Choramingada
Gil Canha
Há dias, escrevi um artigo sobre o estranho facto de o Diário de Notícias (DN) nunca publicar na sua edição impressa os comunicados da associação ambientalista Cosmos, sobre a retirada/roubo de inertes das nossas linhas de água e orla costeira, nomeadamente da Ribeira da Metade, no Faial, Ribeira da Ponta do Sol, Ribeira dos Socorridos, Ribeira da Madalena do Mar e da faixa costeira da mesma freguesia. Também referi que este súbito interesse do DN pelo tal furto de inertes tinha a ver com a recente “guerra” entre o DN (Sousas e Blandy) e o Jornal da Madeira (Avelino).
Ora, esta opinião levantou uma “choramingada” em certos círculos do DN, como se eu tivesse dito alguma mentira. Felizmente, conheço há anos o papel dúbio e ambíguo do Diário de Notícias no tratamento da informação, daquilo que deve e aquilo que não deve ser publicado; do “timing” para soltar o jornalista e o “timing” para prender o jornalista; do aperto que deve ser dado, cirurgicamente e subtilmente, para certas autarquias ou organismos públicos abrirem os cordões-à-bolsa, e financiarem encartes e outros “chouriços”, vitais para a sobrevivência financeira da publicação. Aliás, já escrevi opinião no DN e fui censurado e “despedido”, porque não me retratei nem me verguei; já tive direito a primeiras páginas do DN, onde me chamaram mentiroso, porque acusei o DN de receber grossas maquias da Câmara Municipal do Funchal, para fazerem propaganda elogiosa ao sr. Cafofo (muita dela paga através da E.M. Frente-Mar). Até fui a tribunal responder por causa disso. Por isso, não venham os senhores do DN lamentarem-se como "virgens ofendidas", que o DN não é nenhuma “púdica donzela”, nem é uma publicação totalmente independente nem imaculada, como muitos tentam fazer crer. Também tem o seu “dark side”, como têm a maioria dos jornais que são suportados por grupos económicos.
Mas, apesar de tudo, não tenho uma visão maniqueísta do DN. Se me perguntarem se o Diário de Notícias do Funchal foi importante para a Madeira, eu também digo que sim! Se me perguntarem se o DN tem tido um papel relevante para o esclarecimento, informação e defesa do interesse público na região, eu também digo que sim! Se me perguntarem se o DN tem bons jornalistas, eu também digo que sim! Se me perguntarem se o DN foi vital para acabar com certos vícios, abusos, e injustiças praticados por gente sem escrúpulos ao longo da sua centenária existência, eu também digo que sim! Se me perguntarem se o DN tem garantindo nestes últimos tempos a sua imparcialidade, independência, e rigor informativo, eu também digo que não! E isso preocupa-me, porque o tal insustentável equilíbrio que sempre existiu editorialmente entre o correto e o despudorado, começa agora a pender inexoravelmente para o tal “dark side” do jornalismo por encomenda.
E esta visão que tenho sobre o DN, já tinha o Capitão José Pestana, oficial censor da Direção Geral do Serviço de Censura à Imprensa (na Ditadura) quando no seu relatório de 10 de Janeiro de 1930, e após redigir palavras elogiosas ao Diário no seu preâmbulo, escreveu o seguinte: “O Diário de Notícias defende os interesses da casa comercial Blandy Brothers & Cª Ltd, de que é propriedade. Manteve-se numa correção digna de nota ao longo do ano, mas, no mês de Dezembro, publicou uma série de artigos intitulados – Serenamente – nos quais, sob o pretexto de apreciação e crítica aos actos administrativos da Câmara Municipal, foi de tal modo violento, que a censura teve de intervir. O motivo daquelas apreciações e da sua pretendida violência, foi a aplicação, pela respetiva Comissão Administrativa, duma taxa legal sobre os canos existentes no Funchal, taxa que onera a casa Blandy, porque esta tem um largo negócio de abastecimento de água potável ao domicílio”, e adianta, que foi obrigado a meter o jornal nos eixos, já que o “nítido” objetivo do DN era - “a substituição” dos responsáveis autárquicos, e conclui: “a Censura fez terminar definitivamente essa tendenciosa e improfícua campanha. Os referidos artigos não foram assinados, cabendo, portanto, a sua responsabilidade ao respetivo diretor, Feliciano Soares”.
Como podem ver, o DN sempre teve os seus pecadilhos como também teve as suas coisas meritórias. Na altura, era o negócio dos canos; hoje, sabendo-se do universo empresarial dos atuais sócios, é de prever que os seus interesses abarquem negócios muito mais vastos que simples canalizações em ferro.
10 comentários:
Nem o Gil Canha é uma púdica donzela!
Imparcialidade e independência, sim senhor. Não só para o DN.
Bem desmascarado Gil num artigo muito assertivo sobre alegada independência do dito cujo.
Nos dias que correm virgens são sinónimo de raro, por isso, não vou na conversa que a linha editorial do D.N. seja fruto de uma Divina Concepção Imaculada de defesa de um jornalismo ético e responsável, bem pelo contrario de existe uma deriva populista e "bottom lobbying" por certos grupos...
Ou seja, como se diz cá na Tabanca " burro manso Mama a sua e Mama a alheia"... venha mais pedra que lá para os lados de Santa Cruz vai nascer mais um menino....
O senhor padre é que pensa que engana burros com as suas homilias dominicais! Quem não conhece a criatura de Deus que o compre! A independência do diário está proporcionalmente inversa com a dimensão dos bolsos dos seus proprietários. Se os bolsos forem grandes a independência diminui e vice-versa!
Bem escrito mas sabe-se que não é o fugitivo que escreve. Não tem "massa cinzenta" para tal.
Nem perca tempo toda a gente conhece a ronha do diário e do seu director! Nem a vilhoada já compra aquela porcaria. Se não fosse o café em troca do jornal, já nem se vendiam diários..,
Os blandy se acham os mais ambientalistas mas foram eles responsáveis pelo corte massivo de árvores nas serras do Funchal para vender com lucros altos como carvão aos barcos que passavam na Madeira. Mas este passado glorioso ninguém fala
O meu amigo Gil tem razão, apesar do papel maquiavélico do Diário ele sempre levantou o véu à muita coisa.Felizmente até hoje o balanço é positivo pr´a frente é que são elas, com os Sousas a mandarem, é o fim!
Os engleses sempre tiveram criados e lacaios…
Esses não gostam do Sr Gil Canha
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