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terça-feira, 28 de novembro de 2017



A Escritura Sagrada do Messias Calado

“O Orçamento para 2018 privilegia as obras, a Saúde e a Educação”. Movido pela curiosidade suscitada por esta afirmação decidi analisar o documento apresentado pelo vice-presidente do Governo Regional, Pedro Calado, no passado dia 24 de novembro. Nesta análise não vou falar de números, mas sim daquilo que se pode “ler” nas entrelinhas da proposta de Decreto Legislativo Regional do Orçamento da Região Autónoma da Madeira para 2018. 

Desde logo, chamou-me a atenção o facto da proposta de Orçamento ser assinada por Pedro Calado na qualidade de Presidente do Governo Regional em exercício (Miguel Albuquerque preferiu viajar para desfilar com um Rei Zulu na Africa do Sul) e por Pedro Calado na qualidade de vice-presidente do Governo Regional ¹.


Este aspeto, que pode passar desapercebido, é pleno de valor simbólico. Por um lado, demonstra que o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, se demitiu da condução do executivo regional e não apenas da sua coordenação política. Por outro lado, demonstra que é o vice-presidente, Pedro Calado, qual Messias, que tem a missão divina de salvar a Madeira e restaurar o reino do PSD Madeira.

Senão vejamos. Basta referir apenas três poderes para constatar que Pedro Calado é um Messias todo poderoso. O primeiro poder tem a ver com as alterações e as cativações orçamentais, as quais estão definidas no orçamento e variam entre os 20 e os 40% em determinadas rubricas. Por exemplo, no caso das dotações orçamentais afetas à aquisição de bens e serviços a cativação orçamental é de 20%. Neste cenário, será que o vice-presidente terá a necessária imparcialidade para decidir que rubricas devem ser descongeladas ou reforçadas, quando tiver de decidir, por exemplo, entre mais verbas para a saúde ou mais verbas para as obras?

O segundo poder diz respeito ao controlo no recrutamento de trabalhadores. Nesta matéria tudo passa pelo crivo de Pedro Calado que detém o poder de autorizar a abertura dos procedimentos concursais. Mais uma vez, será que o vice-presidente terá a necessária imparcialidade para decidir, por exemplo, entre recrutar mais trabalhadores para os serviços que tutela ou mais trabalhadores para os serviços que não tutela?

O terceiro poder é, sem margem para dúvidas, o mais extraordinário: o poder de quem foi ungido por Deus para escrever escritura sagrada do Orçamento. Se tivermos em consideração que a proposta de orçamento não refere qual é o crescimento previsto para o PIB regional, ficamos com a sensação que o messiânico crescimento do orçamento de +13,2% nada tem a ver com o crescimento da economia regional. 

De referir que, segundo o Boletim de Execução Orçamental de junho de 2017, as receitas fiscais registaram um decréscimo de -5,5%, pelo que fica ainda mais difícil perceber como é que as receitas serão suficientes para suportar um orçamento que traduz um otimismo de fazer inveja a António Costa. A este propósito lembro o alerta do anterior secretário regional das Finanças “qualquer desvio na execução da receita face ao programado é motivo de apreensão, já que sem receita não é possível fazer face às despesas previstas” ². 

O que mudou na economia regional em apenas três meses? Muito pouco ou quase nada. Provavelmente, o orçamento expansionista visa apenas criar um cenário de otimismo económico que justifique o retorno à política jardinista de investimento nas obras. Contudo, creio que no final da execução orçamental de 2018, iremos descobrir que as prioridades saúde e educação foram sacrificadas no altar do Messias Calado.

J. C. Silva

¹ Proposta de Orçamento da Região Autónoma da Madeira para 2018


² Empresas pagam menos impostos e abrem buraco nas contas públicas

15 comentários:

Anónimo disse...

É um orçamento que evidentemente precisará de um rectificativo.

Anónimo disse...

Como é? O Calado assina duas vezes no mesmo documento?
Obras? Vem desgraça por aí!

Anónimo disse...

