Cartinha para Manel António
O secretário das batatas e anonas faz política nos centros de velhinhos e doentinhas, em Caracas. O secretário das injecções e das pensões perde-se no meio das bananeiras da Madalena do Mar. |
Estimado e sempre lembrado secretário regional Manel António
Espero que esta o vá encontrar de boa saúde e em paz, que a gente por aqui vai fazendo pela vida.
Escrevo-lhe estas mal amanhadas linhas para lhe fazer uns pedidos (não se trata de dinheiro) e ao mesmo tempo lhe contar algumas coisas que se passam aqui nestes dias em que vosselência tem estado ausente.
Como termina hoje o programa da sua visita à Venezuela, de longe a mais badalada de sempre na imprensa cá da tabanca, mando-lhe esta por correio electrónico, a ver se ainda o apanha a comer um perro caliente com a malta madeirense em Las Mercedes.
Fiquei entusiasmadíssimo ao saber hoje pela 1.ª página do JM que a missão que o levou à América Latina já está a dar resultados. É interessante - eis um desses resultados - que vá ser uma empresa madeirense a encarregar-se da informatização de um centro de apostas de corridas de cavalos em Caracas. Aqui na Madeira, estamos todos acostumados a corridas de cavalos, embora ninguém tenha, até à data, acertado na aposta. Mas aí está uma prova do sucesso dessa missão que ora finda.
Por falar em sucessos, informo vosselência de que, apesar de ausente, esteve todos os dias nos cabeçalhos do seu jornal privativo. O Dr. Cunha e Silva ficou em presidente do governo e trouxe novidades de Bruxelas, mas falhou no assalto ao JM. E Miguel Albuquerque, apesar do charmoso Funchal Jazz, não apareceu em foto nenhuma durante duas semanas. Aliás, ele bem foi à cerimónia, cá na tabanca, para celebrar o Bolívar, com o cônsul da Venezuela e tudo, mas o comissário paginador do jornal só arranjou espaço na fotografia para o Jardim Ramos, que também foi à cerimónia.
Bem feita!
Mais ainda: o nosso Amigo Albuquerque preparava-se para discursar naquele tradicional comício do PPD no Dia da Região. Vai lá, 'Meio Chefe' trocou-lhe as voltas e, desta vez, não montou palco no Pico dos Barcelos nem na Penteada, mas... em Câmara de Lobos. Sem obrigação de ter o edil funchalense a intervir.
Que estará para acontecer na Herdade, no fim do mês? Albuquerque fala, não fala?
Suspense.
Voltando atrás, o Dr. Cunha e Silva bem quer derrubar vosselência da ribalta, mas em vão. Há duas ou três semanas, o plenário de governo presidido por ele encarregou-o a si, caro Manel, de participar em várias assembleias gerais no mesmo dia, 21 de Junho - na IGA, na Valor Ambiente, IGH, ARM e ainda na Investimentos, Gestão e Serviços, S.A.
Irra! Logo 5 chouriços de assembleias gerais num só dia! Se não era para arrumar vosselência, para que era?
Mas não, não conseguiu deitá-lo por terra. E eis vosselência recuperado, nesse pleno de forma todo, a trabalhar e a 'conquistar emigrantes', como rezaram libidinosamente as crónicas de viagem.
Sabe-se como as luso-descendentes na Venezuela são simpáticas para quem merece, não é?
Saúdo, pois, a entrada da empresa informática da Ribeira Brava que, da Madeira avant-garde, leva tecnologia moderna para um País ainda em vias de desenvolvimento, mas merecedor dos nossos cuidados. Aliás, não fora Sócrates e os seus computadores 'Magalhães', os venezuelanos ainda não sabiam o que é dar um clique em cima da pesquisa Google.
As autoridades bolivarianas devem ter recebido de braços abertos as promessas, feitas pela embaixada insular, de ensinamentos dos novos métodos de produção hortícola, em que a nossa Região é pioneira. E mais, e mais.
Sem vaidade, podemos dizer que a Venezuela não será a mesma depois da visita de vosselência. Eles aí precisam de investimento estrangeiro e os empresários madeirenses são a fonte certa, embora não andemos propriamente a nadar em dinheiro cá na cosmopolita Região.
Mesmo as inevitáveis visitas à Central Madeirense, ao Centro Português de Caracas, às Damas de Beneficência e aos lares de velhinhos ajudam sempre a mostrar a pujança da economia madeirense - porque sim.
Claro que, nisto de intercâmbio diplomático e de contactos empresariais, o negócio vai nos dois sentidos. Realcemos, pois, os 'negócios fechados' que vêm daí para cá. A produção madeirense, a maior parte não especificada, que aumentará exponencialmente as nossas exportações, a começar pela inteligência.
