Desistência

ANÁLISE POLÍTICA SEM EFEITO

Viemos ao pc logo de manhã para debitar uma opinião sobre o estado da política regional, quando uma semana nos distancia de Março, mês anunciado como decisivo para o futuro da Madeira. Passada uma hora de caracteres escritos e deletados, decidimos adiar a tarefa. Sine die.

A situação política por estes lados, desconcertante durante 40 anos, não dá sinais de normalizar. 

Em plena pré-campanha eleitoral, quando cada partido ou coligação trata de atrair o voto de toda a gente, veja-se o que acontece no PSD-Madeira. O ex-líder do partido, ainda presidente do governo, mexe-se por aí a inaugurar umas coisas, insistindo nos ataques contra aquele que anda em campanha para tentar suceder-lhe na governação... sendo ambos do mesmo partido!

Se isto é normal, o Dr. Saturnino que volte ao activo e seremos os primeiros pacientes.

O ex-líder do PPD, com efeito, continua com os seus artigalhos ressabiados a desfazer na imagem do seu sucessor partidário - é só passar os olhos no JM pago por nós e usado por ele há 4 décadas.

Ontem, o ressabiamento do homem fê-lo tentar revoltar os eleitores do PPD contra o divisionismo de Albuquerque na elaboração das listas, ao deixar fora nomes afectos às duas correntes do governo que disputaram as internas, a de Manuel António e a de João Cunha e Silva. O que é verdade. Mas se alguém se atrevesse com uma verdade dessas quando era o sua excelência a concorrer a eleições, logo seria acusado de "espetar facas nas costas" do chefe, apanhando com o respectivo processo de expulsão.

O homem, no mesmo escrevinhanço, não perdeu a oportunidade para delatar publicamente a 'militância' de Albuquerque na maçonaria, fazendo até chamada para a revista colonialmente lisboeta 'Sábado'. 

Ora, se o actual candidato PPD realmente é maçon, o único senão está em esconder essa condição. 

Também desatinamos com organizações secretas. Mas, que se saiba, não há ilegalidade nelas. 

Uma das curiosidades da história é o ex-líder do PPD, ainda chefe do GR, fazer questão de denunciar ao eleitorado, a cerca de um mês das eleições, a ligação de Albuquerque a um grupo supostamente sinistro, oculto, apocalíptico. Não resultou nas internas, mas aquela cabeça insiste.

Já no artigalho da última página de hoje, no JM, a ementa do dia sai-se com um juízo de valor esturricado sobre a qualidade e o carácter do sucessor. "O aqui escrito (sic) aplica-se a todos os candidatos seja qual for o partido", sublinha o escrevinhador, com receio de que, por absurdo, alguém julgue os seus devaneios como dirigidos a alguém que não Miguel Albuquerque.

Sobre qualidade, a pasquinada cola outra vez o cabeça-de-lista do Laranjal aos "lugares comuns ditos para magazines" - novo eufemismo de "revistas de cabeleireiro".

Quanto ao carácter, e traduzindo por miúdos, o homem faz acusações no âmbito de códigos de vida e lealdade.

Isto para não particularizar declarações nas serôdias inaugurações dos últimos dias, a respeito dos que querem mandar para enriquecer.

Como analisar estes ataques formulados por alguém que, conforme o vento, se diz empenhado em que o PPD continue no poder?

Valeria sequer a pena tentar esmiuçar os procedimentos de um sujeito de direitíssima feroz e que se diz adepto do Syriza?! Ele, que tantos nomes chamou, todos estes anos, aos militantes e respectivas famílias do segmento partidário do PCP para a esquerda?

Não chegamos lá.

Albuquerque: pior a emenda...

Podíamos rodar a agulha e tentar analisar o resto da política regional. Mas... peguemos ainda em Albuquerque. Como perceber, uma semana ou mais depois, aquela dos despedimentos na Função Pública? Em tempo de pré-campanha! E como perceber que, na ressaca, se operasse uma emenda pior do que o soneto? 