Mas alguém tinha ainda dúvidas que Pedro Calado é que manda agora?!? Albuquerque é só o relações públicas, papel esse que nem sequer faz bem!!!

Anónimo disse...

Como e óbvio o senhor presidente renovadinho vai fazer aquilo que melhor sabe: nada
Já na câmara era assim

Anónimo disse...

As empresas pagam nenos impostos? Que eu tenha percebido desce a taxa de IRC em 1% para uma matéria coletavel até 15 mil euros. Portanto no máximo um abate maximo de 150 euros. Pergunto-lhe, quantas micro empresas tem 15 mil euros de lucros?

Anónimo disse...

Alguém tem dúvidas que o Albuquerque já não está nem aí, e que o Pedro Calado é o candidato do PSD em 2019?

Mal posso esperar pelos debates entre dois vaidosos sorridentes, ambos com problemas com as citações...

Anónimo disse...

Eu cá não votei no Pedro Calado e penso que nenhum madeirense o fez. Por isso não reconheço poderes ao Pedro Calado para decidir nenhum dos assuntos importantes para a Região nem qualquer legitimidade para exercer esse cargo de "Presidente do Governo Regional em exercício".

Anónimo disse...

Cardoso Jardim percebeu que o PSD-M sobe e desce com movimentações internas. Daí que Cafofo já não sirva para nada.
Vai daí, é desanca-lo no Renovadinhos.

Anónimo disse...

O anónimo das 22:29 disse tudo.....
Aquele choque de egos em 2019 vai ser medido na escala de Richter.

Anónimo disse...

Tem toda a razão.
Creio que o Sr. Albuquerque mesmo com pouca popularidade e com pouco interesse nos madeirenses devia estar presente na elaboração e na apresentação do orçamento.
Que legitimidade tem o sr. Pedro Calado, com menos de 2 meses no poder para apresentar um documento desta natureza.

Anónimo disse...

Ó das 01.48, tem a legitimidade de ser o responsável pelas finanças, tal como na república é o ministro daquela pasta que entrega a proposta de orçamento ao presidente da assembleia da república.

Anónimo disse...

O Albuquerque já não tinha lá grande legitimidade para governar pois ganhou as eleições à rasquinha. Depois perdeu a legitimidade toda pois não cumpriu as promessas eleitorais. E agora coloca no comando do Governo um individuo que também não tem nenhuma legitimidade pois não foi eleito pelo povo. Parece que a democracia aqui na Região não funciona!

Anónimo disse...

Foi tão eleito como outros membros do governo para a ALR.
Daí que não se perceba o comentário das 11.46, para além do facto de que um governante seja uma escolha do presidente do governo.
Não há eleição para secretário regional.

Anónimo disse...

A falta de legitimidade do calado advém de ser ponta de lança do AFA. Está tudo tonto e não percebe isso?

Anónimo disse...

O problema é que o Albuquerque puxou da cartola esse novo cargo de vice-presidente para enfiar lá o Calado a assumir o exercício do cargo de Presidente, sem ter sido eleito para isso. Concordo com o comentário das 11:46. Uma coisa é ter um secretário ou um ministro a tratar os assuntos de uma pasta especifica ficando sempre sob a coordenação e a direção de um Presidente Regional ELEITO ou de um Primeiro-ministro ELEITO. Outra coisa bem diferente é ter alguém no comando do Governo Regional, como é o caso do Calado, sem ter sido eleito para isso. O Pedro Calado não foi eleito, por isso não tem legitimidade para comandar o Governo Madeirense e ainda por cima vem do AFA e até já andou a anunciar gastos de muitos milhões para obras desnecessárias enquanto temos a saúde uma desgraça que nem exames são feitos no Hospital.

Se o Albuquerque não tem capacidade para governar e representar os interesses dos madeirenses, então o governo que vá abaixo. Eu sei que não temos grandes alternativas na oposição mas ao menos que seja um eleito a governar. O que não podemos é ter um Presidente de faz de conta e um NÃO ELEITO à frente dos destinos da Região.