Powered By Blogger

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

 

MORREU O NOSSO PRESIDENTE


Jorge Sampaio respondeu espontaneamente: não tencionava deslocar-se nos tempos mais próximos à Madeira, por excesso de trabalho. Mas logo percebeu melhor a intenção da pergunta e esclareceu as coisas.

Era 7 de Fevereiro de 1995 e o então presidente da Câmara da capital portuguesa compareceu na Reitoria da Universidade para confirmar a já esperada candidatura à Presidência da República.

No curto período destinado às perguntas dos jornalistas, preparava-se já o candidato para descer as escadas em direcção ao automóvel que o aguardava na Alameda, consegui fazer-me ouvir: o candidato admitia visitar a Madeira na campanha eleitoral?

A resposta surgiu institucional, informativa: não teria tempo para visitas nos tempos mais próximos, incluindo a Madeira. Acto contínuo, parou a esclarecer, com expressão firme: "Mas eu irei a qualquer parte do País!"

O recém-candidato percebeu no instante a insinuação da pergunta, decorrente dos aparatosos confrontos com Alberto João Jardim que vinham marcando os mandatos do ainda Chefe de Estado Mário Soares. Deixou Sampaio muito claro que iria à Madeira sempre que entendesse, mau grado o ambiente de tensão característico dos périplos de Soares pelo Arquipélago - guerras políticas que à época fizeram furor aos níveis regional e nacional.

Jorge Sampaio mostrou a mesma firmeza quando de uma entrevista para o DN-Funchal, tempos depois, nos pontos de vista sobre o sempre periclitante relacionamento Madeira-Lisboa. Sempre diplomata e cavalheiro mas sem abrir mão da autoridade inerente ao alto cargo recebido das mãos do povo. Assim foi durante certo período de visita presidencial à Região, dias conturbados com o chefe insular laranja na brecha. Momentos de tensão na inauguração de um bairro camaralobense e na deslocação ao inenarrável e imundo casarão do Porrão, a que a presença presidencial garantiu civilidade e a elevação possível nas circunstâncias.

Além do trabalho delicadíssimo durante a guerra da independência de Timor Leste, a Jorge Sampaio coube deslocar-se a Macau pouco antes da transferência administrativa da antiga colónia para a China. Mais uma vez tive ocasião de observar 'in loco' a postura digna e honrosa para Portugal do Presidente Sampaio, momentos históricos que o meu eterno companheiro Rui Marote registou fotograficamente com a sua 'incurável' paixão profissional.

Humildemente, o Presidente Sampaio pediu pareceres descomprometidos sobre que homenagens fazer numa visita à Madeira em tempo bem mais pacífico. E foi então que evocou o grande e arriscado trabalho dos operários ilhéus que rasgaram montanhas para propagar a rede das levadas.

Enfim, foram dez anos de muita dialéctica mas em atmosfera segura e digna para Portugal e os Portugueses, os da Presidência do cavalheiro da política Jorge Sampaio.

Já se sabia do péssimo estado de saúde do antigo Presidente - o nosso Presidente. Mas esta manhã foi um choque. Ainda ando pr'aqui à procura do cartãozinho que esse grande nome da História de Portugal amavelmente escreveu certo dia, uma vez publicada a entrevista que humildemente concedera a um pacóvio jornalista das Ilhas.

Obrigado, meu Presidente. 


Luís Calisto

5 comentários:

Anónimo disse...

Não há bela sem senão e ter "despedido" Santana Lopes e abrir caminho a Sócrates foi partidarite a mais e o início do Portugal Moderno (corrupção e dívida publica a galopar).

Anónimo disse...

Santana Lopes foi traído pelo parceiro de uma coligação herança de Barroso antes da fuga para Bruxelas, o mais tarde conhecido pelo "irrevogável".
É um facto histórico, quase assumido pelo próprio Santana Lopes

Anónimo disse...

Pois é ....os Políticos ao morrerem foram todos heróis
Até sócrates com uma voz trémula e de consciência pesada lá foi inventando.
Paz à sua alma...,mas se não fosse menino de papá Medico e mão Professora,
tinha estudado fora do País e revolucionário na adolescência?
Passar da Extrema esquerda para socialista foi um porto de abrigo para chegar ao estrelato
Nem todos tiveram esta sorte...

Anónimo disse...

Concordo em absoluto, basta lembrar uma personagem que, antes da Revolução, louvava o Estado Novo e o tio deputado da União Nacional e depois reinventou-se como social democrata de Sá Carneiro e autonomista.
Nem todos tiveram essa sorte...

Anónimo disse...

o padrinho do adorado socrates, vai ficar na historia por ter colocado no poder um ladrão