Matando as saudades do jardinismo

Menos experiente do que o agente secreto 'Kapta-Tudo', o nosso 'Kapta-Kuaze-Tudo' enviou-nos uma crónica que o Leitor julgará ter sido escrita mesmo dentro da Câmara. Da nossa parte, não confirmamos nem desmentimos. Não nos metemos em barulhos, embora há umas décadas também andássemos de cabelo à beatle e LP 'Abbey Road' debaixo do braço.

CÂMARA COM BOM ESPÍRITO HIPPY

MAS APÁTICA EM VÉSPERAS DE ELEIÇÕES 

Governando ao ritmo de Bob Dylan, poncha, saco-cama e tv-cabo, como numa versão moderna do velho Woodstock

O presidente numa agradável esplanada sobranceira à Barreirinha. Um par de ponchinhas para aquecer, em dia de semana.

Há quem negue sentir em Paulo Cafôfo aquele perfume de libertação que o movimento hippy exalou nos idos dos sessentas. O que consiste em rejeitar o evidente só porque o nosso presidente da Câmara não é guedelhudo como os psicadélicos pacifistas daquele tempo. Fingem não ver o penteado abundante de quem Cafôfo, possivelmente como compensação, escolheu para vereador encarregado da democracia participativa no Funchal. Fingem os cépticos do costume não ver o lilás que domina o site municipal funchalense, uma das cores dos óculos daquelas moças cheias de flores no cabelo que desmaiavam por Dylan e Donovan.
Bom, mas será de gente ajuizada fazer daquela Câmara um Woodstock cheio de rock-and-roll e drogas? - perguntarão os intratáveis conservadores cá do burgo.
Atenção, não vamos tão longe.
É verdade que Paulo Cafôfo não está para grandes aborrecimentos. A meia tarde, raspa-se dos cinzentos Paços do Concelho com o motorista e a secretária e toca a mandar abaixo umas ponchas numa das agradáveis esplanadas da cidade - conforme as fotografias obtidas a semana passada e que mostramos nesta peça.
Que tem isso de mal? Nada, pelo contrário. A isso chama-se criar empatia com os munícipes, sentir o pulsar da urbe no meio do eleitorado - aliás uma bandeira da Mudança. 

Senhores, uma vereação precisa mesmo de armar em snob e arrogante como a do nosso pianista Miguel Albuquerque, ex-presidente do município? 
Como os hippies diziam, de guitarra a tiracolo, 'make love not war'. Brigas para quê? Preferiam os ressabiados ao serviço do PPD que tivessem continuado ali os vereadores da Mudança que entraram a matar, aos pontapés contra mesas e cadeiras das esplanadas na zona velha e ameaçando combate interminável aos tubarões do saudoso jardinismo? 
Deixem-se de chatices. É viver enquanto se pode - 'com' os munícipes, não 'contra' os munícipes. 
Ainda há dias, Paulo Cafôfo meteu-se no Apolo, a propósito da reinauguração do histórico 'café da bilhardice'. A festa, 'tintol' a mim, 'scotch' a ti, rindo e brincando durou até às duas da madrugada. O presidente e os comparsas sempre hirtos, capazes de fazer o quatro com o copo na cabeça, ao contrário dos outros convidados e empregados que bocejavam impertinentes. Coitados, não aguentam meia missa.

Sem plano aprovado, que fazer, senão acampar na Câmara?

O que mais faltava era aquela vereação desatar a chorar em cima do impossível. Se nem plano de actividades há em campo para fazer aplicar o orçamento, não é mesmo para uma pessoa se meter à boa vida? Se não deixam pôr em prática o voto popular, então vai disto. É ir fazendo a defesa de causas modernas, como boicotar os circos com animais (e bem) ou proibir os papagaios a tirar fotografias nas avenidas (e bem). 
E não governar contra o povo. O povo tem de viver na cidade tal como dorme na cama que faz. Se a Câmara manda fechar a Rua Nova de São Pedro e o povo reage com algaraviada insuportável, abre-se outra vez a rua e acaba-se o chinfrim. Que se lixem.
Mas é o caso de ser preso por ter cão...

Domingos Rodrigues não passa despercebido nas conversas de corredor.

Há os conservadores que criticam o liberalismo municipal. E há os simpatizantes do antigo movimento hippy que desconfiam das qualidades psicadélicas da vereação. Aos primeiros, já respondemos. Para estes últimos, podemos retransmitir as vozes que percorrem os corredores do edifício municipal: que o vereador Domingos Rodrigues tirou um mês de férias ininterruptas, de 19 de Dezembro a 19 de Janeiro, deixando pendurados licenciamentos urbanísticos, processos de regeneração urbana e dossiers de protecção civil. E que, ainda por cima, tem horário universitário para leccionar um semestre inteiro!
Se trabalha, é porque trabalha. Se não trabalha...
Os hippies não mexiam uma palha. Passavam o tempo agarrados a moças floridas, puxando marijuana e emborcando uns copos, exibindo displicentemente cartazes de protesto contra a guerra no Vietname. 
Pois no caso funchalense, ao que se diz na Câmara, o vereador Domingos também se instalou no gabinete com um saco-cama, tal qual fosse acampar para o festival de Wight. Inclusive, mandou instalar tv-cabo no gabinete e um televisor de determinadas características. Trata-se, cremos, de recuperar do árduo trabalho na universidade e das tropelias próprias de um mês inteiro de férias. O saco-cama dá para recuperar um pouco, metendo no estômago as peças de fruta que ele armazenou em lugar fresco do gabinete municipal.
Se sobre a manhã o vereador continua nos braços de Morfeu, algum colaborador trata de o despertar. Como já aconteceu.
Estes comentários que percorrem a câmara, e não apenas, só provam que o caminho da Mudança vai certo. Sem convulsões, sem levantamentos populares, enfim.
As únicas ondas vêm de baixo, da Praça Amarela, mais precisamente da sede socialista. Os barões do PS andam a cortar na casaca sobretudo de Paulo Cafôfo. Queriam vê-lo no terreno a devolver o apoio que recebeu na campanha de 2013. Mas nada. Nem sequer disse alguma vez que Victor Freitas é o seu candidato. E a pré-campanha das regionais já vai quente.
Tirando o pormenor da maldita da política, a Câmara voga maravilhosamente nas nuvens, a cantar 'If you go to San Francisco'. Essa é que é essa.

Kapta-Kuaze-Tudo