CHEFE JARDIM SOLITÁRIO NO MEIO DA GENTE
Jardim era esperado, que remédio, por Miguel Albuquerque. |
Poderão julgar tratar-se de ironia, mas não. A verdade é que só se praticaria um acto de caridade ao grande chefe se acabassem de uma vez por todas com actos públicos que só servem para evidenciar um espectro decadente, abandonado, como acontece aos ditadores todos. Ou então que se obrigue o povo a retomar as antigas ovações triunfais nos programas solenes, porque é o povo - interesseiro e manhoso - quem tem culpa desta deprimência toda.
Há dias, encontraram-se em espaço neutro, o navio-escola argentino 'Libertad'. Depois, foi num terreno neutro, a Festa do Monte. Esta terça, o 'jogo' foi em casa de Albuquerque. Dia 9, será no de Jardim, apesar de a Herdade pertencer a todos os militantes laranja. Em tantos encontros e recontros, nem uma palavra fora dos eixos.
No congresso terá de ser diferente. Mas, pelo que se viu esta manhã, nem sequer uma renovação geral parece capaz de dar conserto à gaiola maluca da Rua dos Netos.
Quando o chefe das Angústias saltou sozinho do nosso Mercedes no Largo do Município, alguns minutos depois das 11, antevia-se que solitário passaria o tempo das cerimónias programadas para mais um Dia da Cidade do Funchal.
Respirava-se a deprimência do regime putrefacto nesse bocado de manhã. Alguns vereadores, uns tantos membros da Assembleia Municipal e alguns convidados haviam entrado na Igreja do Colégio para assistirem à missa do dia.
Marcelino ressuscitou e Guilherme não faltou
Elementos da banda e dos bombeiros, depois do primeiro hino às nove e meia para afinar instrumentos, aproveitaram o intervalo e procuraram algo para matar a sede nos bares das imediações. Figuras outrora reluzentes no regime laranja foram-se juntando à porta principal dos Paços. A missa corria.
"O Marcelino ressuscitou", ouviu-se a respeito do Dr. Marcelino Andrade, já distante da presidência da Junta de Santo António e das aparições públicas ao lado de chefe Jardim, mas que decidiu comparecer neste dia.
"O Sá Fernandes disse agora ali que o Alberto João o quis demitir pouco depois de tomar posse, no seu tempo, mas que ele se recusou, porque tinha sido eleito pelo povo", conta um independente 'unha e carne' com Jardim.
Marcelino Andrade regressou à vida pública. |
Não é má vontade. Mas cheirava a decrepitude. A essa hora, a TSF-Madeira passava a entrevista que o DN trouxera de manhã, na qual o antigo presidente da Câmara, Virgílio Pereira, compadre mas um tanto crítico de Jardim, falava das suas desilusões enquanto elemento do PSD, partido a que sempre pertenceu. Virgílio falava em tom crítico, mau grado seu filho, Bruno Pereira, actual número 2 de Albuquerque, estar indigitado pelo chefe máximo para cabeça-de-lista em 2013.
Pairavam também outras declarações, do Delfim rebelde Miguel Albuquerque, igualmente ao Diário, na qual o principal autarca da capital até agradece o distanciamento do governo e a ideia deste de não fazer certas obras na cidade.
Desobedientes a sua majestade
Além de Marcelino Andrade, reaparição na qualidade de membro da Assembleia Municipal, andavam trajados à feriado presidentes de todos os outros municípios da ilha, à excepção de Ismael e Romeira, da Ribeira Brava e de São Vicente, que se fizeram representar. Lá estavam os presidentes de junta de freguesia do Funchal, entre os que foram à missa, como Simplício Pestana, do Imaculado, e Alcino Ferreira, da Sé, e os que preferiram ficar à conversa nas imediações da Câmara ou no café, como João Pimenta, de São Martinho, e Alberto Casimiro, de Santa Maria Maior, por exemplo.
Por ali andavam também vereadores da maioria teimosamente desobedientes aos ditames das Angústias, casos de Rubina Leal, Costa Neves e Pedro Calado.
À margem, dirigentes do Bloco de Esquerda, entre os quais Roberto Almada e Fernando Letra, preparavam-se para uma conferência de imprensa ao ar livre para mais 'deitar mais pedra' em cima do regime.
Falta dos velhinhos com ti-shirt que aplaudiam
Sua excelência chegou sozinho, pois.
Deve ter estranhado a falta dos aplausos dos velhinhos que certas juntas de freguesia colocavam formadinhos no Largo do Município com t-shirt do grupo, e com ordens para dar palmas ao chefe.
Hoje, nem uma palma.
