FORÇAS ALIADAS
PREPARAM 'DIA D'
Curioso: há quem aposte de olhos fechados numa pesada derrota da coligação; e há quem assegure ter números que apontam para resultados surpreendentemente triunfais
Não há um exército nazi no terreno, como na II Guerra. Mas algumas forças da oposição uniram esforços e marcham para a frente com ganas de arriar a bandeira laranja que drapeja na Madeira vai para 40 anos.
Há um par de horas, acabou a reunião da coligação marcada para delinear a estratégia da campanha eleitoral. O que quer dizer 'tudo pronto' para entrar já na pré-campanha em toada deliberadamente atacante.
A grande aposta das forças unionistas incide no estilo que levou à vitória da 'Mudança' nas autárquicas de 2013, independentemente do que se passou na Câmara pouco depois da vitória.
Para esta guerra decisiva e histórica, os coligados madeirenses já escolheram a secção de comandos a quem compete encabeçar o avanço das tropas até junto do arame farpado. Ultrapassada a fase dos critérios de distribuição de lugares pelas forças integrantes, cada partido escolheu os seus operacionais de elite.
No grupo de comandos, consoante o lugar no pelotão, encontramos:
VICTOR FREITAS (PS) - O líder do PS decidiu muito cedo demarcar terreno como candidato a presidente do governo, beneficiando do efeito Mudança. Por isso, arranjou problemas para si dentro e fora do partido. Sobretudo por inviabilizar uma coligação com o PP. Levou a sua avante e o que interessa é que ele chefia neste momento as forças da coligação pretendente à vitória regional em Março. Um resultado agradável - e sabemos de números tão bons para os aliados que até custa acreditar neles, apesar de sérios - consolidará evidentemente a posição interna de Victor. Uma derrota humilhante, que muitos vaticinam, poderá ditar o fim da sua carreira de líder.
CARLOS PEREIRA (PS) - A estrela da companhia. Sem discussão. Não é de agora que o líder parlamentar constitui o pilar principal do seu partido, graças à consistência que confere ao PS tanto na casa de deputados como nas posições públicas em nome do partido. Para não discorrermos sobre uma matéria que todos conhecem, resumimos assim: Carlos Pereira é o adversário que o PSD mais teme, e seriamente. Está tudo dito.
SOFIA CANHA - A presidente do Sindicato dos Professores da Madeira é um nome que só há pouco nos chegou como potencial reforço na lista da coligação, nome esse escolhido pelo PS. Não podemos garantir que se confirme a sindicalista neste 3.º lugar da lista, onde, à luz da paridade que o PS faz questão de extrapolar dos seus estatutos para a coligação, terá de se fixar uma mulher. Mas que a ideia é boa e útil, isso é.
JOSÉ MANUEL COELHO (PTP) - O líder dos trabalhistas continua a ser considerado no meio político como uma caixinha de surpresas, de onde pode sair tudo. Isso embora o comportamento do seu partido tenha desmentido tal teoria nalgumas situações em que a ponderação revelada chega a surpreender. Veja-se a postura de Coelho nas presidenciais; no processo espaventoso da Câmara do Funchal pós-eleições; e agora nestas complicadíssimas negociações para unir forças. Ainda assim, há quem entenda que uns parceiros da aliança fazem perder votos. Eleitores trabalhistas a não votarem na coligação por causa de Victor. Socialistas a negarem também o seu voto por causa de Coelho. Mas aí vem uma campanha para clarificar imagens distorcidas, daquelas que nos meios pequenos se aferram facilmente aos cérebros. Se for o caso, é claro.
AVELINO CONCEIÇÃO (PS) - Um socialista que começou a carreira há muito. Um passo de cada vez. Da freguesia de Água de Pena, impôs-se em popularidade, sem pressas, ao nível do concelho de Machico. A carteira de votos machiquenses está hoje com ele, como esteve em tempos com o padre Martins e seu irmão Bernardo. Avelino pode não ser, e não é, comunicador para galvanizar o eleitorado regional nesta campanha. Mas é o mensageiro do momento para uma campanha no sempre imprevisível concelho de Machico.
MAFALDA GONÇALVES (PS) - Um quadro do PS em que Victor deposita muitas esperanças. Actualmente professora no Curral das Freiras, Mafalda tem um historial intenso no PS, desde os seus tempos na Jota. Mostrou espírito combativo quando disputou a liderança da organização 'Mulheres do PS', mas também no desempenho das suas funções de vereadora e deputada municipal no município de Santa Cruz. Desde 2000, ano da iniciação, tem integrado vários órgãos do PS-M. Agora, traz a mais-valia de uma cara nova mas experiente a este nível de competição. Isto, obviamente, se Victor Freitas concretizar o que nos parece ser sua vontade e se Mafalda decidir aceitar o desafio.
RAQUEL COELHO (PTP) - Em pouco tempo, a opinião pública ficou a conhecer o nervo fogoso da líder parlamentar do PTP. Tem sabido aproveitar o tempo que lhe cabe nos debates televisivos, já que no parlamento, por imposição do possessivo PSD jardinista, sempre houve pouca margem para os pequenos partidos mostrarem para que estão ali. Pelo apego às causas que diz defender e pelas qualidades de comunicação, em desenvolvimento, a coligação tem um reforço dentro da equipa.
RUI ALMEIDA (PAN) - Só pode funcionar como contraponto numa campanha que necessariamente marchará à velocidade do jacto... se é que a coligação percebe que o tempo não dura sempre e pretende recuperar terreno relativamente a um PSD que anda em campanha eleitoral há 2 anos. O líder do PAN estará no meio de uma secção de comandos sem muito lugar para reflectir. Pode ser que o seu ritmo pausado ajude. Se for para empurrar a mobilização... Bom, decididamente não faz o seu estilo.
