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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Madeira ao Vivo





MANUEL ANTÓNIO QUER CONGRESSO JÁ, MAS FICARIA COMO ESPECTADOR



O candidato oficialista à liderança do PSD-M, em resposta ao presidente da Câmara do Funchal, contra-atacou na entrevista desta quinta à RTP-M: 'sucessão por delegação' foi a que Albuquerque recebeu de Virgílio Pereira, em 1994


O candidato oficialista desembaraçou-se bem das perguntas incómodas. Mas uma leitura mais atenta das letras pequenas localiza material para discussão. 


O secretário regional do Ambiente, candidato apoiado por Jardim à liderança do PSD-Madeira, não só discorda do seu chefe na ideia de adiar o congresso do partido como pretende que a reunião magna seja antecipada em relação aos estatutos, se possível ainda para este ano.
Como se sabe, Albuquerque também condena o adiamento proposto pelo líder do partido e exige o cumprimento dos estatutos, que marcam congresso para 2013, mês de Abril.
A declaração de franco ataque de Manuel António, com a 'antecipação das antecipações', surgiu na noite desta quinta-feira durante uma entrevista à RTP-Madeira, provocando efeito no telespectador. Mas o interesse esvaziou-se quando o delfim oficialista se pôs a explicar que não, que não avançaria num caso desses. A disputa ficaria nas mãos de Miguel Albuquerque e Alberto João Jardim.
A sua justificação tem lógica. Se o líder concorrer, ele, ao ficar de fora, só estará a cumprir o que anunciou quando do lançamento da candidatura: avançar quando Jardim não avançasse. Para mais, quando - como disse esta noite - seria um terceiro candidato a dividir mais o partido.


Estratégia perigosa para Manuel António

No entanto, a saída menos má para Manuel António Correia, do nosso ponto de vista, seria manter-se equidistante do processo e guardar para si as opiniões sobre o congresso. Se ainda não vê chegada a sua vez...
Da forma como se posicionou, pode ser interpretado como interessado em que haja rapidamente um congresso para que Jardim vença e afaste Albuquerque, deixando caminho livre ao mesmo Manuel António Correia, para quando soar a hora.
Claro que a estratégia poderá sair-lhe pela culatra. Nas ruas das cidades, e até no campo, imagine-se, as pessoas já duvidam que Jardim bata o edil funchalense nas urnas, mesmo em eleições reservadas aos militantes do laranjal.

Seria mais importante, partidária e políticamente, o candidato oficialista lançar um desafio a Miguel Albuquerque para um mano-a-mano em congresso. Ou já, se Jardim abdicasse para deixar os militantes resolverem o futuro entre os dois pretendentes. Ou no congresso seguinte.
Desta forma, o secretário do Ambiente, por mais que o negue, não se liberta da ideia de se submeter a surgir como um líder "por delegação de poderes", como acusou Albuquerque.


Sucessões por delegação

Neste pormenor, Correia atirou-se de novo em contra-ataque deliberado: o grande exemplo de 'delegação de poderes' dentro das forças social-democratas - lembrou - foi a substituição de Virgílio Pereira, precisamente por Albuquerque, em 1994, menos de um ano depois de iniciado o mandato na presidência da Câmara do Funchal.
Esse caso, que faz agora anos, é distinto, convenhamos. Em pleno areal, Virgílio zangou-se com o compadre Jardim, bateu com a porta dos Paços e alguém teria forçosamente de ocupar a presidência municipal consequentemente deixada vaga. Albuquerque fora n.º 2 da lista. Coube-lhe a inesperada promoção.
Se Jardim adivinhasse, na altura, o resultado que 18 anos depois daria ter-se metido com Virgílio...  
Mas acontece que, desde então, o actual presidente municipal ganhou diversas eleições autárquicas. Há muito que se desintegrou a ideia da 'delegação'.


Mais consensual do que o chefe

Ao longo da entrevista, Manuel António reiterou o propósito de unir o PSD-M e de ajudar a pacificar a vida política insular, que se radicalizou e precisa ser limpa de extremismos, em sua opinião. Crítica a Jardim? Não. A tradicional agressividade do PSD - afirmou - foi justificada pela necessária luta radical com Lisboa.
Admitiu também erros no trabalho dos governos regionais em funções até hoje, porém entende que "pior seria as coisas não terem sido feitas a tempo".

Uma entrevista em que o candidato à liderança do PSD-M claramente seguiu a sua táctica do costume: contenção de palavras e de pressupostos programáticos - a não ser o ideal de crescimento económico - porque ainda tem muito tempo pela frente até à 'hora da verdade'.


Posição arriscada, mas pragmática

Saliência para o seu calculismo na proposta de antecipar o congresso, e quanto mais depressa melhor.
Jardim acha que precisa de adiar, deixar esmorecer a vaga Miguel Albuquerque. Manuel António já percebeu que, para seu interesse, o caminho a seguir é precisamente o inverso, porque quanto mais tempo a candidatura de Albuquerque dispuser para congregar apoiantes, mais o eleitorado PSD, até porque se vai renovando com novos espíritos, se habitua perigosamente à ideia da mudança radical do jardinismo para outra via.... a do candidato da ruptura, o presidente da Câmara do Funchal.

Com o seu desafio para realizar já o congresso, Manuel António perde um pouco aquela áurea de herói destemido que o povo gosta de ver nos líderes, já que se limita a instigar dois barões do partido à luta um contra o outro. Mas, numa análise minimamente pragmática, é isso mesmo que mais lhe interessa: cortar o crescimento de Albuquerque e fazer eliminarem-se um ao outro dois candidatos de peso (porque Jardim continua a sê-lo e Manuel António sabe-o, apesar de o ter negado esta noite).


Cunha e Silva 'ausente'

Nota final para um 'ausente' de luxo nesta entrevista, conduzida pelo jornalista Gil Rosa: João Cunha e Silva. Se não aconteceu na altura em que nos afastámos do ecran para um café, o vice do governo e antigo principal delfim oficialista não foi considerado no diálogo televisivo.
Isto quando, na sequência dos avanços de Albuquerque e Manuel António, Cunha e Silva disse publicamente - o que aconteceu pela vez primeira - que no dia em que Jardim não avançasse, avançava ele, fosse contra quem fosse.

Ainda falta tempo.

Para já, a curiosidade está em saber como reagirá Jardim a mais um - e logo o seu delfim - que prefere o congresso antes das autárquicas.


1 comentário:

Rui Emanuel Pereira de Freitas disse...

OU NÃO!
As coisas parecem estar agora mais claras (ou não!).
Manuel António foi preciso (ou não!) a declarar-se candidato, mas só para um outro congresso - no próximo, que quer ver realizado o mais rapidamente possível, não pretende imiscuir-se e concede a Jardim o ónus da disputa com Albuquerque. Aí, nesse próximo congresso, a sua presença é dispensável (ou não!).
Enfim (ou não!), Manuel António emerge no seu melhor: define-se como um "não candidato" (ou não!) apresentando, para já, uma "não candidatura" (ou não!)!
Perante tal confusão é possível que, quer Albuquerque quer Cunha e Silva, estejam agora com dores de barriga de tanto se darem ao riso (ou não!).