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terça-feira, 31 de julho de 2012

O que vai na Praça




Fugindo à paranóia da 'Judite' por incendiários




Cada vez se torna mais perigoso participar numa simples conversa de café



Cafés e esplanadas do Funchal: "A vida vai torta..."



A estação da parva 2012 continua sacudida por acontecimentos de impacto nos media, como a saga dos incêndios com todas as suas pavorosas incidências e leituras político-partidárias, o adiamento da festa da Herdade Chão da Lagoa e a visita do chefe das Angústias à exploração agrícola do sr. António Jacinto, esta terça, às cinco da tarde.
Porém, nem esses agitados números de circo despertam verdadeiramente a populaça da letargia de todos os anos por esta altura. Convivas aparvalhados, pois, nas mesas das esplanadas centrais do Funchal, eis o que encontrámos na manhã citadina.
- Que tédio! - balbuciou aquele funcionário público provavelmente o mais assíduo frequentador do café - Já não sei como consumir o tempo.


Futuro incerto até para os cafés

Os circunstantes continuam denunciadamente impassíveis, indiferentes. Apenas o contabilista sem trabalho, sem tirar os olhos do JM que folheia displicentemente, vai reagir um minuto depois.
- Enquanto pudermos contar com estas mesinhas do café, ainda temos onde pastar umas horas - diz ele.
Todos percebem o que o contabilista inactivo quer dizer. O antigo vendedor de tabaibos que conseguiu emprego como assessor-segurança de um conhecido quadro da praça aceita pronunciar-se.
- Pois, sabemos que até o raio dos cafés e das esplanadas têm os dias contados, mesmo estes daqui! Maldita crise!
O empregado, que fazia farinha na zona para matar o tempo ouvindo a conversa, neste ponto resolveu pôr-se a mexer, como que chamado por um cliente imaginário numa qualquer mesa deserta.
Ainda bem, pois seguiu-se uma série de trocas de informações nada simpáticas para o futuro laboral e até histórico no Largo da Sé e arredores.
Que ouvimos?

Um dos principais cafés da capital, ali bem no centro, já só faz pagamentos aos trabalhadores aí para o dia 14, 15 de cada mês, mesmo assim às prestações... E quanto a subsídio de férias, nem ver.
Outra tasquinha, carismática na zona, com o seu cafezinho à moda antiga e sanduiches de regalar, também só paga quando calha e o patrão não sabe se conseguirá segurar o negócio por muito mais tempo.
Há um restaurante num centro comercial que teve a ideia de proporcionar mini-pratos a 3,90 € e o negócio resulta, porque a clientela paga o almocinho - carne barata mas bem cozidinha para ficar tenra -, junta-lhe um copo de água e vai sobrevivendo, até que surjam melhores dias.


Nem um cliente às nove da noite!

O contabilista sem trabalho interrompe a linha da conversa, detendo-se numa página do JM.
- Isto é que são visitas que estes governantes fazem por aí! Visitam hortas, exposições, festas falidas, veredas e marinas... Tantos carros na comitiva gastando combustível... Tanta gente empatada o dia inteiro... polícias que fazem falta noutros serviços... E para quê?! Que resultado prático sai daquela m...?!
- Isto está tudo embeiçado, sem um cêntimo na algibeira - chispa um cicerone da velha guarda - Tenho passado acolá em baixo na Avenida, nove, nove e meia da noite... Pois não vejo um cliente que seja nos quiosques. Nem no bar nem nas mesas. E fecham, sei lá, meia-noite, uma da manhã! Se isto fosse Inverno, calava-me, mas é Verão. Há 30 e há 40 anos, era povo e mais povo a passear, a consumir ali. Não me venham dizer que estão todos em casa a ver a novela, porque na minha casa ninguém vê essas porcarias, todos se deitam às avé-marias, quase. Sair é que não, porque um café são 70 e 80 cêntimos.


Quiosques de jornais também definham

Os outros quedam-se mudos mais um minuto. E insiste-se na crise.
- Não são apenas os cafés e tasquinhas a morrer - avança o que antigamente vendia tabaibos à volta do mercado - As lojas de jornais seguem o mesmo caminho!
- Ah sim, não foi só o Mário a fechar o quiosque ao pé do turismo - faz o funcionário público mais assíduo do café - Outros quiosques vão na onda... E tabacarias, lojas, estão todos sem dinheiro sequer para os empregados!

Quem vai pagar esta situação caótica, ali na mesa? - ponderamos nós - Claro, os pobres dos políticos.

- E vão aqueles sanguessegas - o bancário respingão, reformado compulsivamente, não poupa o seu azedume ao apontar para o parlamento, mais abaixo - Lá vão eles de férias, hoje mesmo, para o Porto Santo ou para bordo de um cruzeiro, e quem fica na terra paga!

- Os do governo pelo menos pagam aqueles 20 euros por dia nas casas do Porto Santo - pica o contabilista, a ver se consegue acirrar mais os ânimos, o que não é difícil.
- Ora se pagam! - faz o ex-vendedor de tabaibos - Até o Quim Barreiros da Camacha andava de férias no Porto Santo enquanto o concelho de Santa Cruz ardia! E depois admirou-se com a vaia que levou dos gauleses!
- Quim Barreiros da Camacha? - admira-se o contabilista - Quem é esse...? Ah, já sei, o do acordeão na praça do peixe, dia 23 de Dezembro. O que escolhe a pente fino quem pode e quem não pode entrar no grupo de vozes maviosas que cantam na praça do peixe.
Volta o bancário respingão, reformado compulsivamente por inadaptação ao sistema de remuneração por objectivos, e interfere para não deixar perder a pancadaria nos deputados:
- Pois aqueles loucos, principalmente os que fazem o jogo do grande chefe, também mereciam vaia solene. Uma em cada dia de plenário.



Cala-te boca, por causa da 'Judite'!

O contabilista parou noutra página do JM.
- Ouçam isto, a propósito de incêndios e deputados. Diz aqui no jornal dos padres: "Fogos na Madeira chegam à comissão."
- Pois deviam chegar - diz muito depressa o empregado da esplanada, que parara por ali a ver no que ia dar a conversa - Os fogos deviam chegar era à casa toda, à Assembleia toda, e que não ficasse uma cadeira de pé!
- ... E com alguns daqueles 'chulos do jackpot' lá dentro, quantos mais, melhor!

Ouvimos a gravíssima declaração, mas garantimos pelas alminhas que não fixámos quem a proferiu. Nem quisemos perceber quem possui tais instintos incendiários. Inclusivamente, zarpámos daquele porto em busca do salvador aterro, antes que alguma conversa trocada levasse a 'Judite' do Ricardo Silva a nos intimar para depoimento. 
Eles até pagam para levar mais um incendiário ao chefe das Angústias!
É mais salutar arejar no aterro. Os outros que fiquem na esplanada, dormitando na pasmaceira da parva, esta silly season que prenuncia grossas asneiras no areal.

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