OPINIÃO
GIL CANHA
AVISO À "NAVEGAÇÃO"
Li hoje no DN do Sousa que a Direção Regional do
Ambiente e das Alterações Climáticas pediu ajuda à Câmara Municipal da
Ribeira Brava e à respetiva junta de freguesia para ajudarem a promover durante
30 dias a consulta pública do procedimento de avaliação do impacte ambiental do
projeto de ampliação das denominadas “gaiolas de peixe”, entre o Campanário e a
Ribeira Brava, podendo os interessados apresentar as suas sugestões e
opiniões até ao dia 20 de janeiro.
O objetivo desta minha pequena nota não é fazer publicidade do procedimento; o meu objetivo principal é alertar os meus concidadãos para não fazerem figuras de palhaços nem se travestirem de ursos, se por acaso têm intenções de participar nesta extraordinária farsa, montada com o único objetivo de branquear e legitimar este verdadeiro atentado paisagístico, há muito decidido e costurado pelos nossos excelsos matarruanos.
Aliás, na própria
notícia, fugiu-lhes a boca para a verdade: até defendem que “não existem
alternativas a essa localização já que as áreas previstas correspondem às áreas
concessionadas”, concluindo: os gabirus apelam à participação de uma coisa que
eles próprios confessam ser já um facto quase consumado.
E faço este aviso porque durante anos e anos fiz
figura de urso na participação cívica de certos planos de ordenamento, em que
dei muitas sugestões, e depois vim a descobrir que utilizavam essa participação
somente para a estatística e para legitimarem o triunfo da vontade deles: - Viram!
o nosso plano é magistral e muito concorrido, até teve grande participação
pública! - E com este engodo vomitado reduzem os
cidadãos mais conscientes a figurantes dum filme de Série B.
Há dias, vi num programa de televisão um forasteiro
meio “atontalhado” a dizer o seguinte: -
Não estou a ver qual o impacte negativo das infraestruturas de aquacultura em
mar aberto, se em terra temos a paisagem toda descaracterizada”, isto é,
para o cavalheiro, se a terra já está rebentada, porque não rebentar também o
mar. Vejam só onde já vai a cabeça de macarrão destes tipos! Para eles, a nossa
última fronteira natural também terá de ser escavacada, para a destruição ser
completa e total.
Continuo a defender que a nossa linha de costa é
extremamente pequena e que as áreas com maior potencial aquícola são precisamente
as zonas onde existe maior aptidão para a hotelaria; que industrializar o mar
com infraestruturas que causam grande impacte paisagístico é “mortal” para o
turismo. Ninguém gosta de apreciar, por exemplo, um pôr-do-sol e ver o
astro-rei desaparecer no meio de gaiolas de peixe, como ninguém estima ver a lua
cheia no meio de ciprestes dum cemitério ou de viver num apartamento com vista
para uma pedreira ou para um complexo industrial.
Muitos podem questionar: mas por que razão os humanos
adultos gostam de olhar para o mar livre, prístino, azul, até perderem a vista
na sua linha do horizonte? E por que razão as crianças adoram brincar na borda
d'água, e não perdem o seu tempo a olhar languidamente e poeticamente para o
oceano? Aliás, é normal ver-se um casal a beber um copo de vinho ou uma cerveja
enquanto se delicia com a vista oceânica, e raramente se vê uma criança a comer
um gelado e a olhar perdidamente para a
linha do horizonte.
E a
explicação é simples: com a idade, a espécie humana vai-se apercebendo da sua
finitude, e conforme vai envelhecendo, essa finitude transforma-se num problema
existencial, pois pressente que o seu fim se aproxima a passos largos, enquanto
para uma criança a sua perceção é que a vida é infinita, que nunca mais acaba,
que nunca tem um fim, por isso, pouco lhe importa olhar duma forma sonhadora
até onde a vista alcança.
No nosso imaginário, olhar a imensidão do mar representa o nosso sonho e a nossa utopia de infinidade, de sermos seres infinitos como a vastidão do mar… e, por essa razão, adoramos olhar o nosso mar sem ver a nossa vista poluída por uns círculos redondos, carregados de penduricalhos e cheios de peixe alimentado a ração.
13 comentários:
Outro ambientalista de bancada que se estivesse calado ...seria um grande poeta
Muito bom
anónimo 10 de dezembro de 2020 às 18:05
"enfiou a carapuca"?...eu não!
Grande Gil! Porrada nesse canalhedo que nos destrói a paisagem e o ambiente. Isto só é possível numa terra de matarruanos, que tal como os negros de África trocavam o seu ouro (a nossa paisagem e ambiente) por pechibeque (gaiolas de peixe). Parabéns Gil!
Se a consulta pública for a que o Marques promoveu na Ponta do Sol estamos bem
Em frente à minha casa meteram essas jaulas, mas onde tem esta gente a cabeça para rebentarem desta maneira com a bela paisagem oceânica, só para dúzia e meia ganharem dinheiro.
Matarruanos Canha???? Bando de broquilhas olha o que eles vão fazer nas Ginjas, mais uma estrada para encher os bolsos dos DTT.
O sr. canha esqueceu-se de dizer que estas instalações dão emprego a muita gente e não ficam tão feias como dizem.
Caro Gil! Essa é a SUA opinião! E a ela tem todo o direito. A mim, permita-me discordar. Não é meia dúzia de jaulas num vasto mar que me fazem espécie. Faz-me mais impressão uma estufa em terra, ou uma daquelas casas forradas a azulejo. Para mim isto é tudo birra por ser promovida pelo Governo, até, porque se é para não haver impactos humanos na paisagem, mais vale sairmos todos daqui e deixarmos a ilha entregue às cagarras. Cumprimentos.
Empregam 10 pessoas e atiram 200 para o desemprego! Se são bonitas mete em frente à tua casa!.............
De facto, os argumentos a favor das jaulas dizem tudo sobre o sentido crítico desta gente... É bom porque não fica à frente da casa deles mas esquecem-se que os prejuízos ambientais e paisagísticos a todos afecta e ainda mais afectará!
No Vietnam há muita aquacultura mas nas zonas turísticas ou de grande beleza paisagística não existem jaulas. HAJA BOM SENSO!
Muito bem escrito, ou mantemos o "ouro" no Turismo e cuidamos de tratar do nosso bem-estar, da nossa paisagem e dos espaços naturais com que fomos abençoados, ou deixamos transformar o nosso mar numa indústria poluente, ocupado desordenadamente, de forma autocrática, com o pseudo-propósito de "alimentar" o resto do país. As duas coisas não são compatíveis, mas infelizmente não nos é dada opção de escolha. A solução é apresentada de forma definitiva, e as consultas públicas são meros pro-forma como bem diz o Gil.
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