...
Para uma equipa de cinco elementos, não pode haver 5 homens, por causa das cotas.
E por que raio, senhores do PS, não pode haver um governo com uma primeira-ministra coadjuvada por uma maioria de mulheres no Ministério se as escolhidas forem mais competentes do que os homens coevos?
Trata-se de mostrar que o partido é moderno, inclusivo, cavaleiro andante das mulheres?
Angela Merkel precisou da ajuda de alguém para trabalhar pelo seu País ou a sua competência impôs-se? E Thatcher?
Discussão cavernosa.
Com uma componente incomodativa: as mulheres admitem, elas mesmas, a vergonhosa situação das cotas. Quando deviam exigir justiça, meritocracia.
É politicamente correcto, mas falacioso, o mito da igualdade entre mulheres e homens. Há diferenças, que diabo! A começar pelas mais apuradas sensatez, credibilidade e visão política no sexo feminino. Mas as mulheres também têm defeitos.
Poucas organizações feministas, no meio de tantas que se manifestam quando se fala de cotas para listas partidárias eleitorais, apareceram para ajudar a criar onda mundial na defesa das ameaçadas e desrespeitadíssimas mulheres afegãs à mercê dos facínoras talibãs de sabre afiado em Cabul.
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