PRÉ-CAMPANHA

ESTE PSD DE ALBUQUERQUE

ANDA UM POUCO ESTRANHO

Divulgação na imprensa da lista dos candidatos sem uma consulta prévia à comissão política, eis um dos tiques da arrogância que extravasa do Laranjal para fora  

Nunca mais ouvimos falar de uns propósitos constantes deste catecismo.

Depois de uma euforia com dois momentos de fulgurante apogeu - segunda volta das eleições internas e congresso de Janeiro -, o renovado laranjal entrou num período como que de hibernação. O que se estranha, quando faltam poucas semanas para o decisivo 29 de Março. 

O PSD-Madeira passou do folclore inauguracionista e comicieiro destas alturas eleitorais para um tipo de propaganda que mais se parece a um velório. Do oitenta e oito para o oito. Ora, esta guinada na estratégia publicitária não é a mudança de estilo ideal que realmente se impunha, do velho para o novo PSD. Pode pensar-se que o estilo de Albuquerque é assim mesmo: discreto, sem adros, fogachal e festins, até porque a época desaconselha os excessos. O pior é que, desse modo, nada se está a perceber das mensagens que o candidato a presidente do governo esteja eventualmente a tentar passar nos encontros com populares, praticamente à porta fechada - e com repetitivas declarações aos jornalistas, no final.

As outras candidaturas também não andam propriamente a entusiasmar as massas. Mas ao menos tentam. E estão mais próximas de criar onda com nervo de vitória, consoante os objectivos de cada uma delas. 

Miguel Albuquerque fechou-se na Rua dos Netos com Rui Abreu e Sérgio Marques - Sérgio que dentro em pouco verá concluídas as obras no 5.º andar, onde trabalhará com os operacionais do seu gabinete de estudos. Ao que nos garantem, Adolfo Brazão é o quarto elemento do núcleo que tomou em mãos os destinos do partido.  

Eles vão tomando as suas decisões lá nos aposentos do Laranjal, enquanto pelos corredores do partido muitos descontentes insistem em condenar o esquema dos velhos amigos Albuquerque-Adolfo-Sérgio que levou a escolhas singulares para o novo organograma social-democrata. 

Continua por digerir a colocação de Adolfo Brazão, até há pouco quase desconhecido no seio do PSD, como presidente do conselho regional e do congresso, cargo sempre atribuído a personalidades com prestígio no partido. Para não falar na indicação do mesmo Adolfo Brazão para candidato a presidente da Assembleia Legislativa - quando carece de experiência parlamentar, ao contrário dos presidentes anteriores e do actual.

Albuquerque fala em renovação. Ora, para fazer render a paciência do Leitor, nem sequer vamos apontar os nomes da lista para deputados que negam esse desiderato renovador.

Sem dúvida que certas escolhas foram feitas de forma autoritária, sem hipótese de discussão. O líder tratou as listas de tal maneira que os próprios seleccionados para candidatos ficaram a saber pelo jornal em que posição iam. Nem sequer a comissão política foi ouvida - ou pelo menos informada antes da publicidade na imprensa. Da mesma forma que o conselho regional vai entrar para a reunião do dia 21, parece, para ouvir factos consumados. E mesmo que ainda não se soubesse dos nomes, a entrega de listas terá de ser feita até dia 18, portanto antes do conselho. Será que o conselho foi mal programado?

Este procedimento unilateral de Miguel Albuquerque enlaça-se com o desprezo que parece ter dirigido à divulgação pelo 'Funchal Notícias' do processo que o Banif moveu contra um grupo de pessoas de que faz parte exactamente o seu número 2 na lista - outra vez Adolfo Brazão. O assunto percorre as redes sociais, num crescendo de suspeitas. E o PSD, que vê a sua segunda figura da lista como alvo de conjecturas em matéria económica, pura e simplesmente se abstém de um mero comunicado a explicar a situação. Julgamos que, se quiser conservar Adolfo na posição da lista em que está neste momento, o partido que o candidata precisa de dissipar o ambiente, sob pena de castigo nas urnas.

Idem aspas, ainda não ouvimos uma explicação em público sobre a ausência da lista de elementos afectos às ex-candidaturas de Manuel António Correia e de João Cunha e Silva. É que, à primeira volta, Cunha e Silva obteve 15% dos votos. Manuel António recebeu mais de 30 % na finalíssima. Custa perceber como podem eles ser ignorados, quando ambos valem quase metade do partido. Mais a mais, quando outros candidatos com menos votos entraram, eles próprios, na lista de candidatos.

Quando tanto se falou em unidade...

Não vamos referir de novo a varredura às figuras de fora do Funchal. Mas temos de fazer um reparo: as apostas centraram-se na capital porque, explicam os próximos de Albuquerque, a ideia foi colocar nos primeiros lugares da lista elementos com hipóteses de integrar um governo. Para que estes sejam sufragados pelo povo. Ora, enquanto a lei não mudar, estas eleições são para escolher deputados, não governantes, mesmo que isso se faça noutras paragens.

A pré-campanha anda nisto. Albuquerque a preencher programa nas instituições e associações dos vários concelhos, prometendo continuar os contactos directos com o povo, a fim de deixar uma mensagem de renovação. Mensagem muito vaga, como se tem visto até hoje. Não se tem ouvido falar no navio para Lisboa, na promiscuidade com a Igreja, na política da subsidiodependência que alaranjou a Região inteira, no tipo de apoios ao desporto, na fórmula para nos aliviar da brutal dívida regional e em muitos propósitos constantes do burilado catecismo a que Albuquerque chamou de 'Renovação'. Estes temas delicados não têm sido reportados no JM. 

A propósito, também nunca mais ouvimos Albuquerque estuporar com a "vergonha do Jornal da Madeira". Nem o temos ouvido 'condenar' o papelucho à quimérica privatização. Será que o dito-cujo jornal começou a dar jeito?

Muito estranho.