O que interessa é fazer obra, se possível que custe uns milhões e o problema, de certeza absoluta, que se vai resolvendo, porque vão “injectando dinheiro” na economia. Seja aeroporto ou tgv, estrada, marina, centro cívico ou ponte, o que importa é anunciar a desejada e ansiada obra
Por EDUARDO ABREU
Já sei, estamos todos fartos da crise e de se falar em
crise. Até parece que quanto mais tocamos no termo, mais se agrava a dita cuja.
Dizem-nos que há que ter paciência, que devemos aguardar mais uns tempos,
porque isto passa. É como a constipação, vai tomando uns chazinhos e umas
ponchas, que a coisa vai lá. Assim mesmo, nem é preciso tomar medidas;
mandem-se às malvas as linhas de crédito, não é necessário colocar a banca na
ordem, quais incentivos fiscais qual carapuça, nada de incentivar o bom investimento
público, a iniciativa privada, a recuperação e revitalização empresarial, e
quem quiser trabalhar deverá ser severamente punido. Aliás, essa preocupação,
quase enfadonha, com o emprego e o número de desempregados não interessa coisa
nenhuma, porque até há o subsídio de desemprego que corrige todas as
assimetrias e ainda poupa uns tostões aos malandros dos empresários. Deixem-se
de tretas porque não podemos perder tempo com assuntos menores e que não
interessam a ninguém. Há para aí uma teoria que defende que o que interessa é
fazer investimento público, mesmo que inventado (e não necessitado ou
pertinente, como estabelece a Contabilidade Pública), se forem públicos tanto
melhor, não sendo relevante se têm ou não retorno, (o tal R.O.I., mas nada tem
a ver com ratos, muito menos de cinco unhas). Imaginem que até se dizem
Keynesianos! (ai se Keynes sabe disto). O que interessa é fazer obra, se
possível que custe uns milhões e o problema, de certeza absoluta, que se vai
resolvendo, porque vão “injectando dinheiro” na economia. Seja aeroporto ou
tgv, estrada, marina, centro cívico ou ponte, o que importa é anunciar a
desejada e ansiada obra. Depois de estar pronta, então fazem-se os estudos,
para averiguar da sua viabilidade e, claro está, avaliar o impacte ambiental.
Mas só no fim, não vá o diabo tecê-las e aparecerem resultados surpreendentes,
que não agradem aos seus mentores.
Como diria Albert Einstein, “em momentos de crise só a imaginação é mais
importante do que o conhecimento”.
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