Política das Angústias / SÁBADO

O BISPO E O SEU CHEFE  MÁXIMO CONFUNDEM AS NOSSAS MENTES PECADORAS

No meio deste clima de terrorismo incendiário e político denunciado pelo rei, o vulgo não sabe se esconder-se na cave, se comer e beber nos arraiais que ocupam a Madeira de ponta a ponta

O choque de notícias contraditórias entre si na Região continua tão desconcertante que não sabemos onde passar este fim-se-semana: se à volta de um coreto a comer espetada ao som da banda local, se trancados na cave de casa para evitar estilhaços da explosão de alguma bomba perdida.

O chefe das Angústias passou a fase de fogos e a semana que se seguiu com o dedo apontado a uma rede terrorista incendiária que haveria tomado a seu cargo queimar o resto que existe da Madeira. Passou-se. Os críticos deixaram de acusar o governo de negligência grosseira e criminosa na prevenção de incêndios ao logo dos anos. Então, grande chefe deixou cair as denúncias sobre fantasmagóricos terroristas incendiários - que, a existirem, certamente haveriam viajado para atear achas nos últimos dias em Canária.

Ainda assim, a 'Judite' de Ricardo Silva pega um suspeito de fogo ali, outro acolá, e assim vai alimentando as quixotescas invenções do seu chefe máximo, dr. Jardim das Angústias - que é quem trata das mordomias e empregos cá no burgo.

É o mesmo chefe superior do distrito que, hospedado nas dachas de 20 euros no Areal, aparece agora com outra denúncia de certo modo alarmante: os partidos da oposição andam a congeminar uma vaga de terrorismo político. Em que bases assenta sua excelência este novo e preocupante aviso? Assenta num boato que, diz o homem, alguns perigosos terroristas puseram a correr de boca em boca nas duas ilhas habitadas. Segundo esses zunzuns, uma rede comercial de grandes superfícies estaria a magicar estabelecer na Madeira uma jornada com vendas a 50%, como a que o 'Pingo Doce' já fez, num dia santificado, reservado a uma peregrinação de fiéis ao alto da serra para, em fileiras cerradas, defenderem os interesses da Madeira contra os cubanos invasores: 9 de Setembro!

Herdade Chão da Lagoa como o prof. Mamadu

Guilherme Silva dizia que o 22 de Julho traria o salvamento político, social, económico e financeiro da Madeira, mas desde que o povo subisse em massa à Herdade Chão da Lagoa nesse dia cabalístico.

Os terroristas incendiários - em vésperas dessa festa da autonomia, como tão bem reparou chefe Jardim - impuseram o adiamento da batalha. Pois os céus castigam os infractores e transferem a magia do 22 de Julho para o 9 de Setembro. Assim, é este dia - e não outro qualquer - que poderá registar o emergir da Madeira da grave crise em que Noriega e a maçonaria cruelmente a fizeram mergulhar. Temos desemprego, fome, pobreza extrema e envergonhada, neo-emigração, aumento de suicídios e depressões? Pois é muito fácil acabar com essa dramática situação: ir lá acima ouvir Quim Barreiros e dar palmas ao Alberto quando ele aparecer no palco a dizer meia dúzia de asneiras. Não custa nada. Como numa sessão do professor Mamadu.

Mas... como as massas indiciam tendência para um 9 de Setembro militante, eis as multinacionais (ou afins) a encomendar repugnantes actos terroristas para estragar a festa.

Temos, portanto, um clima de terrorismo geral instalado na Região, com actuação à base do incêndio e da sabotagem político-partidária.

Diachos, apetece pegar num livro e hibernar num cantinho da cave, sem largar a porta, à espera que o perigo passe.

É que não podemos entender estes sinais de ameaça como ironia de Verão, posto ser um chefe de Distrito, em pessoa, quem lança o alarme - e através de um órgão de comunicação austero e firme na ética da notícia como é o JM.

Porém, ao mesmo tempo que trememos com as perspectivas negras pintadas pelo chefe da tabanca, deparamo-nos com uma outra realidade regional ao arrepio dos temores oficiais. A Madeira por estes dias é um brinquinho colorido e cheio de bonecos a bailar, daqueles que os grupos folclóricos usam para fazer chocalhada enquanto os vocalistas se digladiam em animados e venenosos despiques. São festas e festivais, arraiais, romarias, concertos, bailinhos, dançódromos, encontros de folclore, enfim, desconhecemos se haverá neste momento vila ou lugarejo da ilha onde não haja festeiros da Venezuela ou da África do Sul a mostrar serviço.

