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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Delírios da Madeira Nova






PROJECTO PARA O ATERRO SÓ TEM UMA EXPLICAÇÃO POSSÍVEL, E AINDA ASSIM INCOMPREENSÍVEL




O futuro cais no aterro acabará com a solidão da Pontinha, fazendo companhia àquele antigo atracadouro de navios e actual WC para gaivotas.




Reconhecemos ser custoso entender a 'maluqueira' do governo das Angústias ao teimar na caríssima empreitada de um novo cais para navios de cruzeiro no popular aterro funchalense.
Afiguram-se mais do que legítimas as preocupações do Dr. Raimundo Quintal confessas no artigo publicado anteriormente, aqui na 'Fénix', onde se conclui que tal obra, deixando para trás outras de extrema necessidade em matéria de segurança para as populações, se apresenta como a mais recente 'loucura do Atlântico'.

Dado que, porém, seria trabalho desperdiçado procurar demover aquelas insondáveis mentes - sabe-se no que dá contrariar pacientes com ideias fixas -, pusemo-nos a cogitar sobre que raio de lógica utilizaram elas, aquelas mentes, para chegarem a tão singular projecto.
Depois de muitas voltas ao nosso cansado pensamento, só encontrámos uma possibilidade que, sendo absurda, parece menos absurda do que as outras, aliás poucas.


Diálogo de surdos no plenário de desgoverno

Imaginemos então que se terá passado no plenário de governo de onde saiu a louca ideia do cais no aterro.
Jardim pede a Conceição Estudante perspectivas sobre o turismo para os próximos tempos de crise.
- De mal a pior - responde prontamente a secretária -, apesar das intensas campanhas que pessoalmente tenho feito nos restaurantes madeirenses de Jersey, Londres e Joanesburgo... com folclore, milho frito, espetada, vinho, tudo o que vende o nosso produto lá fora. E depois, sr. presidente... já não sei quanto gastei em compras naquelas lojas irresistíveis. Tem uma em Londres, que é daquele mouro, o...
Chefe-rei pega na palavra.
- Mas o turismo dos cruzeiros não pode disfarçar a miserável ocupação hoteleira que temos aí? Aquele movimento de 'bifes maçónicos' que desembarcam, a tirar fotografias pela cidade e a comer hamburgueres no McDonald's...
- O problema é que o nosso porto está por conta das gaivotas - lembra Estudante, enquanto examina a cor das unhas - Há meses que não atraca ali um vaporzinho e a muralha parece pintada de branco, da porcaria daquelas malditas.
- Realmente, passo horas a dormitar na casinha de prazeres aqui das Angústias, virada para o molhe, e nem o navio dos Sousas vejo andar para cá e para lá.
- Às oito da manhã, o sr. presidente ainda dorme, e às oito da noite já está de pijama - atreve-se Manuel António a entrar na conversa.
Conceição Estudante conclui:
- O aspecto daquela Pontinha, todos os dias abandonada de manhã à noite, transformou-se num péssimo cartaz... à vista dos turistas dos hotéis, aliás cada vez menos, Deus me valha.
- Não se esqueçam de que a Pontinha é obra da Madeira Velha - puxa o chefe da cartola - Esse Vítor, o Coelho e o empregadito do Blandy não se atreverão a culpar-nos de termos ali um deserto.
Manuel António está para o atrevidote e não perde a ocasião para uma farpa costumeira.
- Sr. presidente, as obras das Sociedades de Desenvolvimento, se não estão às gaivotas, estão às moscas e até às cabras e vacas... e foram construídas no nosso tempo.
Enquanto João Cunha e Silva pede autorização para um chichi estratégico e sai do plenário claramente amuado e disposto a não regressar, o chefe da tabanca sai-se com a seguinte ideia brilhante:
- Temos de acabar com o degradante abandono da Pontinha. Certo, minhas senhoras e meus senhores?
- Sr. presidente, mas se trouxer os rebocadores do Caniçal para cá, o problema só muda de local - murmura Ventura Garcês, receando mais alguma despesa sem cabimento orçamental.
- Nada disso - chefe puxa de um charuto pedindo aos amigos de tertúlia para não o denunciarem ao seu médico do parlamento, que o proibiu de fumar - Oh Conceição, afinal quando é que mandam uns c... de uns navios para cá?
- Talvez um ou outro em Outubro, Novembro... Meia dúzia no fim-de-ano... Mas a tendência é termos o porto cada vez mais à disposição da canoagem, e logo agora que comprámos rebocadores e uma lancha de pilotos. Não vejo saída para isto. Ando até a pensar em mais uma viagem às comunidades, ao Canadá ou à Austrália, em busca de inspiração...
- Isto é uma questão de acção psicológica, minhas senhoras e meus senhores. Se a Pontinha parece um monstro abandonado, e se não há navio à vista, então arranjamos outro tipo de companhia para a Pontinha. Fazemos o tal cais no aterro e assim os comunas não podem falar em abandonos. Fica a Pontinha sozinha, mas com o novo cais do aterro, mesmo sem navios, a fazer-lhe companhia. Ora, se são dois, não estão abandonados, fazemcompanhia um ao outro. E os borda d'água da praça que vão protestando com velas e flores de roda daquilo, de mãos dadas uns com os outros.

Cunha e Silva, que reflectiu melhor e acaba por voltar à sala de convívio, inteira-se das últimas palavras do chefe e provoca:
- Nesse caso, podíamos também avançar com uma segunda marina no Lugar de Baixo, a ver se deixam de falar tanto no aborto que lá temos.
- Deixemos ver primeiro o que se segue ao caso do cais no aterro - levanta-se triunfante sua majestade, admirado com a sua própria intuição para governar - Aquele aterro pode ser um bom ponto de partida, já que porto de chegada não será, por falta de navios. Peço-vos apenas uma coisa: metam isto no 'Diário da Região' só quando eu já estiver no Porto Santo, para não ouvir ladrar a cachorrada por aqui.
- E vai haver ladrada, isso vai, porque a insistência vai-nos custar mais dinheiro - resmunga Garcês, que só de ouvir falar o vice entra em depressão agravada.
- Homem, o custo vai de 15 para 18 milhões - sorri chefe das Angústias - Mas o que são 3 milhões de euros para mim? Faça-se como de costume: realizem a obra e deixem o dinheiro por minha conta.


Senhoras e senhores Leitores da Fénix, dizemos nós agora. Tudo isto nos parece do mais surrealista que haver possa. Mas não vemos que raio de outra hipótese tenha estado na origem dos trabalhos de desova daquele desgoverno.
Seja como for, dizei agora que o homem não merece férias pagas por nós em casa no Porto Santo com relvados, courts e acesso directo à praia!


1 comentário:

jorge figueira disse...

Não só o porto é absurdo.Vive-se, desde Novembro, do movimento de inércia deixado pelo governo anterior. Estas adjudicações putativas apenas enganam os fiéis mais fervorosos deste nosso Henrique VIII, também ele, chefe de Igreja e Est(r)ado