UMA QUESTÃO DE ESTILO
Os Delfins recusam-se a perceber o que é que realmente está em causa para o dia 19 de Dezembro
Discordo do comentário formulado num programa de rádio esta manhã no qual o Dr. Ricardo Vieira considerava o debate de ontem à noite na RTP-M entre Delfins PSD como mais fraquinho do que os anteriores. O Dr. Ricardo Vieira tem razão quando aponta falta de preparação por parte dos candidatos em alguns dos temas aflorados. Falava-se de economia e do futuro da Madeira. Mas não foi o mais fraquinho. Não foi mais fraquinho nem menos fraquinho. Num aspecto, até ganhou aos anteriores. Desta vez, a 'entrevista a cinco' meteu uns laivos de debate, designadamente entre Miguel Albuquerque e Manuel António e entre João Cunha e Silva e Miguel de Sousa. Vá lá.
O programa da RDP esta manhã não falou de vencedores do debate. Mas também não há muito que dizer nesse capítulo.
Manuel António e João Cunha e Silva esforçaram-se por centrar as conversas no futuro, tentando eclipsar os últimos anos de governação. Outra coisa não poderiam fazer.
Sérgio Marques conseguiu novamente 'dizer coisas' num discurso fresco e por vezes surpreendente.
Miguel de Sousa empregou o seu registo habitual, de franco atirador mas com a matéria em dia, ou, como ele disse, com o trabalho de casa feito - e bem feito, aliás.
Miguel Albuquerque subiu uns furos comparativamente aos programas anteriores. Soltou-se e melhorou, obrigado pela necessidade de mostrar que está na corrida e que pretende vencer dia 19. Jogar para o empate deixou de ser confortável como já foi.
Este novo debate mostrou que os Delfins não conseguem descolar uns dos outros. Se em lugar de um debate se promovesse naquela mesa uma reunião para delinear o programa económico destinado aos próximos 4 anos da Madeira, a ideia resultaria bem. Mais corte aqui, mais acrescento ali, sairia da discussão um programa consensual, com a intervenção de todos. Aliás, enquanto co-partidários no Laranjal, estão condenados a ser complementares nas suas ideias para a Madeira.
O mais curioso é que, se sentássemos também naquele areópago José Manuel Rodrigues, chefe PP, e Victor Freitas, chefe PS, nem por isso deixaria de haver acordo num programa comum, cedência aqui, cedência acolá.
Nem de propósito, no programa de entrevista que antecedeu o debate de ontem na RTP-M, José Manuel Rodrigues apareceu a reiterar a sua disposição de fazer alianças para o próximo ano, seja com o PS, seja com o PSD. Uma entrevista importante depois de Victor Freitas ter praticamente rejeitado essa aliança. O líder do PP está seguro, politicamente maduro, consistente e inovador. E lidera o ainda maior partido da oposição, em número de deputados.
Quem será que tratará de coligações com José Manuel Rodrigues se o PSD-M ganhar as próximas regionais? Objectivamente: quem é que os militantes social-democratas escolherão para suceder a Jardim?
Pois, a essa questão prende-se uma realidade que poucos aceitam levar em conta.
O que está em jogo nestas eleições internas não é a governação futura da Região. Por mais que Gil Rosa, Miguel Cunha, a RTP-M teimem, as linhas programáticas executivas dos Delfins são conhecidas até à exaustão e já ninguém 'pode' com a lengalenga. Fizeram mal, salvo melhor opinião, em deixar para último debate, na revéspera das eleições (que são a 19 de Dezembro), as questões internas da casa social-democrata.
O que os concorrentes deveriam estar a discutir à vista do público é o estilo a exibir por aquele candidato sobre cujos ombros recair a liderança de um partido que ganha eleições e está no poder há 40 anos. Que hoje enfrenta um futuro negro. É isso que os militantes precisam de saber com toda a clareza antes de entrar na assembleia de voto: que tipo de homem deve ser o líder?
A culpa não deve ser endossada unicamente à RTP-M. Os próprios candidatos, na campanha corrente, continuam a dar uma descarada prioridade aos temas da governação regional. É disso que andam há tanto tempo a falar nessas tertúlias, sessões de esclarecimento, jantares e patuscadas pela Região inteira.
Errado, julgamos.
É o modo como cada um se propõe governar o partido que mais interessa aos filiados eleitores.
Sérgio Marques apresentou há mais tempo novidades para aplicar no partido. Na sua campanha, conseguiu pelo menos equilibrar as questões partidárias com as governativas. Foi criativo.
Jaime Ramos, último a chegar à linha de partida, também esclareceu ao que vinha, sem rodeios: conservar o partido em banho-jardim, à luz do PPD-Sá Carneiro.
De resto, mais tecnocracia e menos partido.
O partido que se dane, o importante é a Madeira - já ouvimos dizer a candidatos.
E contudo não explicam como poderão governar a Madeira sem ser por intermédio de um partido!
Insistimos: mais ainda do que princípios e propósitos partidários, os militantes social-democratas precisam de conhecer o estilo que cada um dos concorrentes aplicaria na situação de liderar o partido. Todos os candidatos são sobejamente conhecidos dos militantes. Isso é uma coisa. Outra é saber-se o que eles serão no terreno, com a vara na mão.
O novo líder imitará Jardim? Tratará os adversários com adjectivos inclassificáveis? Procurará guerras diárias para desviar atenções? Manterá o famigerado contencioso da Autonomia com Lisboa? Chamará 'maricas' aos 'colonialistas' do Continente? Tratará de evitar que por mais uns bons anos a oposição regional consiga fazer passar um projecto no parlamento? Avançará para purgas internas sempre que elementos do partido manifestem um ideia diferente da do chefe?
Ou o estilo do novo líder será o de um bom coração, frágil perante a arrogância da capital do reino, demasiado tolerante com a oposição regional, sem pulso para disciplinar o partido?
Ou, ainda, será um meio termo, nem tanto ao mar nem tanto à terra, que governe moderadamente, mas com o pulso necessário?
É uma questão de pessoa, de estilo. Os madeirenses, militantes laranja incluídos, não aguentam o truculento estilo de Jardim quando Jardim não tem empregos e subsídios para dar. Os próprios aparelhistas do PPD voltam as costas a Jardim quando Jardim já não tem tachos para dar a ninguém.
À primeira oportunidade, iam fazendo escorregar na lama da derrota aquele que lhes proporcionou benesses em décadas. Jardim julgou que os aplausos se dirigiam aos seus 'lindos olhos'. Em 2012, Miguel Albuquerque veio provar-lhe o engano. Mostrou-lhe não ter medo de o enfrentar, mesmo que os meios do partido e do governo servissem descaradamente a campanha do chefe.
O eleitorado laranja não esqueceu a coragem do então presidente da Câmara do Funchal.
Miguel de Sousa, João Cunha e Silva e Manuel António perceberam tarde que os fantasmas não mandam no futuro. O próprio Sérgio Marques, provavelmente em nome de uma lealdade afinal inexistente no Laranjal, deixou-se humilhar duas ou três vezes pelo chefe.
É uma boa saída para alguns Delfins fugir à questão do estilo, das potencialidades pessoais de liderança. Preferem transferir o debate para os transportes aéreos e marítimos, promoção turística, PAEF, renovação-renovação-renovação, e por aí fora.
Mas para eles, candidatos, o problema não é esse. Ainda não é esse.
No dia eleitoral, são outros aspectos da política que os filiados vão sufragar.