Francamente, a minha dúvida é se, depois dos aumentos retumbantes da exportação de flores, vinho, compotas, bordados, carros (de bois) e tanta coisa mais para Jersey, com destaque para os 'frescos', tudo alcançado graças aos esforços durante a visita de vosselência à ilha de Jersey - a minha dúvida é se ainda ficamos com alguma coisa que exportar para a Venezuela.
É que a nossa balança comercial continua desequilibrada, mas agora ao contrário: as importações estão relativamente levezinhas, no prato mais alto.
É justo que, como diz o JM, se considere de 'corajosa' a sua visita à Venezuela. Sabe-se do grande perigo que é passear nessas ruas cheias de bandidagem. Mas também é obra movimentar comercial e economicamente o que vosselência movimentou com Jersey, ilha 6 vezes mais pequena do que a Madeira e com uma população total inferior à da cidade do Funchal. Os seus contactos com o ministro (!) da Economia deles e com o nosso amigo de ginjeira, o actual baillif, resultaram bem. E o mérito é seu.
Digamos que os nossos negócios com Jersey são tão importantes para nós como são importantes para o governo de Caracas os negócios da Venezuela com a Madeira.
Para evitar equívocos, avanço já que vosselência faz muita falta cá. Viu-se agora na festa da banana. O seu colega Jardim Ramos foi lá substituí-lo. Pois naquele ambiente carregado com descapitalizados agricultores, mais os mandões da Gesba, descarrilou e pôs-se a falar de doenças, do 'recobro' do hospital que terá o triplo do espaço...
É o mesmo que vosselência substituir Jardim Ramos na entrega de diplomas a enfermeiras e recapitular no local, no meio de pensos, bisnagas e adesivos, os milhõezinhos que já prometeu de apoio aos agricultores - aliás sem que um cêntimo lhes chegasse.
Recordo, entretanto, que os pontassolenses não estão a gostar do abandono a que são votados. As festas das duas principais produções agrícolas do concelho, a banana - este fim-de-semana - e a cana sacarina - em Abril -, decorreram sem a presença do secretário da tutela, vosselência (refiro-me ao monumental encerramento), e do presidente do desgoverno. Logo ambos os vosselências, foliões que mal o rajão dá um acorde começam a cantar e a bailar com as nossas viloas.
A única desculpa é o caso da cana, lá em cima nos Canhas. Parece que havia recepção popular pouco amigável preparada para ambos.
Para abreviar, e sem me esquecer de lhe dizer que o nosso Marítimo já pôs a bola a saltitar na Imaculada Conceição e que, na pré-campanha das autárquicas, Zé Manel Rodrigues montou a sede popular em instalações alugadas a um apoiante de Bruno Pereira (Eng.º Rui Alves), o que faz cheirar a coligação em breve, eu propunha-lhe o seguinte:
- Uma vez que, por aqui, vosselência nunca executa nada, e à semelhança dos seus co-governantes vai prometendo coisas para depois o povo se esquecer delas; e levando em conta que aí na Venezuela são só êxitos e contratos empresariais e acordos na imobiliária e exibições de coragem, deixe-se ficar por aí. Parece que a Venezuela está feita para delfins. Não se esqueça dos êxitos retumbantes que Miguel Albuquerque já registou em situações anteriores.
Para que os resultados sejam 100% positivos, veja se consegue uma 'carta de chamada', se é que ainda se usa disso, a fim de atrair o seu 'Meio Chefe' para junto de si, aí nas Venezuelas. Ele anda há tantos anos pelas Europas e nada faz de útil pela Madeira. Com ele, as viagens não dão 'bons resultados' como acontece com vosselência. Ele regressa da Europa é com uns quilos a menos, porque viajar é cansativo.
Burro velho não aprende línguas, é certo, porém, com o dinamismo de vosselência, caro Manel, com o fulgor que o JM tem mostrado da sua estada por aí, o seu 'Meio Chefe' terá de acertar uma, lá de vez em quando, se for para o seu lado.
E, de preferência, arranje-lhe um ranchito lá em cima em Petare (estamos a brincar, porque, se lhe fizessem essa partida, o homem mandava-se logo para uma vivenda em Miami, como os venezuelanos com cabeça fazem).
Se, por um assomo de realismo, aceder mesmo a ficar em Caracas e mandar chamar o seu 'Meio Chefe', aí, sim, a manchete do JM de hoje, segunda-feira, acertou em cheio: "Missão está a dar resultados".
Adeus, até ao seu condicionado regresso.
P.S. - Se ficar e se der bem nessas paragens, não se esqueça dos outros delfins. A Venezuela é grande, dá para todos.
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