Resultado? Logo à noitinha teremos o preocupado e responsável chefe superior do Distrito em comício profissional laranja, no Porto Santo, alertando a populaça para os terroristas à solta que atentam contra a Madeira e, ao mesmo tempo, centenas de milhares de folgazões dispersos pela Boaventura, Ribeira Brava, Funchal, Santa Cruz, norte, sul, este e oeste, e ainda no próprio Porto Santo, a comer e a beber, a ouvir música e a dançar com Jorge Ferreira do 'Carro Preto', a nossa Vânia, GNR e UHF - se ainda estiverem por aí, enfim.

Perguntamos com oportunidade: escondemo-nos dos terroristas na cave ou vamos a S. Vicente ajudar a deitar foguetes?

António e Giselo zaragateiros



O Padre Giselo já mostra serviço:
de pequenino... 

O dilema embaraça. Porque figuras até agora comedidas nas palavras vêm alimentar o clima de ambiguidades e incertezas. António das Quatro Fontes subiu este ano ao Monte disposto a espevitar o lume brando em que ardem guerras antigas e a inflamar ainda mais os ódios que dividem os madeirenses de há 30 anos para cá. Utilizando o microfone sacro da homilia, despejou a sua ira contra os responsáveis da televisão madeirense que se atreviam a não transmitir em directo, este ano, as cerimónias da Padroeira (não devia ser Madroeira?). Foi o que o chefe do Distrito quis ouvir: se o prelado fala assim da televisão, que oportunidade para mais um número da simulada guerra com o centro regional! E lá saiu pancada pela sua boca nos maçónicos que a partir de Lisboa - dá ele a entender - manipulam a programação da RTP-M.

O próprio jovem padre Giselo, que apesar dos seus ainda 32 anos mostrara sapiência ao citar Camões a respeito da mudança dos tempos, para especializar a excepção do Monte na filosofia da mudança das vontades, complementou os ataques desferidos pelos seus chefes António e Jardim. Numa entrevista à Ecclesia, agência citada depois pelo DN, o rapaz assumiu mesmo que a RTP-M fora impedida de recolher imagens no interior do templo porque decidira não fazer o tal directo. Quem não se vingaria também? 

Aproveitou esse promissor pároco do Monte para explicar o porquê de ter proibido aos jornalistas a entrada na sacristia: todos os anos fazia-se ali uma espécie de conferência de imprensa e havia que pôr cobro a essa prática pagã.

De facto, aquilo com jornalistas na sacristia a 'puxar pela língua' de Jardim costumava originar alguns palavrões do chefe, coisa ruim para as beatas presentes. E depois isso de microfones e câmaras seria sempre uma profanação de um espaço de recolhimento onde conversam e tomam o seu copo governantes, parlamentares, autarcas e jagunços do laranjal, todos irmanados nos mesmos ódios e perversões.

Para manter certos padres infiltrados à distância...

Bem andaram o padre Giselo e o acólito de Jardim, D. António, ao mostrar o lado zaragateiro da Igreja madeirenses. É que uns padres presumivelmente infiltrados no rebanho andavam a tratar de agitar as ovelhas - ou a perpetrar terrorismo político-religioso, dirá chefe do distrito. Pois só com esse trabalho abnegado e corajoso do bispado e da moderna vaga de 'sacas de carvão', aqui representadas por Giselo Andrade, se pode travar religiosos ambíguos como Martins Júnior, José Luís Rodrigues, o cónego de Machico, Mário Tavares das Corticeiras e mais uns da zona oeste que muito deixam a desejar na obediência ao prelado.

Veja-se que alguns deles foram ao ponto de proibir a distribuição nas missas e nos adros do beato Jornal da Madeira!

Mas é aqui que nos deparamos com nova situação ambígua que nos faz reflectir sobre que raio de postura adoptar nesta vida de incertezas. Com os níveis superiores da Igreja perfilados com a maioria jardineirista do 'olho por olho, dente por dente', vamos hoje às páginas do JM em busca da palavra sagrada mandada imprimir pela nomenclatura regional, e que bebemos da mensagem de Paulo sobre a forma de viver a vida cristã? Isto: "Vede bem como vos comportais, não como insensatos, mas como pessoas inteligentes, aproveitando bem o tempo que corre, recitando salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e salmodiando em vossos corações, dando graças a Deus."

Não sei onde o conseguir, mas precisamos de tomar parte urgentemente num retiro espiritual de onde uma pessoa saia percebendo de uma vez o que é que estes sujeitos da governança e da Igreja pretendem. Salmos ou algaraviada?