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quarta-feira, 20 de abril de 2016

ENTREVISTA DO PRESIDENTE



A LESTE NADA DE NOVO





O que notámos de diferente nas cenas passadas ontem na RTP foi um certo revivalismo do anterior regime, nalguns tiques que desconhecíamos em Miguel Albuquerque, e até na barulhada das araras, que mal deixavam perceber as teorias do Blue Establishment na explicação do inexplicável. Valeu a Miguel deparar-se com uma conversa sem espírito do contraditório.


Com a benevolência dos Leitores e do Blue Establishment para o sacrilégio, permitam-me confessar que a entrevista de ontem à noite na RTP-M, gravada de dia, me fez lembrar, aqui e ali, os tempos do antigamente. Desde logo pelo ambiente exterior de azulejaria presidencial, renovado mas bem tratado, sem os cadeirões de vime à Marquês de Pombal mas com uma mobília também de vime pintado a branco. Pelo menos pareceu. Francisco Clode não brinca em serviço. Depois, com o teimoso grasnar das araras, a tender para a gritaria... Se Clode montasse ali uma mesa com uma garrafita de Johnnie Walker e um cinzeiro, Miguel soltava umas baforadas azuis do havano, e estávamos conversados em matéria de ambiente tradicional nas Angústias, sede real da Tabanca.
Ainda em matéria da forma, a entrevista teve mais parecenças com as que Jardim dava nas alturas solenes. Miguel não respondeu torto às perguntas mais complicadas, até porque não as houve. Logo, não foi preciso dizer ao jornalista entrevistador, que teve sempre o cuidado de se dirigir com respeitinho ao "sr. Presidente", que ele estava a fazer uma pergunta encomendada pelo seu "partido da esquerda comunista", como na era da velha senhora se ouvia. Mas Albuquerque, coisa nunca antes ouvida, saiu-se mais de uma vez com um autoritário "deixe-me acabar!", nas alturas em que estava mais ou menos por dentro da matéria e se sentia capaz de encher mais chouriço para que o tempo limite da entrevista chegasse depressa e sem grandes convulsões.
É que a entrevista foi uma chouriçada. Uma conversa para cumprir calendário, sem sal nem pimenta, e com o entrevistado a seguir o exemplo do antecessor na tentativa anacrónica de pintar as realidades à sua maneira, para fazer crer, não sabemos a quem, que a Madeira não enfrenta problemas que dêem para 'aquecer'. Assim que o jornalista de serviço aflorava tema que pudesse atrapalhar o aniversariante, Miguel derramava latas de tinta branca sobre o assunto, certo de que não haveria contraditório.

O Presidente não se acanhou para teimar no seu registo. Bem podia desabar uma trovoada sobre o cenário que ele não mudaria o tom cordato nem admitiria que o seu partido e a Madeira atravessam tempos que lhe deviam merecer respeito e até receio.
Não senhor. A Madeira tornou-se "credível financeiramente", até já foi aos mercados buscar 185 M deles, já abateu 863 M à dívida directa e indirecta, baixou preços dos combustíveis...
A madeira cortou no ISP?! Deve haver mais de uma Região. Há economistas de nomeada que nos garantem: este governo regional, que em Dezembro deveria ter mandado o PAEF para o lixo, continua subordinado às regras impostas por esse colete de forças, ISP incluído.
Que remédio, Miguel Albuquerque teve de admitir que, contra o prometido, afinal os impostos não podem ser baixados abruptamente, mas devagarinho, nas calmas. Também já começa a concordar noutra realidade: o ferry um dia virá, mas provavelmente só para viajar no Verão e na Primavera, e não durante todo o ano. Inversões de discurso sem drama, tudo muito normal, como quem muda de camisa.  

Quanto ao Turismo, só há números de recordes. Umas estatísticas de ouro que nos deixam a matutar: de que é que os trabalhadores da hotelaria continuam a queixar-se com tanta veemência, perante o eldorado que os governantes vêem no sector?
E depois é a política oficial de promoção da Madeira, que, pelo 'cagaçal' de Miguel, em coro com a imprensa afecta, há-de rebentar todos os recordes na Madeira e no Porto Santo, desde as dormidas ao revpar e ao movimento dos aeroportos.
Se bem percebemos, o indicador que tanta moral dá ao governo reside nos likes no facebook de Cristiano Ronaldo, na página sobre a Madeira. E se a política regional de turismo assenta essencialmente na aposta feita para os likes num espaço do melhor futebolista do mundo, quem pode contestar a original estratégia sem apanhar com um rótulo de reles e sacrílego iconoclasta?
Bom, também é preciso contar - como lembrou Miguel Albuquerque - com a comercialização do boné que ele mesmo usou no desfile da flor. Diz que aquilo foram fotografias no facebook que até fazia impressão. A ponto de Miguel ter mandado um exemplar do boné, feito de saia de viloa, para o Presidente da República! Melhor ainda: houve logo umas dezenas de pedidos desses bonés! Foi o que o homem disse ontem na entrevista de Estado.
Reconheçamos também: o peste do boné pode não ser a solução para mexer a olhos vistos com a economia. Mas é este tipo de empreendedorismo que, como a formiguinha, vai pingando nas contas do PIB regional.

