OPINIÃO
ANTÓNIO JORGE PINTO
A PANDEMIA DA (IN)SEGURANÇA
Sei que o
assunto não está agora na famigerada “agenda do dia”. Mas, pressinto, não tarda
nada, virá a terreiro, soprando vendavais informativos, com desculpas e
justificações que nada resolvem. Falo da segurança, ou melhor, da falta dela, no
Funchal, onde é mais presente, mas na realidade não há concelho que escape aos
“amigos do alheio”, parafraseando o saudoso compincha das lides jornalística, o
“Ribeirinho” dos Casos do Dia, do DN.
Dizem que “o que não nos mata, fortalece-nos”. Mas, realmente, acho que muito boa gente anda encavalitada na Covid-19, a tentar salvar-se de problemas e incompetências que vinham de trás e que não têm nada a ver com o maldito vírus.
Há três/quatro
meses, o problema do vandalismo, da criminalidade e da insegurança quase que
ombreava com a Covid-19 no ranking informativo regional.
Nos
primeiros 10 meses deste ano “a criminalidade geral reduziu 8,5%”, lia-se nos
jornais, citando o comandante regional da PSP, após uma Audição Parlamentar na
“Casa da Democracia”, no dia 3 de novembro deste ano.
Clarinho
como água. Contas simples, os primeiros 10 meses deste ano atiram-nos para
janeiro. A 18 de março entramos em “estado de emergência”, confinados, proibidos
de sair de casa. Depois da “prisão compulsiva”, alívios e restrições, a cidade
nunca mais foi a mesma, ficou mais morta do que já era, sem turismo, lojas às
moscas ou encerradas.
Com este
cenário negro para a economia e para a nossa vida quotidiana comum, que diacho!,
não é preciso um curso superior para depressa se chegar à conclusão que
naqueles 10 meses, os “amigos do alheio” ficaram sem trabalho? Claro que a
cidade ficou sem assaltantes e sem gente para ser assaltada, logo, era o que
mais faltava a criminalidade não dar um tombo.
Com a ajuda
de uma lupa passa-se a “pente fino” as declarações do comandante da PSP e,
afinal, não é bem assim. “Não há um aumento da criminalidade, há, de facto, uma
redução significativa da criminalidade denunciada”, acrescentou.
Ah, pois! A
comunicação tem os seus segredos, se uma pessoa não lê com olhos de ler, trama-se.
Afinal “há uma redução significativa da criminalidade denunciada” e não da
criminalidade real. Portanto, se não foi “denunciada”, não conta.
- Hei, tu
aí, passa para cá a carteira, e pisga-te! Livra-te se te queixas à Polícia!
- Oh, amigo,
mete aqui no bolso aquele colar de ouro que tens ali na montra! E tem juizinho,
nada de disparar o alarme nem chamar a Polícia!
Perceberam?
Estes dois assaltos não existiram. Na realidade um desgraçado ficou sem a
carteira e um comerciante sem o ouro, mas se por receio ou medo de represálias
não apresentaram queixa, não aconteceram.
O “modus
operandi” risca das estatísticas a criminalidade que não é denunciada e assim
evita-se o pânico social. A Covi-19 também dá uma ajuda preciosa porque o
confinamento proíbe as pessoas de saírem de casa, logo não podem ir à esquadra
apresentar queixa.
Acredito que
o “distanciamento social” estará igualmente a contribuir para a “redução
significativa” da criminalidade, na justa medida em que um assaltante, se é
cumpridor das regras sanitárias e da etiqueta social, tem de fazer o assalto a
dois metros de distância e isso, naturalmente, dá um tempinho à vítima para
preparar a defesa ou pôr-se ao fresco, antes que o ladrão se marimbe para o
“distanciamento social”.
Esconde-se assim
a realidade, mas também podemos ser traídos pela realidade paralela que
criamos. “CMF vai liderar o combate à
criminalidade” – assumiu o presidente da CMF, a 3 de setembro, portanto, dois
meses antes de o comandante da PSP ter afirmado no Parlamento que havia “uma
redução significativa da criminalidade”.
Mas, se dois
meses depois, em novembro, a criminalidade apresentava uma “redução
significativa”, o que fazia então o comandante da PSP, dois meses antes,
sentado à mesa com o autarca do Funchal, para ajudar a CMF a “liderar o combate
à criminalidade”?
Confuso? Decididamente,
também eu estou. Ou talvez não.
“Menos 60%
de acidentes nas levadas”, título recente do JM. Mas o que é que isto tem a ver
com a (in)segurança? Tem tudo a ver! Está tudo relacionado. Há uma descida
brutal no número de acidentes nas levadas pela simples razão de que a atividade
turística na Região caiu mais de 80 por cento, logo, não há turistas a se
passearem nas levadas.
Acontece o
mesmo com a criminalidade. Há uma “redução significativa” porque a agente
Covid-19 tem tratado da (in)segurança, remetendo as pessoas para casa, fechando
hotéis e comércio.
Nota: Num abrir e fechar de olhos, e de
forma aleatória, fiz uma simples pesquisa pelas plataformas digitais do DN e JM,
à cata de casos relacionadas com criminalidade, insegurança e afins. Em pouco
mais de 15 minutos, e apenas entre o mês de novembro e os primeiros dias de
dezembro, encontrei cerca de 50 casos.
Não sei se toda esta desordem social foi “denunciada” ou se é uma invenção da comunicação social. Mas, pelo sim pelo não, aproveito para a denunciar aqui. Espero que agora faça parte das estatísticas.
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