OPINIÃO
Luís Calisto
Políticos
a discutir orçamentos e piddares
SEMPRE A DESCER
No encerramento do debate orçamental, sexta-feira, Paulo Cafofo queixou-se da monotonia da política executiva regional.
Com razão, relevou que os problemas regionais vão subsistindo orçamento após orçamento, governo após governo, promessas após promessas.
Mas a própria semana de discussão de orçamentos e piddares não soou além do anestesiante monocordo grego, apesar do trabalho de casa da oposição, que elaborou mais de duas centenas de propostas sabendo que as esperava o caixote do lixo. As 8 excepções não contam.
Rememorando a estratégia dos partidos participantes na récita (que falta fazem naquele templo Roberto Almada, Gil Canha, Raquel Coelho, Dionísio Andrade, João Paulo Marques, Jaime Leandro), temos que o palavreado pareceu saído das gravações de anos anteriores.
Ricardo Lume agarrou-se à lengalenga PC do orçamento que explora os trabalhadores em benefício do grande capital.
Élvio de Sousa carregou no "orçamento despesista", expressão decalcada do ano passado.
Iglésias e comparsas socialistas ainda não desengataram da "desilusão" que aplicam aos congressos laranja, orçamentos do Governo Regional e momentos afins. Como se, já agora, os socialistas rejubilassem caso a formação rival elaborasse um orçamento bom. Ora, isso é que seria uma desilusão, porque lhes roubaria votos, a eles, socialistas.
Quanto ao CDS, não precisa de mnemónicas para elogiar o parceiro de coligação, que diabolizava até há bem pouco tempo.
E o PSD? Claro, tratou de "encher chouriço" até à votação. Como compete aos partidos de governo, assuma-se. O poder não fugiria de modo nenhum. Miguel Albuquerque e seus sequazes executivos até têm a seu favor, desta vez, o terrível '19' que imobiliza e apavora o povo.
O poder na Madeira faz lembrar máquinas e grupos profissionais - como polícias, tribunais, advogados e afins - que sem a ocorrência de roubos, homicídios e outros crimes não teriam um décimo da importância que têm. Veja-se como ganharam nas urnas os presidentes de governo regional, até agora, à custa de enxurradas e incêndios particularmente penalizadores para a população insular!
Para quem não se lembra dos meetings de Jardim debaixo de relâmpagos e trovões ou das labaredas reflectidas no colete de Albuquerque, vejamos o que se tem passado nos últimos tempos. O iminente desmoronamento do PSD-M provocado pela velha guarda como revindicta contra os "renovadinhos" pós-jardinismo foi parcialmente atenuado pela chamada de Pedro Calado ao governo. Mas só o combate ao covid veio mesmo evitar o colapso do ciclo Albuquerque. De facto, ninguém esperava que os autores de tantas calinadas políticas e governativas em 4 ou 5 anos viessem a mostrar bom serviço no período dramático que a Região atravessa, e sem apoios externos.
O deputado Cafofo, líder do PS, denunciou muito bem a melopeia da política regional, com os mesmos problemas por resolver orçamento após orçamento. Mas ele próprio, no discurso final, esteve uniforme, cansativo, amarrado a lugares-comuns do tempo da Maria da Fonte.
Ao mesmo tempo, os outros partidos da oposição propõem para o Orçamento benefícios e mais benefícios sem explicar como equilibrar os devaneios com a coluna das receitas. Pelo que é facílimo para Calado argumentar contra as propostas opositoras.
Cafofo não aprende com a experiência. Depois do debate orçamental em que nada de novo apresentou - nem que fosse para contrastar com os matacões trogloditas do Laranjal -, o chefe do PS apareceu à porta da "Caixa de Previdência" falando ao repórter de imagem da RTP como se fosse enfermeiro das vacinas anti-19. Perguntou como vai ser a selecção dos vacináveis e reiterou a postura pidesca em voga na Praça Amarela de denunciar, acusar, intrigar, conspirar.
Que foi Élvio Jesus fazer para o PS-M?
Quanto à abstenção no voto ao orçamento e piddar, também me abstenho de comentar. Quando o líder socialista afirma discordar do Orçamento mas que por "sentido de responsabilidade" não vota contra, aceitando que a sua posição sobre o dito é irresponsável, que é que um comentador pode dizer?!
Só mais isto: os Socialistas e os Juntos, unidos na abstenção, vão ter que ouvir o ano inteiro: "Por que criticam se não votaram contra?"
Em vésperas de Natal, nem o Papai Noel aparece com um pacote de ideias para iluminar esta classe política.
Contra o que se esperava, foi o truculento social-democrata Carlos Rodrigues a optar, no discurso final da sua bancada, pelo caminho do pensamento a bem do futuro da Madeira, em vez de mais um ataque à oposição e à Lisboa socialista.
Não vamos dizer que o deputado foi sincero ou que se tratou de mera dialéctica. Mas seria bom que os líderes de formações políticas regressassem das parcas comemorações natalícias decididos a usar mais o pensamento. É um apelo que bastas vezes temos aqui deixado. Veja-se a rubrica "Pensar Alto": "pensar alto" trocando impressões com outrém e "pensar alto" no sentido da elevação do pensamento.
Mas isso!
Valha-nos que ao nosso vizinho também morreram 10 ovelhas, como na conhecida piada.
Na sua "Opinião" desta semana (semanário "Sol"), Judite de Sousa lamenta o panorama nacional, sintetizado no título: "Hoje sobram os líderes mas faltam os estadistas".
5 comentários:
Tirando uma ou outra excepção, a oposição foi de uma pobreza franciscana.
Eu até me pergunto como é que, com uma oposição tão fraca, o governo consegue ser tão aselha.
Será defeito, ou feitio?
É só um à parte, cque haja bom senso é-o fogo do fim do ano, seja distribuído por toda a Ilha e assim, estrangeiros e residentes possam disfrutar da passagem de ano nas suas casas, em família e em segurança.
Que saudades de ver a Coelhinha 😍
Chutaste bem calisto
Ainda marcas golos fora da grande área.
Quem escreve assim não é gago. Já tínhamos saudades deste teu cantinho.
Será que albuquerque manda diariamente o medeiros ler o teu blog para lhe passar as notícias em vez de dar banho e pentear o cachorro?
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