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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

POLÍTICA DAS ANGÚSTIAS



Derrocada do laranjal ao fim de 40 anos

JARDIM ROMPE COM JAIME RAMOS


* Um artigo no JM desta sexta-feira acusa o secretário-geral de tecer uma 'teia' contra o líder do partido, "roubando-lhe o habitual controlo" da campanha eleitoral. 

*Jaime terá sido chamado ontem (quinta-feira) ao Palácio das Angústias, para ouvir frente a frente o termo de um pacto com quase 40 anos.

* Na origem da ruptura, o apoio do líder parlamentar a Miguel Albuquerque, que vem de trás, diz o chefe



Foi bom enquanto durou. Agora, a guerra civil.



O Partido Social Democrata da Madeira não tem mais por onde rebentar. Um artigo publicado esta sexta no JM, não assinado mas certamente da autoria de Jardim, dá conta de que a implosão no partido se completou agora, rebentando-se o único elo que o próprio Jardim ainda julgava seguro: o seu estranho pacto com o secretário-geral Jaime Ramos.
Acabou-se.
De facto, Jardim parece já convencido de que Jaime se inclina para uma sucessão com Miguel Albuquerque na liderança do PPD - a posição que mais dói ao ainda presidente regional dos laranjas. Mas esse apoio vem de trás, como aqui dissemos há dias. 
Jardim, ele próprio, retoma hoje o processo das eleições internas (Novembro de 2012) para explicar por que se acha uma presa sob fogo dos "sectores internos do partido mais ligados à economia".


Jardim e a Meia Serra: Jaime quis beneficiar de uma situação ruinosa para a Madeira


Jardim não aponta nomes no seu artigo, mas deixa propositadamente que se perceba onde quer chegar, ao escrever que o descontentamento desse "sectores económicos" do PPD "começou a ser mais notório quando o secretário regional Manuel António impediu uma situação financeiramente ruinosa para a Madeira, na estação da Meia Serra". Descontentamento agravado ao saberem depois esses "sectores económicos" que Jardim apoiava a candidatura "do colega de governo [Manuel António] à sua substituição, prevista para o fim do ano que vem".
Ora, quem tentou fazer com a estação da Meia Serra o negócio que o presidente do governo considera "financeiramente ruinoso para a Madeira" foi precisamente Jaime Ramos, em sociedade com o empresário Luís Miguel de Sousa.
Resumidamente, aconteceu isto: Jardim andava com a ideia de acabar com a concessão dos serviços da Meia Serra à PRIMA, empresa que o Eng.º Jardim, por morte, deixara à mulher. Quando Jaime Ramos e Luís Miguel de Sousa compraram a empresa à viúva, com a ideia de apanharem a exploração da estação de tratamento de lixo em causa, já Manuel António Correia, secretário do Ambiente, resolvia levar à prática o fim da concessão. 
Assim, Jaime e Luís Miguel não exploram hoje a Meia Serra. A PRIMA reduz-se a realizar consultadorias e projectos.


Facas nas costas começaram em 2011


O artigo não assinado de hoje, presumivelmente escrito por Jardim, afirma, recuando ainda mais no tempo, que o chefe das Angústias notou o "primeiro sinal de que tentavam enfiar-lhe uma faca pelas costas" já durante as eleições regionais de 2011. Nessa altura, diz a peça, "alguns indivíduos do PSD local" apoiaram a hostilidade maçónica nacional contra Jardim.
Explicação dos objectivos: tentava-se, à época, "recriar também na Madeira a coligação no poder em Lisboa e respectiva ideologia, prática e interesses", estratégia à qual - acrescenta - "desde a fundação do PSD-Madeira Jardim sempre se opôs".
Relato falso neste pormenor. Por várias vezes o líder do PSD-M propôs a coligação do PPD com o CDS, ao nível nacional, e admitiu fazer o mesmo um dia na Madeira, se as circunstâncias o aconselhassem. Mas não vem ao caso.