Os despedimentos são apenas para o Continente, não para a Madeira? Ora essa! Então, façam os despedimentos apenas na Madeira e esqueçam-se do Continente - dirão os peninsulares. Enquanto, ao mesmo tempo, os madeirenses se sentem tratados como parolos. Ora, será que o pretendente a sucessor do presidente do governo também quererá dar lições ao país e desconsiderar a inteligência dos insulares?

Cemitério de S. Martinho: a última morada

Como esgalhar uma análise, perante estas excentricidades políticas?

Veja-se o tema cemitério de São Martinho. A câmara aprovou o projecto que ergueu a casa do nosso Amigo Salvatore. Depois, alarga a zona dos enterros de tal modo que, de hora a hora, os residentes da casa apanham, a metros da cozinha, com as orações que acompanham os nossos defuntos à última morada!

Mas o nosso drama nem sequer é a família prejudicada ter de parar a festinha de anos da pequenada, no quintal, sempre que se fazem ouvir no areão os passos de mais um cortejo fúnebre, ali mesmo à frente. O que aqui mais interessa é o desaguisado entre a Junta de Freguesia de São Martinho, que elevou uma vedação entre o cemitério e a estrada, para resguardar um pouco a casa de Salvatore, e a câmara do Funchal, que mandou os mestres deitarem tudo abaixo.

Isto a pouco mais de um mês das eleições regionais, em que a Mudança municipal apoia - supostamente - a coligação Mudança liderada pelo PS. E sendo a Junta de São Martinho, de Duarte Caldeira e Jaime Leandro, governada sob a égide da Mudança municipal!

Há dias, a câmara abalançou-se a uma sempre complicadíssima renovação orgânica, passível de sequelas eleitorais. Tinha de ser agora? Que pretende a Mudança municipal para a Mudança coligacionista que concorre às regionais?

Não percebemos o porquê de não se recorrer ao diálogo entre forças da mesma área política para resolver o caso do cemitério, ou, pelo menos, para o adiar até depois das eleições. Se pelo meio disto andam as divergências de que se fala nos paços do concelho, entre o presidente Cafôfo e a vice Idalina, exactamente por uma suposta questão de perda de pelouros à luz da reorganização, há uma solução que já deu resultados: uma manif contra Idalina Perestrelo à porta da câmara e já está.

Pior do que estas complexidades envolvendo a câmara, só o filme das célebres 'negociatas', há anos, com o vice do governo Cunha e Silva e o ex-edil Albuquerque nos principais papéis. Tudo gente do PPD, heróis e bandidos!

Não vemos como fazer uma leitura minimamente esclarecida sobre situações que tais.

Procuradora-geral no bunker

Já estamos a ouvir alguém criticar: homem, nada de se baldar ao serviço, deixe a política de campanário e faça o trabalho sobre a situação nacional.

Isso! 

Não vamos fugir do lume para cair em cima das brasas.

A nossa exígua arte muito menos atinge os contornos da situação de um país onde o ex-primeiro-ministro está preso.

Onde Santana Lopes quer ser presidente da República.

Onde um ex-presidente da República promete meia dúzia de estaladas a um juiz. 

Onde a Saúde é negócio.

Onde o primeiro-ministro, em lugar de fazer lobbying com a Grécia e a Espanha, dá o braço à predadora liberalíssima Merkel.

Onde os assaltantes de bancos trabalham lá dentro, nos bancos, e lá dentro planeiam os golpes.

Um país cuja procuradora-geral aceita convite para jantar no bunker alvo de suspeitas sobre dívidas incalculáveis escondidas.

Óscares perdem com as nossas fitas

Desconhecemos os métodos para interpretar tudo isto. Alguém que faça uma análise.

Da nossa parte, limitamo-nos a reconhecer o embaraço que o País e a Região nos criaram: em 29 de Março, votaremos no homem das Meias ou naqueles que não chegam a tempo de concorrer?

É de loucos.

Bem pode a Academia distribuir óscares a rodos, que a afluência aos cinemas neste país continuará em queda. Pelo menos enquanto tivermos estas fitas misteriosas diariamente nos telejornais e os serões preenchidos com novelas umas em cima das outras, récitas escabrosas com danças e habilidades, casa dos segredos e por aí fora.