Jardim receia facas, mas não se impressionou com Miguel Albuquerque nas suas costas... de pau na mão. |
Foi o homem recebido pelo protocolo, isto é, pelos presidentes da Câmara, Miguel Albuquerque, e da Assembleia Municipal, João Dantas. Tocou-se o Hino da Região - a Portuguesa não se ouviu - e depois lá seguiu Miguel Albquerque, de casaca e ceptro na mão, atrás do convidado que ia passar revista ao corpo de bombeiros - esses combatentes do fogo apelidados de incendiários por aquele que lhes ia examinar a farda e o escanhoamento... enquanto o arrepiante rufar da caixa fazia lembrar perigosos números no trapézio ou a subida do monarca deposto ao cadafalso.
Gil Canha (PND) recusa cumprimento de Jardim
Depois da marcha solene entre as fileiras dos bombeiros, sua majestade partiu para cumprimentar os vereadores, formados em linha... e de onde logo se apartou, sem disfarçar o significativo gesto, o representante do PND.
Gil Canha saiu da formatura de vereadores e pôs-se de lado para evitar o cumprimento do chefe das Angústias. |
Gil Canha recusava o cumprimento do responsável pelos 36 anos que rebentaram a Madeira de alto a baixo e, com o traje municipal e o ceptro, foi posicionar-se no passeio junto à entrada da Câmara, ao lado dos convidados. Passados os momentos de hipocrisia, voltou ao seu lugar.
Dava-se o caso de o próprio Miguel Albuquerque também se ter dispensado de, apesar de anfitrião, acompanhar o ilustre visitante Jardim na pastosa sessão de cumprimentos aos presentes no passeio ao longo da fachada principal dos Paços. Albuquerque ficou na zona central, a trocar piadas e a brincar com o ceptro, tal como fazia já o vereador da Nova Democracia, Gil Canha.
Por sua vez, Artur Andrade, que esteve para não comparecer e só se perfilou porque a funcionária do protocolo o foi buscar ao átrio da Câmara, andava para cá e para lá, conversando ao telemóvel, sem querer saber do que fazia o chefe da tabanca.
Discursos? Não há paciência...
Depois da manhã sonolenta, de um tédio atroz, chegámos a pensar que o pesadelo acabara, mas evidentemente que faltava o pior - a sessão de discursos solenes.
Com toda a solenidade, e chorando solidariamente a sorte de quem tinha mesmo de fazer o serviço informativo todo, zarpámos da Praça do Município direitos ao café mais próximo.
Discursos?
Eles hão-de metê-los na net.
E meteram.
Como se esperava, referências à disputa intrapartidária entre Albuquerque e Jardim, nada. Tabu.
Miguel Albuquerque afirmou-se um presidente de Câmara poupado e deu a entender que geriu as finanças que lhe competiram de maneira a não ser obrigado a planos de resgate.
Oh! Albuquerque atingiu quem, com tal indirecta?
Claro que não se esqueceu das zonas altas do Funchal, que tanto lhe podem ser úteis na corrida à liderança do PPD.
E o discurso de Jardim? Claro. Mais maçonaria, mais revisão constitucional, mais culpas de Lisboa e da Europa pelo estado a que chegou a Madeira, omissão do nome de quem arrastou as ilhas para o despenhadeiro - ele mesmo, Jardim -, mais tácticas para os outros, mais mudanças de regime - se querem saber, mais do mesmo e mais do mesmo.
Não há paciência para ouvir o disco riscado.
Cheio de contradições, ainda por cima.
Ontem, segunda-feira, véspera desta cerimónia citadina, que haveria o homem de dizer entre a sétima e a oitava imperial do Bar do Henrique? Mais ou menos isto, segundo o cronista do reino que escreve o que ele dita: "Se nos limitam o investimento, se não temos autonomia fiscal e a banca não colabora, como é que podemos reaquecer a economia?"
Pois o sujeito prestou declarações contrárias precisamente há 18 anos. No Verão de 1994, o homem tentou gozar com Virgílio Pereira, na altura possesso com os calotes que lhe apareciam diariamente na Câmara, para onde o compadre o havia empurrado - dizendo então chefe Jardim: "O bom governante é aquele que governa sem dinheiro!"
E olhem agora quem é que...
Na altura, Virgílio não pensou duas vezes e bateu com a porta na cara daquele que sabia governar 'sem dinheiro' - como hoje se vê...
E quem subiria na vida política por conta dessas diatribes? Ninguém menos do que o homem que no próximo congresso vai derrubar o grande chefe da cadeira dos Netos!
1 comentário:
Muito bem,Caro Calisto. Está chegando a hora dos madeirenses, manhosos, sempre na esperança de que o milagre surja, vá lá saber-se de onde,assumam que o festim acabou. Estes nossos "heróis", presentes no desfile de vaidades, são passado. Precisam, os madeirenses, de olhar para o futuro e saber o que fazer para quando forem confrontados com a RAM ao nível dos 50/60 do séc. passado. Estes medrosos fogem a esta realidade como o diabo da cruz, mas os madeirenses, esses, não poderão fazê-lo.
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