Ponto fraco de Jardim: ter confiado na 'máquina' de Jaime


O artigo do presidente do governo é revelador da sua falta de força hoje no interior do partido. O autor queixa-se da "tentativa dos lóbis económicos (internos) para apagar Jardim", através do controlo da opinião pública pela informação. Daí os ataques desses lóbis visando a extinção do JM. E o autor do escrito assume: "O ponto fraco do líder do PSD-Madeira foi o de nunca ter prestado demasiada atenção ao partido."
Jardim entende agora, pois, que não devia confiar tanto na célebre 'máquina laranja', dominada sem limites por Jaime Ramos.
As queixas no artigo roçam o choradinho político, dando relevo ao facto de Jardim só frequentar as instalações dos Netos uma vez por mês, para as reuniões da comissão política, ou então por alturas das campanhas eleitorais.
Tudo para mostrar como perdeu mão no partido.
Novo exagero do chefe. Ele faz três rondas anuais pelas comissões políticas de freguesia, organiza reuniões por todo o lado quando se aproximam congressos ou eleições. Portanto não é uma reunião por mês, não são 12 por ano - mas mais de 200.

Um partido cada vez mais difícil... para o líder

O líder confessa ter sido "absolutamente surpreendido" quando das eleições internas de Novembro último. Enquanto conseguia "ligação e aproximação à população em geral", já o partido "foi-se-lhe tornando difícil".
Jardim leu mal a situação nessa altura - dizemos nós. O mal-estar causado pela sua liderança não se circunscrevia ao partido, espalhava-se por toda a Madeira. Como poderá comprovar em Setembro, nas eleições, embora empurre já - como faz com este artigo de hoje - as responsabilidades para quem estiver mais à mão.
Uma das desculpas para 'sacudir a água do capote' em caso de 'espalhanço eleitoral' é acusar a máquina do partido de "descentralizar a campanha ao nível das freguesias, o que antes nunca sucedeu". A quem se dirige concretamente Jardim? Ao mesmo a quem se dirigiu na passada reunião da comissão política. 
Nessa reunião, avisou frontalmente Jaime Ramos de que, se as coisas correrem mal, a responsabilidade não é sua, mas de quem opera tal descentralização. A esse propósito, o artigo de hoje lembra que sempre lhe coube a ele, Jardim, "a direcção estratégica de todas as campanha".
Mais: os 'culpados' adoptam essa campanha ao nível de freguesia, em estilo de amadorismo incompetente, para que, "perante eventuais resultados cujo controlo foi assim roubado ao líder, depois este se tentar responsabilizar."

Leitura surreal da situação

O artigo refere que a "pouca atenção à vida partidária" dada pelo chefe se deve à dedicação quase exclusiva ao governo regional - nas inerentes relações com os governos de Sócrates e Passos-Portas e nos compromissos internacionais, além de acorrer às "sucessivas crises" que se abatem também sobre a Madeira.
Bom, temos de intervir aqui.
Reuniões com os governos de Sócrates e de Passos-Portas, Jardim que as enumere, porque quase não recordamos nenhuma. Talvez aquela no aeroporto, quando Sócrates passou pela Madeira, assim a correr.
Compromissos internacionais, o líder dos líderes que não 'goze' ainda mais o martirizado povo.
Acorrer às crises, bom, que raio de medida tomou chefe para ao menos mostrar uma ideia?
Lá continuamos todos a ter de aguentar estas leituras surreais... da realidade.