Desemprego na Madeira? Hum, não é como pintam a situação, quis dizer Albuquerque. Então o Vale da Ribeira Brava não vai resolver tanta coisa? E as pequenas e médias empresas de construção não irão, mais semana menos ano, dar emprego pelos diversos concelhos? Brilhante! O diabrete do caminho real da Calheta ainda rendeu na entrevista de ontem, quando Miguel tentava livrar-se do incómodo tema do desemprego. 
E vêm aí novos hotéis como cogumelos, por exemplo a recuperação do Santa Maria, que deve estar cheio de caganitas e teias. 
E a venda de casas que subiu 34% de 2014 para 2015! 
E as receitas milagreiras do CINM, que é auditado anualmente, tem credibilidade e goza da sua posição estratégica, apesar das campanhas adversas montadas pelo radicalismo ideológico posto ao serviço das praças concorrentes. 
Mais um empurrãozinho bem dado e Miguel, sobre este assunto, acusava de sinistro complot o George Bush, a Trilateral e a Maçonaria!
Claro, estamos a fazer um pouco de humor.
Mas... credibilidade, um centro de negócios que anda nas bocas do mundo? Uá! 
Então e o MAR, rebuscou o chefe do Executivo! É o 3.º registo ao nível europeu!

Região azul, esta que vemos a negro. É verdade que segui mal a entrevista, porque o raio das araras raramente deixavam ouvir o que Miguel dizia. Um chinfrim mais irritante do que o Parlamento em dia de casa de loucos. As araras, em contraste com a Sissi, que deve ter sido levada para as traseiras do palácio, dominaram a entrevista. Coincidência ou não, elas caíram em cima do presidente quando ele, se não me engano a propósito do ambiente interno do PSD, classificou as críticas de "muito ruído". Os bichos embraveceram de tal maneira que ficámos sem perceber a ideia. A sério.
Não fora Miguel Albuquerque - porque a paciência tem limites - estar fulo com estas prosas aqui, passíveis de aparentar perseguição, eu dava-lhe uma telefonadela hoje a dar-lhe parabéns pelo aniversário e a pedir-lhe que me indicasse onde fica essa Madeira paradisíaca que eu não consigo descobrir e de que ele fala como com a maior naturalidade deste mundo. 

11 comentários:

Anónimo disse...

Um entrevistador que não insistiu, que não incomodou, que não teve coragem para se impor com perguntas que o povo quer ver respondidas.
Não se trata de ser jornalista da Oposição.
Trata-se de Ser Jornalista.
Um bluff

Anónimo disse...

Tratava-se de uma entrevista de aniversário...nos aniversários, e noutras datas, há que ser simpático com quem manda...

amsf

Anónimo disse...

Muito bem Sr. Calisto, gostei de ver o requinte desta sua crónica de uma morte anunciada.

Anónimo disse...

Tem cá um aspeto, este presidente!!!

Anónimo disse...

O entrevistador, não lhe posso chamar jornalista, foi de uma pobreza franciscana. Sem acutilancia, sem perguntas sobre o que realmente interessa, sem contraditar. Muito fraco.
A entrevista foi palha, sem interesse, com o presidente a dizer banalidades. E, a usar números para justificar sucesso que não tem, nem decorrem da acção do seu governo.
O turismo está em alta (logo sobe o revpar como é óbvio), tal como está noutras zonas que aproveitam o facto de destinos como o norte de África, Grecia e até Turquia, estarem com graves problemas, havendo um desvio dos tour operators para outros destinos, Madeira incluída.
A subida no imobiliário decorre quase exclusivamente da aplicação de poupanças. Como as contas a prazo já não dão juros, e as pessoas já estão escramentadas de bancos, passaram a aquirir para arrendar.
Nada disto tem a ver com a governação do Dr. Miguel Albuquerque.
Sobre a saúde era melhor nem ter falado.
Esperava mais, muito mais.

Jorge Figueira disse...

A mim preocupa-me o réptil que sairá deste ovo. A gestação vai longa e muito mal acompanhada.
É assim uma espécie de Brasil. As elites caminham em frente agindo em função dos seus interesses que, normalmente, se resumem a dinheiro - muito de preferência - e poder. Alguém se preocupou com a catástrofe que tornou a vida num inferno numa área aproximada à de Portugal? As populações tiveram de ser abastecidas com água transportada de helicóptero. A exploração mineira contaminou o Rio Doce causando danos graves à natureza e e cidade Gov. Valadares pagou pesada factura. Alguém se preocupa com isso?
Por cá que planos para o futuro temos nesta terra? Tricas e mais tricas na TV e jornais, coisas sérias nada

Luís Calisto disse...

Caro Dr. Jorge, boas perguntas para colocar a Miguel Albuquerque ontem, na TV.

Jorge Figueira disse...

A Miguel Albuquerque sem dúvida. mas também a muitos mais.

Anónimo disse...

porque razão a entrevista não foi conduzida pelo jornalista Gil Rosa?

Paulo disse...

Ainda sobre o comentário de Jorge Figueira.
"A mim preocupa-me o réptil que sairá deste ovo".
"A gestação vai longa e muito mal acompanhada".
Eclodirá do ovo a elite que extravasará de longe, a participação dos ingleses na ilha, ou seja, a sousalização, que por incrível que pareça na fase embrionária já governa o Governo Regional, estes, serão marionetas do regime sousalista que substitui o regime jardinista.

Anónimo disse...

Se fosse o Gil Rosa não faltava os idiotas a dizer que ele era o faz-tudo na RTP Madeira, antiga RTP do Luis Miguel Sousa (será mesmo a antiga?)