CARTINHA AO RECADO

Caro Doutor Miguel Mendonça, primeira figura institucional da Autonomia:

Recebi o recado que Vossa Excelência me enviou por um portador de confiança. 
Com alguma dificuldade embora, consegui peneirar a surpreendente avalancha de ideias, palavras e slogans, retirando, julgo que acertadamente, o mais importante da mensagem, que me chegou impregnada de epítetos feios à minha pessoa destinados.
Não sabia que o estava a ofender tanto neste aguerrido mas compreensivo blogue. Julgava que desagradava mais a Vossa Excelência quando critico o seu posicionamento político no regime em decomposição. Quando escrevo que talvez fosse melhor ter-se retirado já, escapando aos tristes vexames parlamentares que a população tem visto pela TV. Quando tento acordá-lo para os perigos a que se expõe defendendo posições indefensáveis do seu chefe de partido. 
Aliás, por ele, chefe do seu partido, já Vossa Excelência estaria hoje a escrever as suculentas memórias nos Barreiros ou ao sereno de Santana. O seu chefe queria meter outro no seu lugar já neste mandato e foi Vossa Excelência quem insistiu em ficar, por razões que também sabemos - e das quais o erário não tem culpa nenhuma, já agora.
Pois bem: vai-se a ver, e o Doutor Miguel Mendonça diz que aceita todas essas alusões adversas, desde que não haja referências à sua classificação etária. 
Quando acontece falar-se nisso, o Doutor 'passa-se', sei-o agora porque fez questão de o mandar dizer.
Ora, eu não uso o 'Fénix' para falar do BI civil de ninguém. Cada um nasceu quando os pais entenderam e ninguém tem nada com isso. Do que falamos aqui não é do 'BI civil' de cada um. Falamos do 'BI político' de quem anda à chuva.
Veja Vossa Excelência: se eu próprio já me considero, e digo-o bastas vezes, sem complexos, um fóssil de papel de jornal à conta de uma carreira de 40 anos, estarei a ser insolente e ofensivo ao classificar como... como dinossauros políticos - não se zangue - os que andam há tanto tempo na vida pública?
O próprio chefe que o Doutor tem no seu partido não é velho, do ponto de vista da idade. Nem sequer é velho para estar na política. O mundo está cheio de exemplos de que a política não tem idades. Mas uma coisa é uma pessoa ser... idosa, vá lá - e fazer vida política em situação normal, isto é, em sistema de rotatividade. Hoje está numa posição, amanhã está noutra, enfim, vai-se refrescando e refrescando a paciência alheia. E outra coisa é o político ficar no mesmo sítio durante 40 maçadores anos, porque já parecem 200 a quem o vê todos os dias. Temos casos aí que faz favor! Já não se pode. E temo que, para certos sectores da população, o Sr. Presidente do Parlamento esteja a pesar um bom bocado. 
Vamos a um exemplo, com a necessária licença do Doutor Miguel Mendonça, antigo presidente do Marítimo: na minha geração futebolística, começávamos a jogar no Glorioso aos 13 anos, como foi o meu caso. Nessa altura, o Doutor andava pelas repúblicas de Coimbra, só veio mais tarde, para ser eleito presidente do Marítimo sem saber que o tinham metido na lista, como se recordará.
Voltando ao raciocínio: os sócios, que acompanhavam a nossa carreira de perto, desde os nossos 13 anos, viam-nos já com 25 a evoluir no relvado dos Barreiros e, à menor asneira da nossa parte, chamavam-nos 'velhos'. 'Vai-te embora que estás velho', ouvi algumas vezes gritar ao ser desarmado numa finta. Tinha 25, 26 anos! Para os espectadores, os meus colegas e eu, que nascêramos no Marítimo, devíamos andar já nos 90. 
Nem por isso a massa associativa verde-rubra deixa de ser a melhor do mundo.
É tudo relativo, Doutor.
Quando falo aqui de 'brigada do reumático', refiro-me a políticos que, a meu ver, já deviam ter optado por outra ocupação qualquer. Por causa dos anos que obrigam o povo a 'gramá-los', e não pelos anos do BI, que não faço ideia quantos sejam, no caso do ilustre Doutor Miguel Mendonça. 
Para mim, o Doutor, do ponto de vista pessoal, conserva bem fresco aquele espírito jovem, dinâmico e destemido com que nos comandou desde o 'regional' até à I Divisão Nacional. Inclusive, faço inserir neste artigo 'recado ao recado' a sua foto oficial do Parlamento, porque ela traduz fielmente o jovem que ainda hoje vejo no Caríssimo Doutor.
Espero que desculpe o atrevimento desta resposta, mas é de coração.
Quantos aos palavrões muito feios com que fez acompanhar o recado enviado à minha pessoa, não os levo a peito. Compreendo a irreverência da juventude.

Com os melhores cumprimentos ao Senhor Presidente da Assembleia Legislativa e um abraço forte ao companheiro maritimista,

Luís Calisto 

PS (salvo seja) - Dr. Miguel Mendonça: veja esta fotografia tirada nas Selvagens e diga-me, por quem é, que legenda lhe posso juntar?! Por falar em... Bom, que legenda lhe colocaria Vossa Excelência?

                                                                                               (Foto especial para 'Fénix do Atlântico')