Tudo porque Jaime apoia Miguel Albuquerque

A ruptura com Jaime Ramos agora decretada, e isto não é apenas um supor, deve-se fundamentalmente ao noticiado apoio do secretário-geral a Miguel Albuquerque. De um momento a outro, Jaime vê-se entre os "inimigos de Jardim no interior do partido". O que começou a desenhar-se, a avaliar pelo surreal escrito de hoje, "desde que Jardim denunciou a maçonaria e o respectivo mundo dos negócios".
Jaime faz parte agora da "movimentação" gerada para abater o seu eterno líder. "Aproveitando o actual momento de crise económico-social", escreve o articulista, os lóbis económicos locais, com Jaime na vanguarda, tentam ver-se "livres da pessoa que nunca consentiu o primado do económico-financeiro sobre a política" - palavras do punho de Jardim, embora o 'incluso', noutras partes do inaudito texto, tenha sido matreiramente substituído por 'inclusive' e 'inclusivamente'.
Jaime agora tem de digerir um discurso que antes só acontecia aos outros. Como este de hoje: "Trata-se de uma conjuntura que une inimigos económicos entre si, mas que vêem em Jardim um obstáculo à prioridade dos poderes económicos, inclusive porque o governo regional continua a dar prioridade às despesas sociais."
Ou seja, Jaime: se as coisas continuarem nas mãos do chefe, e mesmo que volte a chover dinheiro, o ciclo das obras parou.


Jardim chamou Jaime antes de 'romper'

Segundo nos afiançam, Jardim não explodiu sem avisar Jaime Ramos cara a cara. Terá chamado às Angústias, esta quinta-feira, o secretário-geral. Uma vez que saiu hoje o artigo a que nos reportamos, o encontro não serviu para esbater a crispação. Pelo contrário.
Porque Jaime também não anda satisfeito. Um dia destes, ao princípio da tarde, o líder do grupo parlamentar laranja trocava exacerbadamente opiniões com Luís Dantas, antigo chefe de gabinete de Jardim, ao lado da entrada do cais. Quem ouviu a conversa percebeu o tema: a continuar assim, vão rebentar o PSD na Madeira! 


Férias no Porto Santo: areia que foge de baixo dos pés

É neste clima de ruptura total que Jardim começa férias no Porto Santo, as primeiras em que sente a areia fugir-lhe de baixo dos pés.
Veremos que movimentações se dão pela pequena ilha, onde a RTP já se passeia com a habitual equipa de reportagem. 
O candidato ao Funchal Bruno Pereira já lá se encontra, como também é habitual. E com uma inesperada companhia frequente - Jaime Filipe Ramos. Jaime Filipe, a quem alguns barões do partido apontam o favorecimento recebido da máquina do partido chefiada por seu pai: adjudicação da campanha eleitoral PSD (Funchal e São Vicente) à sua agência publicitária ControlMedia.

O Verão quente na política madeirense, com incidência no PPD, promete prolongar-se muito para além de 29 de Setembro.
Entretanto, falamos.

7 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro Luís Calisto

Será que, finalmente, Jardim ficou a saber quem é que manda no partido?

Anónimo disse...

Guerra declarada...Miguel Sousa deu o pontapé de saída ao se afirmar contra JR...e agora certamente vai capitalizar esta frontalidade para uma disputa com Albuquerque. AJJ que saia de cena e deixe contar as espingardas depois de Outubro...

Anónimo disse...

Mais uma análise política que vale a pena ler.

Luís Calisto disse...

Tenho sérias dúvidas, caro Coronel.

Vico D´Aubignac (O Garajau) disse...

Caríssimo Senhor Luís Calisto,

Contabilizamos 17 segundos – para conseguir aceder à zona dos comentários do seu Blogue, a partir do momento em que clickamos no sítio atinente.
….Acha que todos aqueles infernais computadores Macintosh capitaneados outrora pelo Sr Estanislau Barros e pelo Sr Eng.º Taboada, e que pulverizam o Bunker da rua dos Netos - agora supervisionados pelo Sr Filipe Malheiro - possam estar ao serviço da lentidão que enfrentamos no acesso aos comentários?
Desejos de um Santo e calmo fim-de-semana – Longe da loucura!

Luís Calisto disse...

Não pomos as mãos no fogo pelos Mac nem pelos instintos dos seus infernais pulverizadores. Mas pomos as mãos pelo nosso Amigo Filipe Malheiro, que tem mais que faça do que contribuir para as safadezas que certos cavalheiros adoram fazer a este pobre blogue.
Bom fim-de-semana tb.

Anónimo disse...

A Guerra Fria finalmente aqueceu! E que rebente antes das Autárquicas para arrancar as laranjeiras que pululam em todas as câmaras.