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sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

 

OPINIÃO



ANTÓNIO JORGE PINTO                                                                       






A PANDEMIA DA (IN)SEGURANÇA





Sei que o assunto não está agora na famigerada “agenda do dia”. Mas, pressinto, não tarda nada, virá a terreiro, soprando vendavais informativos, com desculpas e justificações que nada resolvem. Falo da segurança, ou melhor, da falta dela, no Funchal, onde é mais presente, mas na realidade não há concelho que escape aos “amigos do alheio”, parafraseando o saudoso compincha das lides jornalística, o “Ribeirinho” dos Casos do Dia, do DN.

Dizem que “o que não nos mata, fortalece-nos”. Mas, realmente, acho que muito boa gente anda encavalitada na Covid-19, a tentar salvar-se de problemas e incompetências que vinham de trás e que não têm nada a ver com o maldito vírus.

Há três/quatro meses, o problema do vandalismo, da criminalidade e da insegurança quase que ombreava com a Covid-19 no ranking informativo regional.

Nos primeiros 10 meses deste ano “a criminalidade geral reduziu 8,5%”, lia-se nos jornais, citando o comandante regional da PSP, após uma Audição Parlamentar na “Casa da Democracia”, no dia 3 de novembro deste ano.

Clarinho como água. Contas simples, os primeiros 10 meses deste ano atiram-nos para janeiro. A 18 de março entramos em “estado de emergência”, confinados, proibidos de sair de casa. Depois da “prisão compulsiva”, alívios e restrições, a cidade nunca mais foi a mesma, ficou mais morta do que já era, sem turismo, lojas às moscas ou encerradas.

Com este cenário negro para a economia e para a nossa vida quotidiana comum, que diacho!, não é preciso um curso superior para depressa se chegar à conclusão que naqueles 10 meses, os “amigos do alheio” ficaram sem trabalho? Claro que a cidade ficou sem assaltantes e sem gente para ser assaltada, logo, era o que mais faltava a criminalidade não dar um tombo.

Com a ajuda de uma lupa passa-se a “pente fino” as declarações do comandante da PSP e, afinal, não é bem assim. “Não há um aumento da criminalidade, há, de facto, uma redução significativa da criminalidade denunciada”, acrescentou.

Ah, pois! A comunicação tem os seus segredos, se uma pessoa não lê com olhos de ler, trama-se. Afinal “há uma redução significativa da criminalidade denunciada” e não da criminalidade real. Portanto, se não foi “denunciada”, não conta.

- Hei, tu aí, passa para cá a carteira, e pisga-te! Livra-te se te queixas à Polícia!

- Oh, amigo, mete aqui no bolso aquele colar de ouro que tens ali na montra! E tem juizinho, nada de disparar o alarme nem chamar a Polícia!

Perceberam? Estes dois assaltos não existiram. Na realidade um desgraçado ficou sem a carteira e um comerciante sem o ouro, mas se por receio ou medo de represálias não apresentaram queixa, não aconteceram.

O “modus operandi” risca das estatísticas a criminalidade que não é denunciada e assim evita-se o pânico social. A Covi-19 também dá uma ajuda preciosa porque o confinamento proíbe as pessoas de saírem de casa, logo não podem ir à esquadra apresentar queixa. 

Acredito que o “distanciamento social” estará igualmente a contribuir para a “redução significativa” da criminalidade, na justa medida em que um assaltante, se é cumpridor das regras sanitárias e da etiqueta social, tem de fazer o assalto a dois metros de distância e isso, naturalmente, dá um tempinho à vítima para preparar a defesa ou pôr-se ao fresco, antes que o ladrão se marimbe para o “distanciamento social”. 

Esconde-se assim a realidade, mas também podemos ser traídos pela realidade paralela que criamos.  “CMF vai liderar o combate à criminalidade” – assumiu o presidente da CMF, a 3 de setembro, portanto, dois meses antes de o comandante da PSP ter afirmado no Parlamento que havia “uma redução significativa da criminalidade”.

Mas, se dois meses depois, em novembro, a criminalidade apresentava uma “redução significativa”, o que fazia então o comandante da PSP, dois meses antes, sentado à mesa com o autarca do Funchal, para ajudar a CMF a “liderar o combate à criminalidade”?

Confuso? Decididamente, também eu estou. Ou talvez não.

“Menos 60% de acidentes nas levadas”, título recente do JM. Mas o que é que isto tem a ver com a (in)segurança? Tem tudo a ver! Está tudo relacionado. Há uma descida brutal no número de acidentes nas levadas pela simples razão de que a atividade turística na Região caiu mais de 80 por cento, logo, não há turistas a se passearem nas levadas.

Acontece o mesmo com a criminalidade. Há uma “redução significativa” porque a agente Covid-19 tem tratado da (in)segurança, remetendo as pessoas para casa, fechando hotéis e comércio.

Nota: Num abrir e fechar de olhos, e de forma aleatória, fiz uma simples pesquisa pelas plataformas digitais do DN e JM, à cata de casos relacionadas com criminalidade, insegurança e afins. Em pouco mais de 15 minutos, e apenas entre o mês de novembro e os primeiros dias de dezembro, encontrei cerca de 50 casos.

Não sei se toda esta desordem social foi “denunciada” ou se é uma invenção da comunicação social. Mas, pelo sim pelo não, aproveito para a denunciar aqui. Espero que agora faça parte das estatísticas.

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