Sob o signo da II Divisão

Debate do Programa de Governo já deu saudades de Carlos Costa, Gil Canha, Raquel Coelho, Roberto Almada, Jaime Leandro, Victor Freitas, Mário Pereira, Lopes da Fonseca, Rui Barreto, José Manuel Rodrigues... Uns já lá não estão, outros aparecem sentados em lugares errados

Ou as novidades do PS-M se revelam como primeiras linhas ou o Presidente parlamentar Rodrigues será um promotor de velórios no vazio desta legislatura.

O Nacional debate-se no campeonato da II Divisão em luta por tempos melhores. Os adeptos do Marítimo rezam para repelir a temida queda no escalão secundário. E agora é o novo parlamento a mostrar plantel e desempenho de II Divisão, para sermos simpáticos e não os mandarmos para o 'regional'.

O primeiro debate da nova temporada foi a reedição dos debates que televimos no longo ano eleitoral: saúde para aqui, hospital para ali, ferry para acolá, molhe da Pontinha para acoli, pobreza para lá e 'vira que trambulha'.

Foi um debate que pouco respeitou a ordem do dia, que agendara o Programa de Governo.

Uma sessão em que os ouvintes sabiam de cor as perguntas da oposição e salteado as respostas do governo.

Se até aqui o panorama nos convidava a dormitar à sombra do velório, faltou ainda por cima o vigor que na legislatura anterior deu um pouco de sentido à função parlamentar.

Para começar, as 'carraças' do CDS - Lopes da Fonseca e Mário Pereira - agora disparam ao contrário, do lado do governo contra a oposição.

Rui Barreto também se passou para o outro lado, no governo. Zé Manel está na presidência parlamentar e faz falta na bancada direitista.

Miguel Albuquerque pairou no primeiro teste sem os sobressaltos do mandato anterior. 

Gil Canha já lá não está. 

Raquel Coelho idem. 

Na bancada verdinha, falta clamorosamente o tribuno Carlos Costa. O discurso de Élvio Sousa está anémico.

Ricardo Lume acusa muito a falta de Sílvia Vasconcelos.

O vazio do Bloco é desolador. Quem se lembra dos tempos de Paulo Martins e de Roberto Almada, e mesmo do moderno Paulino Ascenção!

Mas o pior ainda é o caso do Partido Socialista. Victr Freitas e Jaime Leandro não têm sucessores à altura - pelo menos para já. Victor terá de se esquecer da vice-presidência, porque o seu capital de conhecimentos e de argumentação não o pode dispensar a bancada.

Paulo Cafofo e Miguel Iglésias não perderam 5 minutos num simples trabalho de casa que lhes permitisse um reflexo de brilharete no debate de abertura. Como dizia o povo, 'é sempre a mesma melodia, Salazar e a sua democracia'.

O partido com mais responsabilidades na oposição não obriga os opinadores a perder tempo com análises. Tudo déjà vu, desculpem o mau jeito.

A grande novidade que o GP do PS apresentou foi a ordem para aplaudir toda e qualquer intervenção de um camarada. Como nos talk shows americanos em que os espectadores (pagos) obedecem ao sinal 'risos' e 'aplausos', para animar o programa. Então, um deputado pode fazer a pergunta mais técnica ou mais banal - que no final recebe uns aplausos imbecis. Ridículo, LPM!

Ainda por cima, o PSD não fez a coisa por menos e incluiu na comissão de recepção ao novo grupo do PS os chefões da sua artilharia pesada, Jaime Filipe Ramos e Carlos Rodrigues. Com uns lances de livre-directo a cargo de Rubina Leal. 
Iglésias e Cafofo saíram da Assembleia visivelmente atordoados, tal a crueldade dos seus carrascos.
Não se esperava muito melhor da inexperiência dos dois novos mandões do PS. Mas tão pouco também não.

Moral da história: Miguel Albuquerque passeou no primeiro embate a seu bel-prazer, chegando a dizer que, quanto a viagens, não é muito certo na lua. Sai quando quer e lhe apetece. O que já se sabia. Depois de hoje, o programa de cruzeiros vai apertar para o nosso tranquilo Blue. 

A esperança para uma legislatura mais equilibrada reside no seio do grupo socialista. É decisivo que os valores que por lá existam - têm de existir - apareçam na luta e puxem o partido para cima.
Para tal é preciso 'coragem para mudar' a filosofia do partido. Não é boa ideia continuar a apostar nos derrotados como montra socialista. Cheira a derrota - acreditem - ver a eurodeputada Cerdas, derrotada em Maio, em visitas por aí acompanhada pelos derrotadíssimos Cafofo e Câmara. É péssima ideia reconhecer que o PS não tem para os 4 anos de oposição parlamentar melhor cartaz do que os perdedores Iglésias e Cafofo.
Mas sou eu a dizer.

É que ao Laranjal interessa o tipo de campeonato que arrancou esta manhã, de II Divisão. Dá para passear 4 anos.
Enquanto o Nacional vai a caminho da I Divisão e o Marítimo não desce de certeza, na política temos treinadores a prazo.

Veja-se o de hoje.

Depois de tantos anos nestas andanças, não me lembro de um Presidente da Assembleia, com a sessão a uma hora do final previsto, dar por encerrado o debate de um programa de governo, por falta de dúvidas dos deputados.

Ou fizeram mal as contas e os tempos esgotaram-se antes da hora?
Por este andar, haverá debates sobre o estado da Região que terminarão a tempo de os deputados irem à lota, que faz as arrematações de madrugada.