ENTREVISTA DE ALBUQUERQUE: A IMPORTÂNCIA DE UM TRUNFO CHAMADO RUPTURA
Miguel Albuquerque nada recuou na sua cruzada pela conquista da liderança no PSD, e em ruptura assumida com Jardim. Mudar urgentemente políticas e protagonistas, eis as linhas mestras do projecto do presidente da câmara funchalense para o seu partido.
Se ganhar as eleições internas no PSD, Albuquerque tratará de legitimar a sua posição através de eleições regionais antecipadas. A declaração partiu do presidente da câmara do Funchal no programa 'Em entrevista' desta quinta-feira na RTP-Madeira.
"As políticas devem ser sufragadas", justifica Miguel Albuquerque a sua ideia. No caso actual, "as políticas sufragadas nas últimas eleições, grande parte delas, já foram ultrapassadas pelos acontecimentos, como o plano de resgate."
Evidentemente que, para provocar eleições antecipadas, e mesmo que ganhe a liderança do seu partido, Albuquerque precisará que Jardim se demita do cargo de presidente do governo.
Apresenta-se pois absolutamente imprevisível o que resultará do imbróglio, caso se confirme a vitória do challenger na corrida entre social-democratas.
O PS-M sempre padeceu de um problema semelhante: uma corrente na liderança do partido, outra corrente rival na bancada parlamentar. Com as graves e conhecidas consequências para os socialistas durante três décadas.
Contra a sucessão por delegação de poderes
Em matéria de sucessão, Miguel Albuquerque continua a discordar da solução que Jardim pretende impor: em 2015, deixar o lugar de presidente do governo para que o seu sucessor - certamente o já indicado por ele, Manuel António - mostre ao eleitorado em 6 meses aquilo de que é capaz.
Confrontado com esse peregrino plano jardinista - mesmo assim destituído de credibilidade porque o actual chefe só pretende ganhar tempo até novo argumento para continuar agarrado à cadeira - Miguel Albuquerque dirigiu-se ao jornalista condutor da entrevista, Gil Rosa: "O madeirense, os militantes do PSD são inteligentes. Você acha que alguém aceita uma sucessão por delegação de poderes?! Isso é impensável. Os eleitores do partido têm o direito de votar nas políticas e nas pessoas."
Relativamente ao lançamento da candidatura de Manuel António Correia, Miguel Albuquerque considera que sim, que seria um caso de "delegação de poderes".
"É elementar, isso foi dito", recorda.
Eleições com jogo limpo... e as facadas nas costas
Sobre a corrida interna, Miguel Albuquerque diz exigir "eleições directas, justas e frontais" e ser necessário "fazer jogo limpo", afirmando-se também contra a pessoalização do processo.
"Eu não tenho nada pessoal contra o dr. Alberto João Jardim, o jogo limpo a que me refiro é político", disse, rejeitando a ideia de que se está a queixar. "Não sou vítima de nada até porque não tenho jeito para me vitimizar", esclareceu, em jeito de aviso. "Por mim, podem escrever o que quiserem, porque eu sei quem sou."
"Isso não tem reacção possível", resposta de Albuquerque às alusões de Jardim às "facadas nas costas" e às "traições" que lhe imputa a ele, presidente da câmara funchalense. "Isso é um exercício, uma estratégia de vitimização, porque o dr. Alberto João sabe muito bem que o que eu digo pelas costas também digo pela frente... ao contrário de umas alcoviteiras que andam à volta dele e de que ele muito gosta."
Jardim transformou o PSD num partido fechado
Miguel Albuquerque criticou objectivamente Jardim por haver transformado aquele que já foi um partido irreverente, reformista e defensor de causas numa organização fechada, que se "refugiou nas rotinas e na governamentalização dos actos públicos".
O PSD - afirmou - subiu junto do eleitorado graças ao seu cunho autonomista e popular, aberto à sociedade e capaz de auscultar e mobilizar as pessoas, com a sua luta contra o situacionismo. Por isso, "é importante neste momento retomar o estilo de abertura à sociedade e às forças vivas da Região, que se perdeu de há uns anos para cá".
O PSD burocratizou-se e precisa de sair dessas rotinas para ouvir os cidadãos - declarou Albuquerque.
O presidente da Câmara considera ser óbvio para toda a gente que o seu partido perdeu muitos votos nas regionais passadas, sobretudo nos sectores mais dinâmicos da sociedade, tendência que se agravará se não houver mudanças. "O partido precisa de indicar novos rumos à população, abrindo-se a ela nestes momentos difíceis", referiu. "Se não o fizer, perderá cada vez mais a credibilidade junto dos sectores mais dinâmicos mas também junto das camadas sociais que atravessam graves dificuldades."
A caminho de um novo ciclo
As conquistas autonómicas do PSD - que foram de todos - soam hoje como um tempo que se esgotou. Acabou. "O mundo mudou", lembra, sugerindo a passagem para um novo ciclo.
E, perante as dificuldades financeiras com que a Madeira se defronta, Miguel Albuquerque entende ser urgente romper com o actual estilo fechado que inquina a vivência no seu partido. Há que envolver os parceiros sociais num plano de regeneração que passe, à partida, pela correcção do plano de resgate, porque a Madeira "está realmente nuim beco sem saída".
A Madeira precisa de maior poder negocial para evitar o empobrecimento gradual que se verifica actualmente - propõe o principal edil funchalense. "A Madeira tem endividamento, mas o país também tem, a Europa tem, a Itália tem. É preciso fazer a renegociação, mas nada disto pode ser feito de improviso." Pelo contrário, e à semelhança do exemplo sueco, urge enfrentar o futuro da Região com políticas de médio e longo prazo - acrescenta, citando exemplos.
"Como candidato ao PSD, acho que é importante para o partido e para a Madeira mudar políticas e protagonistas", insiste, sem aceitar pessoalizar as questões. "O dr. Alberto João fez relevantes serviços à Madeira, todos nós participámos nisso."
O 'desempregado político' acha que vai ganhar
Da sua parte, o edil não sabe se realmente será o "desempregado político" de que o chefe costuma falar, em tom pejorativo. "As carreiras políticas são sempre temporárias." Ou, citando Churchill: a mais bela carreira política acaba sempre em lágrimas - quando o político perde o poder, perde as eleições. "A minha profissão não é o exercício da política", arruma o problema, deixando subentendido que a sua profissão é advocacia e não a política.
Mas, para clarificar, afirma que sente apoios dentro do PSD e na sociedade em geral que lhe permitem uma conclusão: "Acho que vou ganhar. Sem nenhuma arrogância, acho que vou ganhar."
O candidato ao lugar de Jardim apelou ainda para a dignificação do parlamento. Disse que, ao contrário de Jardim, compareceria em plenários da Assembleia e nos congressos dos outros partidos. E disponibilizou-se para debates na TV com os outros candidatos à liderança do PSD, incluindo o próprio Jardim.
Digamos que Miguel Albuquerque anda com a lição bem estudada. E que não se descarta do grande trunfo que agarrou há muitos anos: ruptura bem clara com Jardim mais o seu jardinismo truculento.
Pelo que se percebe na rua, entre social-democratas e simpatizantes de partidos da Oposição, Miguel Albuquerque sairá vencedor da corrida interna, mesmo que lhe apareça Jardim como adversário.
Pressente-se que Albuquerque vencerá facilmente. Mais facilmente do que a luta que se seguir, contra uma Oposição com tempo para preparar eleições num quadro completamente distinto daquele que enfrenta há 30 anos.
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