No dia 21 de Março de 1988 publiquei no “Bichinho de Conta”, jornal mensal da Pré-Primária, editado pelo Gabinete de Apoio à Expressão Musical e Dramática – Secretaria Regional da Educação, um texto sobre o DIA DA ÁRVORE.
Escrevi-o como pai e educador do Nuno e do Manel, que tinham então 5 e 2 anos. Hoje, passados 25 anos, reencontrei esse jornalinho e senti uma enorme vontade de publicar sem qualquer alteração (ver anexo).
Dedico-o à LEONOR, a minha neta, que ainda não tem 3 aninhos, com quem partilho momentos de enorme felicidade brincando nos jardins.
Saudações ecológicas,
Raimundo Quintal
NO DIA DA ÁRVORE
Que hei-de escrever, a propósito do Dia da Árvore, num jornal para
crianças que ainda não sabem ler e cuja informação lhes chega através
dos pais e das educadoras?
Nada melhor que uma mensagem para os adultos, na esperança que do
seu relacionamento exemplar com a Natureza nasça no espírito dos
seus filhos e educandos o amor pelas plantas e animais que povoam a
floresta ou que habitam nos jardins.
Aos pais e professores, heróis que os pequeninos tanto admiram,
compete a tarefa importantíssima de lutar pela criação de ambientes
atractivos. O comportamento futuro dos nossos filhos em muito
dependerá do actual ambiente social e ecológico.
Uma criança que vive num apartamento, num bloco de cimento, vidro
e alumínio, localizado numa rua sem árvores, num bairro sem jardins,
habituar-se-á a este deserto biológico onde vive e muito dificilmente
poderá amar as plantas.
Se no Jardim de Infância não existem árvores que possibilitem um
contacto sensorial e afectivo, não será através da televisão que os
miúdos tomarão consciência de que uma árvore é um ser vivo que ao
longo do ano modifica o seu aspecto, que lhe dá sombra quando faz sol,
que funciona como guarda chuva e que fornece oxigénio para a
respiração.
É a partir destas idades que na escola se deve começar a ensinar coisas
simples como pôr a semente na terra, observar mês após mês o
crescimento das plantas, o aparecimento das flores e a formação das novas sementes. As perguntas nascerão naturalmente e crescerão ao
ritmo que as plantas forem crescendo.
Porque só se pode amar o que se conhece, é fundamental que nas áreas
de residência e nas escolas existam espaços verdes, que as crianças se
habituarão a respeitar e a defender.
Há imagens que as crianças guardarão por toda a vida. Com essas
imagens será feito o quadro mental do futuro adulto.
Em casa e na escola temos o dever de lhes fornecer as tintas para
pintarem um quadro rico em vida. Estaremos a cometer um grande
crime, mesmo que inconscientemente, se lhes dermos as cores da
agressividade e da morte.
A prática pedagógica deve ser pautada por uma linha de coerência
bem definida para que as crianças não nos olhem com desconfiança.
Não podemos neste mês de Março fazer um discurso em defesa da
árvore e da floresta e em Abril falar em esperança usando como
símbolo as flores cortadas.
Março é o mês em que começa a Primavera. Primavera é nascer,
renascer, vontade de viver, de cantar. Os dias crescem, as flores
desabrocham, os pássaros constroem os ninhos. Tudo está em
equilíbrio. Quem o destruir, está a destruir-se. Pior, está a destruir o
futuro daqueles que hoje ainda não podem fazer valer os seus direitos.
De uma prática pedagógica marcada por contradições resultará uma
educação ambiental frágil. E as crianças de hoje deverão ser homens
fortes no século XXI.
(Raimundo Quintal – Março, 1988)
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