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terça-feira, 20 de agosto de 2013

MEDIA



A RÁDIO PÚBLICA TAMBÉM ARDEU


Ao contrário dos tempos do PREC, em que apanhava com bombas por cumprir o dever, a RDP hoje desfaz-se em cinzas, sozinha.


O sinistro na telefonia do Estado eclodiu há mais tempo, mas os incêndios na Madeira, ainda em fase de extinção, mostram mais uns restinhos de rádio pública no meio dos escombros.
A modos que se consumiram nas chamas os últimos alinhamentos e o brio profissional que os trabalhadores vêm tentando alimentar na tentativa de salvar o fenómeno da rádio pública na Região.
Faz pena. A RDP, estação à volta da qual girava outrora toda a informação nesta terra, além do entretenimento, desapareceu quase totalmente de há uns tempos para cá, consumida na irresponsável aridez de mentes contratadas para dirigir órgãos de comunicação social de responsabilidade máxima.
Viu-se nos últimos dias de incêndios. O que noutros tempos, e não é preciso recuar muitos anos, seria um trabalho rádio a tempo inteiro e em cima de todas as incidências, no cumprimento empenhado do serviço público que dá razão de ser à RDP, não passou de uns remendos despachados para o ar avulso, aqui e ali, conforme as contas de mercearia que Miguel e Martim fazem lá dentro.
E muito fizeram os bravos e competentes profissionais da casa (a quem saúdo entusiasticamente), trabalhando isoladamente, por turnos. Sem equipa envolvida na marcha dos acontecimentos.
Com meia floresta do Funchal a arder - mais casas consumidas pelas chamas, um hospital evacuado, pânico em vários sítios e freguesias - demos pela falta do serviço público radiofónico sem-fim que já houve. Um serviço contínuo dia e noite, a relatar a evolução dos acontecimentos, a prestar informações úteis como o corte de estradas e procedimentos especiais a adoptar; indicações oficiais sobre a utilização da água e a direcção do vento, por exemplo; a ligação entre pessoas desencontradas; os apelos à serenidade ou à rapidez de acção conforme as circunstâncias. 
Depois de uma ausência confrangedora de sexta para sábado, a rádio pública nem compareceu à conferência de imprensa marcada para as 12 horas de sábado, destinada ao ponto da situação a fazer pela Protecção Civil do Funchal. Os madeirenses, e não apenas, aguardavam com ansiedade o balanço desse momento.
Avidamente sintonizámos a Antena 1 regional. Mas qual conferência de imprensa em directo! O que nos deram foi um noticiário... nacional. Um noticiário com abertura relevando a polémica sobre a realização de uma corrida de touros em Viana. Informação sobre os incêndios na Madeira, escassa, apenas mais adiante.
Pois se na manhã do mesmo sábado, em lugar de termos uma Antena 1 a dominar a informação na Região, 'em cima' dos incêndios, na perspectiva de serviço público, ficámos a ouvir os trunfos turísticos de Celorico de Basto, de Albufeira e por aí fora!

Miguel, Martim! Gostamos muito de ouvir falar em Celorico e no seu filho mais notável, o Prof. Marcelo. Adoramos Albufeira, a praia e aqueles pubs todos. Interessamo-nos pela polémica do sim ou não às touradas. Mas então que se arranje um espaço para a Antena 1 nacional. E outro para uma rádio regional de serviço público.
Convém, Martim e Miguel, lerem a legislação que estabeleceu o serviço público de rádio em Portugal.
Ai os senhores não têm autonomia para manter os seus jornalistas ao serviço em número capaz, muito menos nas férias? Lisboa manda os jornalistas da rádio empenharem-se mais na RTP? Nos feriados fica tudo em casa por causa do trabalho extra? À noite muito pior, por causa da despesa em horas nocturnas? Não conseguem fazer directos porque a Marechal Gomes da Costa 'chateia' no pagamento do satélite?
Então como é que, quando as vedetas nacionais cá vêm trabalhar, ninguém olha a custos de transportes, a preços de hotéis, a ajudas de custo... ficando os profissionais da Madeira de braços cruzados?!
E aí não há o drama do satélite?
Pois, são eles que mandam... 
Mas não foi Miguel Cunha a regozijar-se com a vinda dos Jorges Gabriéis, Baiões, Romeros e mais outras vedetas, porque assim "dão projecção nacional" ao canal da Madeira? 
Raio de conceito de boa televisão, cavalheiros! 

Tudo muito simples. Lisboa avisa para não gastar e pronto, nada se faz aqui, nem sequer numa situação como a tragédia dos incêndios. Para que existe então a RDP-Madeira? Senhores, façam o serviço mínimo pela vossa própria dignidade. Se não conseguem cumprir a lei do serviço público rádio, passem a responsabilidade para a administração de Lisboa. E demitam-se imediatamente, justificando a decisão: foram contratados para um determinado serviço que não podem garantir. 
Custa? Pois custa, pelos vistos. Custa quando se vai para os cargos pensando em segurar a cadeira até morrer.
Pois continuem na vossa alta missão de falhar o compromisso que assumiram. A vós se fica a dever, historicamente, a falta de um serviço público de rádio nesta Região.
Graças aos senhores, a Madeira regrediu 40 anos em matéria de rádio. Estamos pior do que na época em que a estação oficial abria às 10 com o hino e fechava às 23 com o hino.
Só mais um pormenor: a vossa indiferença com a rádio não é inocente. Desculpem a franqueza. Porque ela, no fundo, agrada a um cavalheiro que tem defendido a extinção da RDP-M como emissora autónoma. O 'rei da autonomia da Madeira' quer a RDP-M pendurada na emissão nacional. E porquê? Porque tem contas a ajustar com os jornalistas daquela casa. Para cumprir a promessa de "fechar aquilo", feita quando esses jornalistas, num assomo de brio jornalístico, recusaram dar continuidade às ridículas e ditatoriais 'notas oficiosas' que sua excelência, o 'rei da autonomia', expelia diariamente, como Goblet fazia na Alemanha nazi.
Já encontrou quem lhe faça o servicinho.


3 comentários:

Anónimo disse...

O militar de camuflado, à direita, não é o Ricardo Silva, o actual ex-director da PJ? Será que já passava informação àquele que nós sabemos?

amsf

Anónimo disse...

afirmativo o militar é o então alferes Ricardo Silva.
só que já não pertençe á PJ , está reformado

Anónimo disse...

Tem toda a razão o Calisto: no 20 de Fevereiro a Daniela Maria esteve no ar desde as 11h da manhã a acompanhar as consequências do terrível temporal. Trabalhou, quase ininterruptamente até às 20,30h chamando outros jornalistas para o terreno. Onde não havia jornalistas ela conseguiu colocar no ar as pessoas que estavam no meio do temporal. Recordo-me que deu voz a dezenas de pessoas que usaram a antena da RDP para pedir ajuda, lançar apelos, relatar os incidentes, etc... Muita gente salvou a sua vida ao sintonizar a RDP que dava informações sobre os caminhos por onde não deveria a população ir. Na Televisão a Tânia Spínola esteve no ar largas horas e provou que, tanto na rádio como na televisão, não são necessárias estrelas para fazer o excelente trabalho que os nossos jornalistas tão bem fazem. Mesmo nos incêndios desta semana tivemos muita gente no terreno que fez um excelente trabalho: O Cesário Camacho, o Filipe Gonçalves, a Catarina Cadavez, o Paulo Jardim, a Patrícia Cassaca entre tantos outros que fizeram o que puderam. Contudo faltou uma emissão permanente, como no 20 de Fevereiro...