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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013


AS CATÁSTROFES E OS ILUSIONISTAS

Escorregamento no Sítio do Massapez, Porto da Cruz, ocorrido a 02 de Fevereiro 2010

Ainda não estavam enterrados os mortos da catástrofe de 20 de Fevereiro de 2010 e já se anunciava a instalação dum radar meteorológico na Madeira, uma espécie de Nossa Senhora dos Aflitos, que evitaria futuras desgraças provocadas pela impiedosa natureza. Quase quatro anos depois, já foi instalado?
Agora, ainda com a lama dentro das casas do Porto da Cruz, com o lixo do antigo aterro da Meia Serra espalhado pelo Santo da Serra, com gente que não consegue dormir, com empresas destruídas e uma notória incapacidade de equacionar as causas de mais uma catástrofe, surge a vice-presidência do governo regional a anunciar um ‘projecto pioneiro que utiliza câmaras de vídeo, geofones, sensores ultrassónicos e com tecnologia de radar” (DN-04.12.13) para monitorizar as ribeiras de João Gomes, Santa Luzia, São João e Ribeira Brava.
Estes equipamentos, que ainda não foram adquiridos, deverão custar 350 mil euros, e não irão vigiar a ribeira dos Socorridos, que tem na foz a central térmica e que poderá carregar rocha, terra e milhares de árvores mortas do Curral das Freiras para o mar, deixando a Madeira às escuras.
A 20 de Fevereiro de 2010 as grandes ribeiras, que vão ser monitorizadas não mataram ninguém. As cinco dezenas de mortes foram provocadas por ribeiros sem nome, por desabamentos (quebradas) e deslizamentos.
Na noite de 28 para 29 de Novembro, os deslizamentos e os desabamentos foram os principais carrascos do povo do Porto da Cruz. Em Janeiro e 1979 e a 02 de Fevereiro de 2010 (18 dias antes da catástrofe que atingiu o Funchal e a Ribeira Brava) também foi assim. A ribeiras da Maiata, do Junçal e do Massapez, nem com monitorização, nem com o mais moderno betão, conseguem dar vazão à terrível mistura de lama, rocha e pinheiros mortos pelo fogo e pelo nemátodo.
No Porto da Cruz não houve mortos, porque a densidade populacional é muito mais baixa do que nas freguesias das zonas altas do Funchal. Movimentos de massa com a dimensão dos ocorridos na semana passada, se fossem no Funchal estaríamos novamente a lamentar a perda de muitas vidas humanas.
O complexo corpo vulcânico da Madeira, perfurado sem dó, rasgado sem piedade, vítima de muitas queimaduras, perdeu resistências e é notória a dificuldade para suportar depressões barométricas, cúmulo-nimbos e chuvas fortes.
Nestes primeiros anos do século XXI é alarmante o ritmo de ocorrência de movimentos de massa e cheias repentinas. E, contrariando o modelo dos séculos anteriores, a frequência nas vertentes voltadas a norte agora é semelhante aos casos verificados a sul.
A Madeira não está imune às alterações climáticas, mas é uma irresponsabilidade culpar a chuva por todas as desgraças. Incontáveis caminhos e estradas rasgando vertentes, toneladas e toneladas de explosivos no ventre da ilha, casas, oficinas e armazéns nas linhas de água e em vertentes instáveis, não são causas menores.
Os madeirenses terão de acordar e perceber, que os ilusionistas, mesmo com tecnologia sofisticada, não diminuem os efeitos das catástrofes ditas naturais.

Saudações ecológicas,
Raimundo Quintal

         Outro escorregamento no Sítio do Massapez, Porto da Cruz, ocorrido a 02 de Fevereiro 2010

3 comentários:

Anónimo disse...

e essas ditas câmaras vão fazer o que??? parar agua?? desvia ?? se tiver que vir vem tudo em poucos minutos e não dá tempo para nada

Anónimo disse...

Excelente peça! Dá que pensar....o que deverá ser feito a partir de agora? Porque isso é o que na verdade interessa ,não é? Soluções.

Anónimo disse...

Caro anónimo, todo o tempo ganho nos alertas, nem que seja um minuto, é importante quando se fala de vidas humanas.
Terá isso um preço???