ROBERTO VIEIRA (MPT) - É activista bem enquadrado no projecto de dinamização que se antevê para os próximos dias. Mas com tendência, como em tantos outros elementos dentro e fora da aliança, para fulanizar o discurso. O que às vezes é inconveniente. Jardim encarregou-se de catapultar Albuquerque durante 2 anos, e levou-o à vitória, tal a importância que lhe deu. Agora é parte da oposição a fazer de Jardim. Mas isso são estratégias que não nos cabe comentar. O caso é que Vieira serve muito bem à equipa constituída.
QUINTINO COSTA (PTP) - Um activista com escola e utilidade imensa na política prática, ao serviço do seu partido - e agora da coligação. É disciplinado e não falha nos papéis que lhe distribuem. Como agora. A não ser que haja mexida de última hora na lista.
JAIME LEANDRO (PS) - Outro quadro com prática nas manobras executivas quer no partido quer ao nível de campanhas eleitorais. Constitui uma referência e uma trave importante no PS de Victor. Um nome que não podia faltar entre os elegíveis.
LUÍS MIGUEL FRANÇA (PS) - Outro importante trunfo, indispensável na equipa coligacionista a eleger. Obviamente, um dos rostos mais conhecidos do Partido Socialista, regional e nacional - já pela notoriedade enquanto estrela do Telejornal, na Televisão da Madeira de há poucos anos, já pelo papel que desenvolveu enquanto deputado na Assembleia da República. O traquejo que as funções curriculares lhe facultam e as qualidades próprias revertem agora em favor da coligação, na luta contra a velha oligarquia instalada na Região. Miguel França será, auguramos, uma das vedetas da estratégia comunicacional aliancista para estes dois meses - e para depois, obviamente.
CÉLIA PESSEGUEIRO - Foi enquanto líder da Juventude Socialista na Madeira que se deu a conhecer na política regional. Com mais ou menos aparições nestes anos, nunca caiu no esquecimento. Ainda nas autárquicas de 2013, coube-lhe desempenhar a 'missão impossível' de desalojar o PSD da Câmara da Ponta do Sol, aliás seu concelho natal. Sem dúvida que, a dar-se a sua candidatura nesta brigada de comandos rumo às regionais, como tudo indica, vai meter-se ao barulho da refrega.
Daqui para trás, provavelmente com lugares elegíveis ainda, serão colocados candidatos pelo PS (14.º a 16.º), PTP (17.º), PAN (18.º) e MPT (19.º).
Para que os comandos da frente atinjam o objectivo, é necessária uma infantaria que bata o terreno em todas as direcções, para reduzir os espaços de manobra dos adversários. É que a coligação não enfrenta um só rival, o PSD, devidamente localizado. Há outros partidos no terreno com legítimas aspirações.
Os partidos da coligação precisam do apoio decisivo dos presidentes de câmara afectos, bem como dos vereadores, estruturas locais, por aí adiante. Há uns que são mais responsáveis. Como por exemplo os presidentes de câmara que mostramos: eles terão muito a ver com os resultados que a coligação registar.
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Paulo Cafôfo, Funchal |
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Emanuel Câmara, Porto Moniz. |
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Filipe Menezes, Porto Santo. |
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Ricardo Franco, Machico. |
A Artilharia é o grupo que fica à retaguarda, a bater posições de modo a facilitar a progressão das tropas da frente. Neste caso, há também quadros, sobretudo socialistas, capazes de pensar um bom plano de fogo e que não podem fugir à tropa. Como aprendemos no COM, em Mafra, a guerra é como o sol: quando vem é para todos. Assim sendo, é óbvio que os votantes na coligação não dispensarão determinadas figuras. Neste raciocínio: já que, no seu tempo, não derrubaram o jardinismo, que ajudem a mandar abaixo os pós-jardinistas.
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Emanuel Jardim Fernandes, a bem dizer, o líder histórico do PS-M, já que João Conceição esteve pouco tempo no cargo. Mas aqui não há dúvidas: Jardim Fernandes nunca faltou na hora do combate. |
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Mota Torres: um ex-líder que deixou cartaz e ainda hoje é recordado com admiração pelos seus camaradas de 'guerra'. Não tem sido muito seu hábito regressar nas campanhas. Vamos ver agora. |
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Bernardo Trindade: dizem-nos que quer ser ministro de Costa. Por que não? Mas não esquecendo o trampolim que propiciou esses voos. |
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Jacinto Serrão. Candidato natural à recondução para S. Bento em Outubro, não faria sentido negar o seu apoio nesta batalha. Até por ser um ex-líder da JS e um ex-líder do PS-M |
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Luís Amado: há muito que faz carreira política por aquelas Lisboas. Será interessante reparar no que fará nestes dois meses de Madeira, onde, para ele, tudo começou. |
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António Costa: last but not least. No caso, nem será preciso convidar o líder socialista nacional para cá vir propagandear os méritos da coligação regional. De um bom empurrão está necessitada a sua candidatura a primeiro-ministro, que nas sondagens aquilo nunca mais descola de Passos Coelho. Que melhor do que um resultado interessante nas regionais? |
Na próxima terça-feira, o PS reúne a sua comissão política para definir o critério de escolha de nomes socialistas a introduzir na lista dos aliados. Visibilidade pública dos candidatos, trabalho já desenvolvido na Jota e no partido, competência e experiência, princípio da paridade - estas são algumas das determinantes do critério de selecção. Mas não vemos que muito se altere em relação às figuras destacadas acima.
Do lado da coligação, parece que, enfim, está tudo pronto para uma pré-campanha que permita recuperar o tempo perdido. Há muito caminho por percorrer até ao dia D. Pela frente, uma missão difícil para os aliados. Difícil mas não impossível, como diria La Palisse.