DESAFIO
Herança de Eduardo Lourenço
para os políticos da Madeira
Luís Calisto
Os políticos madeirenses são pouco dados a pensar. Se fossem de tentar a reflexão, a lógica, a inovação, não andariam há anos a dizer as mesmas coisas.
Embora disfarcem melhor, os políticos da República também estão manietados pela "lei do menor esforço". Raríssimos oásis refrescam os partidos nacionais, em matéria de criatividade e credibilidade.
Para poupar neurónios, os esquerdistas só admitem na Esquerda e nas prateleiras das suas livrarias os intelectuais que papagueiam montes de palavras de ordem sobre a "luta de classes" e o "grande capital". Mutatis mutandis, os da Direita atiram para o museu do esquecimento os intelectuais de esquerda pela boa razão de serem "comunas radicais", adeptos do marxismo-leninismo-maoismo. Quem não se lembra do "Evangelho" de Saramago censurado pelo subsecretário da Cultura cavaquista sr. Sousa Lara, personagem aliás condecorada mais tarde pelo Presidente da República - Cavaco Silva, como não podia deixar de ser!
O valor do trabalho de cada um, enquanto obra material e imaterial, não conta para nada.
Então vai agora um militante da nova vaga direitista ler o 'súcia' António Barreto?
Vai um democrata de esquerda, defensor acre dos trabalhadores explorados, deixar conspurcar a mente com livros do ministro de Salazar que foi Adriano Moreira?
Ora, o que não dá jeito é penetrar nas ideias dos pensadores, avaliá-las, pesquisar teorias em todos os quadrantes da política para um conhecimento abrangente. E finalmente, com a demais aprendizagem da vida, como diz Popper, criar ideias pessoais e traçar caminho pela própria cabeça.
O 'pensador dos pensadores' Eduardo Lourenço acaba de partir, quase aos 100 anos. Além da sua exaustiva produção na Poesia, deixa-nos trabalhos absolutamente merecedores de atenção no domínio da filosofia.
A propósito da longevidade do poder político vigente na Madeira, atrevemo-nos a sugerir aos (eternos) émulos do Laranjal que leiam o livrinho com ensaios e crónicas de Eduardo Lourenço "A Esquerda na Encruzilhada ou Fora da História?"
O espectro político europeu, Portugal e Região incluídos, dá a sensação de resvalar para a direita ultramontana como quem pisa areias movediças. Não é novidade para ninguém. E então? Hora de trabalhar?
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