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sábado, 2 de abril de 2016

A propósito do Marítimo-Nacional de hoje


Albino Rodrigues procede à escolha de campo num dérbi Marítimo-União em 1976. José Maria é um dos fiscais-de-linha. Capitães, Ângelo (M) e Humberto (U), este autor do golo do seu clube (resultado final: 1-1).



E OS HOMENS QUE ARBITRAVAM OS DÉRBIS
QUE HAVIA NA MADEIRA TODOS OS DOMINGOS?


O grande Albino Rodrigues, árbitro madeirense que dirigiu muitos dérbis no Funchal e que no seu tempo foi muito longe na arbitragem, atingindo sensacionalmente a I Divisão Nacional.


Noutros tempos, as provas regionais eram disputadas a 4 clubes. Pelo que em cada domingo havia: ou um Marítimo-Nacional ou um Marítimo-União ou um Nacional-União. A quarta equipa era o Sporting da Madeira (chegou a ser o Carvalheiro e o Santacruzense). 
São os homens que integravam essas equipas os convocados para entrevistas sempre que se realizam dérbis na Região - hoje em dia que temos 3 clubes madeirenses na I Divisão nacional.
Mas... e o árbitro que assumia dirigir cada dérbi regional, sempre acalorado e com peripécias mil que iam assanhando mais as hostes adversárias umas contra as outras? Esses homens que, depois do desafio, em vez de se meterem no avião para o Continente, como acontece hoje, tinham de enfrentar adeptos, dirigentes e jogadores dos clubes todos durante a semana inteira, fosse nos locais de trabalho, nos cafés e tascas ou pelas esquinas da cidade...?

O popularíssimo José Fernandes Oliveira 'Paredes', figura indissociável dos dérbis na Região.



Desde os primeiros pontapés no Almirante Reis, de 1910 em diante, os jogos eram apitados por atletas escolhidos entre as equipas que não estivessem em campo. O jogador do Marítimo apitava o União-Madeira, o do Madeira apitava o Marítimo-Internacional e assim sucessivamente. Então, esses jogadores - e com dirigentes-árbitros o mesmo procedimento - eram inscritos como representando os respectivos clubes na arbitragem, sobretudo depois de fundada a AFF, em 1916. Como se fazia em Lisboa, no Porto, em todo o lado.
O processo perpetuou-se e, nas décadas de 40, 50 e 60, havia árbitros que não apitavam jogos dos seus clubes - mas aí os juízes não podiam ser jogadores no activo.


O carismático Romão com Olímpio Craveiro
à sua direita.


Na Madeira, a rivalidade entre os quatro clubes das últimas décadas teve crescimento galopante, como se sabe. Os jogadores rivais iam armazenando nos fígados as quezílias uns contra os outros. O mesmo entre jogadores e árbitros. À volta cá te caçarei...
Claro que, futebol à parte, muitos se davam bem uns com os outros, na vida 'civil'. Mas, desde que o assunto fosse futebol...
Havia então resultados de 5-0 em que os adeptos derrotados, depois das discussões na descida, a butes, dos Barreiros ao Funchal, conseguiam pôr as suas cores a ganhar por 6-5, porque o árbitro não marcou 3 penáltis, o fiscal-de-linha inventou foras-de-jogo...
Persistem hoje histórias de arbitragens com um misto de drama e irónico.
José Manuel Silva, árbitro conotado com o Marítimo, decidiu um dia levar as leis do penálti ao extremo do rigor. O sportinguista Adão chutou a penalidade e o guardião nacionalista Cobo defendeu. O árbitro mandou repetir. Cobo defendeu outra vez. E assim sucessivamente, até à quinta conversão... que Cobo defendeu mais uma vez. O Sporting trocou de rematador e lá foi Sabino, homem dos 'Canhões de Navarone', fuzilar as redes alvi-negras com tal violência que Cobo já não teve tempo para nada.
Noutra vez, o Sporting da Madeira conclui um ataque contra o Marítimo com um remate a dar a sensação de golo. O malandro do Adão, aproveitando a confusão na baliza verde-rubra, foi sorrateiro por fora das redes, pegou na bola, levou-a para meio campo... e golo! Se não estamos em erro foi um dos irmãos Góis o árbitro da proeza...
Tudo isto com o público a ver!
E quem não se lembra do Zèquinha, do SCM, autor de um golo ao Marítimo que lhe justificou uma sucessão de saltos mortais em festejos desde a área verde-rubra até ao meio-campo... ficando depois a cargo do árbitro tratar do resto até ao fim o jogo para o Marítimo perder por 1-0 e deixar escapar o título de Campeão da Madeira para o Nacional... Foi na época 1968/69. Já agora, cabe recordar que João-o-Velha, chefe da claque nacionalista, contratou uma banda para acompanhar os golos do Nacional na última jornada diante do Marítimo, com os alvi-negros virtualmente campeões. Só que o Marítimo ganhou 4-1. E João, para não desarmar, mandou a banda tocar os golos-contra.
Histórias dos dérbis e não apenas que fizeram dos árbitros aqueles protagonistas e heróis que os tempos deixaram cair no esquecimento.


José Manuel Silva mandou repetir um penálti 5 vezes num Nacional-Sporting da Madeira! Os alvi-negros acusam: foi para ajudar o Marítimo!

Um dérbi com alguns anos: Humberto (Marítimo), Sarmento e Emanuel Silva (Nacional) e a enchente de sempre.

8 comentários:

Marco Cabral disse...

Obrigado amigo Calisto por esta homenagem. É com muito orgulho que vejo meu pai aqui referenciado.

Luís Calisto disse...

Amigo Marco
De outra forma não podia ser. Grande e carismática figura do desporto madeirense daquelas fascinantes décadas. Felizmente, o Sr. 'Paredes' deixou filhos a dar continuidade ao fulgor desportivo da nossa terra. Abraço.

Anónimo disse...

Muito gatuninho dos velhos tempos. E hoje esteve mais um, desta vez é do Algarve.

Miss Take disse...

A vitória de hoje é para ficar na história, contra 11 desde os 18m e o golo fantástico do Edgar Costa.

ANunes disse...

Obrigado sr Calisto por recordar estas imagens do futebol regional de outros tempos com figuras inesquecíveis.
Faltou talvez uma imagem do famigerado "padeiro", antigo jogador do União, um árbitro anti-Maritimo com muitas histórias para contar.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Boa jogada Calistre...inflitra-te mais ainda...

Emanuel Cabral disse...

Obrigado Calisto pela referência ao meu pai!
Saudades!!!

Luís Calisto disse...

Caros comentadores, caro Emanuel Cabral
Felizmente, o futebol da Madeira vive noutra galáxia desde há uns anos. Mas sabe muito bem recordar os tempos de onde o hoje emergiu. E é injusto esquecer, como acontece normalmente quando se elogia o passado, os árbitros dos regionais, também eles pilares da magia e da mística que nos preenchem as memórias ainda agora. Os homens do apito desse tempo ajudaram-nos a um auto-controlo bem útil para a vida de quem andou por aqueles campos. As histórias que hoje subsistem já no plano do lendário dariam um livro sócio-pedagógico muito útil para as novas gerações.
Obrigado àqueles homens do apito... mesmo ao Padeiro 'anti-marítimo', amigo comentador.