O DESERTO AQUI TÃO PERTO
Exatamente três anos após o catastrófico incêndio (13 – 14 de Agosto de 2010), que destruiu a maior parte do urzal de altitude, desde o Pico do Areeiro até ao Pico Ruivo, e núcleos de Laurissilva nas cabeceiras das ribeiras do Juncal, Fajã da Nogueira e Seca do Faial, o fogo volta a atacar aquelas formações vegetais, mas agora no outro lado da ilha, no santuário do Fanal.
Aquela coluna de fumo na extremidade ocidental do único planalto da Madeira escureceu-me a alma e fez-me recordar um dos momentos mais tristes da minha vida. Após três anos de duro trabalho, e quando as flores indígenas começam a desabrochar na Achada Grande, no Cabeço da Lenha e no Pico do Areeiro, o carvão risca o Fanal.
A Madeira está perto, demasiado perto do Sahara, o maior dos desertos. Os madeirenses não podem mais escamotear esta dura realidade. Calor, secura e incêndios no Verão. Chuva violenta e cheias repentinas no Outono e no Inverno. Um ciclo terrível, a um ritmo verdadeiramente preocupante.
A segurança e a prosperidade de quem vive na cidade, nas vilas ou nos lugarejos está intimamente dependente da saúde da Laurissilva e da formação arbustiva do quarto andar fitoclimático. Com a desertificação dos píncaros da ilha e das cabeceiras das ribeiras, a água será cada vez mais escassa no Verão e feroz no Inverno.
Para quem pense que sou um alarmista, um arauto da desgraça, peço um pouco de atenção para os dados registados nos termómetros e higrómetros do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (http://dhor.somee.com/DhoR.aspx), às 13 horas de hoje:
- Funchal (Observatório Meteorológico – 58 metros de altitude): Temperatura: 27º C; Humidade Relativa: 68%
- Pico Alto (1.129 metros de altitude): Temperatura: 30,2ºC; Humidade Relativa: 8%
- Pico do Areeiro (1.610 metros de altitude): Temperatura: 26,5ºC; Humidade Relativa: 14%
As temperaturas elevadas e os baixíssimos valores de humidade nas terras altas não geram incêndios, mas constituem condições propícias à propagação de fogos gerados por incúria ou por mãos criminosas. Neste momento, muito mais importante do que discutir meios e técnicas de combate, devemos estar atentos aos mais ínfimos sinais de fogo e exigirmos à Proteção Civil uma ação imediata com o objetivo de evitar uma nova edição da catástrofe de Agosto de 2010.
Depois, com as temperaturas mais frescas e com a humidade relativa mais elevada, teremos de agir com o objetivo de reduzir a ocorrência de fogos, de recuperar a biodiversidade no maciço montanhoso central, de reduzir a escorrência e aumentar a infiltração da água.
Sim. Temos de agir. O deserto está aqui tão perto!
Saudações ecológicas,
Raimundo Quintal
1 comentário:
tem razão os fogos já aí estão , mas á responsaveis e desta vez faceis de encontrar , vamos a ver se o Ministerio Publico quer?
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