Acção combinada de soberania

BOA VIAGEM ÀS SELVAGENS

E CUMPRIMENTOS AO FAROLEIRO

Lá vão eles todos, empoleirados no 'Schultz Xavier', peito aberto à luta

Largou há momentos das águas do aterro funchalense o navio-balizador 'Schultz Xavier' carregado de personalidades convidadas pelo grupo parlamentar socialista, com destino a uma viagem de soberania às Selvagens.

Vemo-lo neste momento (20 para as 3 da tarde) a papar milhas rumo ao Sul, no enfiamento da Casa da Luz.

Numa altura em que os espanhóis afiam dentes para tentar abocanhar aqueles penhascos de propriedade lusitana, Carlos Pereira toma a dianteira na defesa do pavilhão nacional em pleno atlântico, perante a passividade do governo regional nestas matérias - como muito bem denuncia o novo líder do PS-Madeira.

Não é por acaso que Carlos Pereira coloca entre as grandes prioridades do seu mandato a posição portuguesa a meio caminho entre a Madeira e as Ilhas Canárias. 

Obviamente que os melindres diplomáticos desta acção, que podem degenerar em consequências mais ruidosas entre lusos e castelhanos, só podia concretizar-se a bordo de uma unidade de guerra, e com a protecção marítima a norte, na cobertura da linha Lisboa-Funchal, de um especialista em kitesurf, o operacional Francisco Lufinha, que vem por aí abaixo para o que der e vier. Pelo sul, conta-se com o apoio tácito de forças espalhadas pela macaronésia daquelas que não atinam muito com os canários.

Baixa de relevo a bordo é a de Paulo Cafôfo. O presidente da Câmara do Funchal desistiu da cruzada já com um pé no portaló do 'Schultz Xavier'. Poderá fazer muita falta. Se por acaso a comitiva apanhar o alcalde de Las Palmas nas couves, ou seja, numa pescaria para a caldeirada, como é hábito dos canarianos à volta da Selvagem Pequena, não há patente homóloga madeirense que o meta na ordem.

Se por acaso uma força naval castelhana estiver posicionada em condições e na disposição de provocar pingarelho, não está tudo perdido. Nas hostes portuguesas pontuam mulheres, e não apenas a bióloga Violante Saramago de Matos, capazes de despachar espanhóis à pazada, como a Padeira. 

Temos recebido montes de comentários a criticar os critérios de Carlos Pereira quanto ao privilégio que confere às Selvagens no início do mandato enquanto líder do PS. Selvagens, Selvagens... Ora, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Talvez não se saiba por ser segredo de guerra, mas o 'Schultz', além das Selvagens, é bem capaz de dar uma saltada à Deserta Grande e ao Bugio.

Depois, fazendo jus ao Hino da Região, o chefe socialista esteve ainda ontem na serra. Foi lá mesmo que, inspirado pela berraria das vacas e das cabras, acusou o governo, alto e bom som, de ter metido o hospital na gaveta. 

Depois, a viagem não é só política externa marítima. A cruzada simboliza, desde logo, a vocação da Madeira e dos madeirenses para o turismo, sempre em busca de perspectivas para atrair mercados. Simboliza também o compromisso socialista de lutar contra os gravíssimos problemas que afligem os madeirenses. A partida dos viajantes evoca o flagelo da emigração, a dor de quem deixa os seus entes queridos para errar numa aventura de contornos imprevisíveis.

Com um pouco de boa vontade, também se pode 'ver' na digressão, que inclui muitas horas nos descampados da Selvagem Grande, o desconforto dos sem-abrigo que pernoitam nas zonas escabrosas da noite funchalense.

Não esqueçamos que os incómodos só terminarão na quarta-feira, já na Pontinha. Isso, claro, se não houver motim a bordo. O grupo parlamentar, em força a bordo, não é da total confiança de Carlos Pereira. E Victor Freitas vai ali. 

Longe do formato cruzeiro, a viagem será até ao fim um símbolo da luta para superar os berbicachos da realidade madeirense. Veja-se que a jornada não terminará sem que o chefe do PS preste declarações à imprensa, para dar conta dos resultados mais palpáveis. Para alguma coisa há empresários entre os convidados, além de cientistas e gente do conhecimento - não é bem um pleonasmo.

Estão a ver os críticos? Haverá, sim senhores, conferência de imprensa quarta-feira, à uma da tarde, junto à lota, depois do navio atracar. As mensagens naquele local, a lota, são directas e claras: carestia de vida, escassez de chicharro, gata e boga, operações portuárias a preços de morte, monopólio do 'Lobo Marinho', ausência de um ferry, sujidade das gaivotas...

Não, esta deslocação às Selvagens não significa que o novo líder do PS comece bem cedo a desfrutar das potencialidades político-sociais disponíveis à luz do novo cargo. 

Neste caso, como toda a gente sabe, 'a vida do mar é dura'.

Trabalhinho pesado!

Aos navegadores, pedimos que entreguem as nossas saudações ao faroleiro das Selvagens. Se já não há faroleiro, um abraço aos vigilantes. 

Boa viagem e cuidado com os usurpadores de Olivença.