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sábado, 12 de dezembro de 2020

 

OPINIÃO



Luís Calisto                                                                                          





MULHER, PORTUGUESA, MINISTRA


"A ministra do covid chorou", disse-me hoje de manhãzinha o empregado de um dos cafés que frequento na Baixa do Funchal. Para concluir com ironia: "Depois de tantas asneiras, tenho tanta pena dela!..."

Também vi pela TV o 'baque' de Marta Temido. A ministra discursava na cerimónia de aniversário do Instituto Ricardo Jorge e referia-se ao esforço de quantos combatem a pandemia da moda.

O que me admirou na ocasião foi que a explosão emotiva de Marta só agora tivesse acontecido.

Depois de tantos meses de pressão ao minuto, 24 horas sobre 24, numa guerra traiçoeira com tantas frentes de batalha - e diariamente alvo de críticas impiedosas como se a matéria fosse vulgar e simples -, o arrebatamento não podia tardar.

Marta Temido é mulher, com virtudes, defeitos e os sentimentos do ser humano. É portuguesa amante da Pátria como todos nós, os 10 milhões. É ministra da Saúde porque o primeiro-ministro lhe encontrou qualidades profissionais e saber para integrar o governo da República naquela pasta - logo ela não deve o cargo às quotas que humilham outras mulheres valorosas neste País.

A ministra enfrenta diariamente obstáculos na Saúde em geral e no combate ao '19' em especial. Uma das críticas justas tem a ver com o número de mortos e infectados em crescendo preocupante.

Outra crítica decorre dos avanços e recuos do Ministério quanto às medidas impostas aos cidadãos. Confina-se e desconfina-se como quem muda de camisa. Fala-se da importância da máscara e depois diz-se que a máscara até pode ser prejudicial. E outras.

Mas a ministra lá está todos os dias a dar a cara diante dos Portugueses - tentando às vezes justificar o injustificável, mas sempre no desejo de elevar o moral da Nação.

Certos críticos parecem querer dizer que Marta Temido pegou num sistema de Saúde perfeito deitando-o a perder por conta da ninharia do covid 19! 

Quanto às contradições da máscara ou não-máscara, do fecho de restaurantes às 13 ou às 22 horas, ninguém se lembra já que a epidemia surgiu do nada. Uma situação nova que apanhou os responsáveis de surpresa e naturalmente impreparados para tal empreitada.


Outra mulher, Graça Freitas, Directora-geral de Saúde, também passou meses a trabalhar e a enfrentar as câmaras com pontos da situação e instruções para combater o surto fatal. Do mesmo modo, foi recebendo críticas, justas e injustas. Até que ela própria testou positivo. 

Alguém lhe agradeceu o esforço e a coragem? Não. A frase mais ouvida e lida foi: que a Senhora aproveite a 'baixa' e se retire de vez.

Bem: Marta e Graça não descobriram a poção mágica para salvar o País da doença mortífera. Mas deram tudo quanto tinham no desempenho da missão. Se alguém acha que poderia fazer melhor, por que não avança de projecto em punho? Se alguém acredita na melhoria de resultados por simples escolha de pessoas certas para os lugares em questão, é criminoso que não indique urgentemente onde se encontram essas pessoas milagreiras.


A ex-ministra da AI Constança Urbano de Sousa e Cristina Gatões, ex-SEF, embora tardiamente, não tiveram outro caminho senão demitir-se. A primeira por causa dos incêndios, a segunda pela morte do imigrante ucraniano. Mas a lista de 'descartáveis' é bem mais longa. Só não é levada em conta porque atingiria ministros, primeiros-ministros, chefes de Belém, oposicionistas e demais cambada de hipócritas que por aí pululam. 

Alguns têm o dever de aprender com Jorge Coelho, que não pensou duas vezes logo após a tragédia de Entre-os-Rios.


Marta Temido e Graça Freitas não descobriram a fórmula da poção milagrosa. Mas, como português, agradeço-lhes vivamente o empenho e a pujança que conseguiram reunir no seu combate pessoal e profissional à temível situação epidemiológica que ameaça e mata portugueses. E quero que continuem a desenvolver o seu heróico e competente labor - só com paralelo nos médicos, enfermeiros e mais pessoal da Saúde. Façam-no até ao momento mágico: aquele em que aparecerão, para as substituir, os sábios apontados pelos "palpitadeiros" e pelos "especialistas de tudo e de nada", de que falavam António Jorge Pinto e Juvenal Xavier aqui no Fénix.

O tal empregado que esta manhã me falou desprendidamente das lágrimas da ministra é uma extensão dos "palpitadeiros", "especialistas de tudo e de nada" e comentadores de televisão necessitados de audiências. 

Marta Temido e Graça Freitas devem saber a que povo estão a oferecer anos e anos de inglório brio profissional - e de vida.



Graça Freitas, Directora-geral de Saúde

1 comentário:

Manuela_a_Lusa disse...

Parece que todos concordam com tuas palavras. Já dizia o jornalista Pedro Bial que notícia boa não dá página.