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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Delícias da Madeira Nova



Viver como ricos



Um já velho quadro da Associação da Construção critica o mau costume de se ter vivido estes anos acima das posses financeiras. Onde diabo quer chegar o homem?




O advogado João Carlos Gomes pregou-nos uma pequena mas bem pregada partida logo de manhã, esta quarta-feira. Ao pegarmos na edição do nosso JM, deparámo-nos com uma declaração de pasmar, dado que produzida por um homem de há muito conhecedor do sistema que rege as engrenagens sócio-empresarial-laborais da Madeira Nova.
O leitor que se ponha no nosso lugar e leia isto: "O nosso grande problema foi termos vivido como ricos durante muitos anos quando não tínhamos dinheiro para tal."
Diachos! João Carlos Gomes movimenta-se, desde que nos lembramos, nos meandros da famigerada Assicom. Será que o discreto causídico pretende, por algum ímpeto de ressabiamento até agora desconhecido, atingir os sócios da incansável associação de industriais e construtores para quem tem trabalhado?


Julgámos uma piada para Avelinos, Lopes...

Pode cá ser! Não precisamos de uma retrospectiva demasiado morosa para nos certificarmos de que por ali ninguém viveu alguma vez como rico. É certo que a populaça do calhau, ou não fosse o madeirense o pior inimigo do madeirense, não perde ensejo nenhum para rebuscar nomes de supostos novos-ricos caídos do céu. Inclusive, ou sobretudo, na área da construção. Mas são mais as vozes do que as nozes. Não se pode dizer que Farinhas, Lopes e nomes afins empobreceram com a sua entrada no mundo moderno do cimento armado, atraídos pela vaga desenvolvimentista desencadeada pelo regime acantonado no laranjal. Mas também se afiguram francamente hiperbólicas essas alusões a fortunas hoje míticas. Lembremo-nos dos empresários que andam hoje em dia por aí a penar pelos cantos da ilha com a própria falência, depois de anos e anos arriscando capital para dar emprego aos conterrâneos. Como único escape, realizam umas viagens de vez em quando ao Brasil e à Tailândia, para esquecer as perseguições da banca. Chama-se a isto viver como ricos?

Não pode ser, acusar agora essa gente que arriscou capital, embora alheio, de viver 'à grande e à francesa'...
Continuámos a ler o artigo do JM. Até descobrirmos o alcance da conclusão do nosso Amigo advogado. Está lá: quem viveu como rico sem ter dinheiro para isso foi... o povo!
Os 'patas rapadas', esses sim, é que viveram 30 anos como nababos! Sem dinheiro para tais voos, mas viveram.
João Carlos Gomes explica-se, num desabafo: "Todos queremos ser iguais aos ricos, mas criticamo-los quando ficamos pobres."


Ter trabalho é um prémio, diz o advogado

Pronto. Assim já nos entendemos. De resto, a peça refere-se ao novo Código do Trabalho, que uns dizem constituir a mais abjecta cedência aos patrões e outros consideram alavanca necessária à criação de emprego. Da parte da Assicom, pela voz do citado advogado, a ideia é que os trabalhadores devem dar graças a Deus por contarem com o seu posto, independentemente de poderem ser postos na rua quando o chefe acordar mal disposto, ficarem sujeitos à polivalência e com menos férias e feriados e o resto que toda a gente sabe.
Como diz João Carlos, e bem, hoje por hoje é um prémio a pessoa ter o seu emprego. Dispor de um lugar onde ficar das nove ao meio dia e das duas às seis da tarde - palavras do advogado.
E não é? Os sindicalistas mais radicais dizem que não. Mas analisemos a situação com frieza. Não é de agradecer de joelhos o facto de o cidadão contar com um sítio onde permanecer parte do dia, com água, luz, se calhar TV e jornal para ler, uma função qualquer distribuída para fazer o relógio andar, um lugar onde não gasta dinheiro, onde não tem de aturar o sogro nem a sogra, um lugar que o isenta de ir pôr e buscar os miúdos à escola... E ainda recebe ordenado, mesmo atrasado e às prestações, para se divertir com tudo isso?
Será melhor não ter lugar para estar das nove ao meio dia e das duas às seis da tarde? Preferem pastar pelas ruas da cidade, a encontrar este e aquela com paleio da treta, à mercê de credores chatos? E depois há sempre uma despesa inevitável, um café para tomar e pagar aos cravas do costume, uma água, convindo também estar preparado para o caso de perder uma 'negra' à 'machiqueira' no 'Gato Preto' ou no 'Vida Nova', isso tudo.

Pois, o povo andou a viver o delírio da riqueza, deixou-se levar pelas sereias da banca, ora compre lá uma casinha e já agora um BM que nós fazemos juros em conta, aproveite a euforia da Madeira Nova... E agora vem o boomerang no reverso da medalha: entregar tudo e empenhar o que tivesse antes, porque o tribunal não perdoa e o banco muito menos.
Zé Povo, como o dr. João Carlos Gomes sabe, não pode mandar arquivar dívidas astronómicas nem, quando a situação aperta, escapulir-se para mergulhar no azul brasileiro ou relaxar com as massagens tailandesas.
Mas foi uma bela partida para começar o dia.


Governantes para o desemprego

Só mais uma pequena observação, Dr. João Carlos. Parece-nos injusto esse insinuante remoque sobre as cidades com 10 milhões de habitantes que funcionam mesmo governadas por um simples presidente de câmara. Em primeiro lugar, parece desvalorizar quem desempenha funções executivas cá na Região, com as suas 250 mil alminhas. No nosso caso particular, os especialistas políticos não têm mãos a medir nos afazeres diários, como visitar exposições, explorações agrícolas, certames do pêro e da anona, creches e lares de velhotes.
Em segundo lugar, não lhe ocorre que drama não seria o número de desempregados advenientes de uma decisão de governar apenas com as pessoas estritamente necessárias?
Sejamos práticos.

11 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro Luís Calisto

O regime está tão podre que qualquer tentativa de branquear o sistema resulta numa diarreia de argumentos deploráveis que nem lembram ao diabo, passe o lugar-comum. Lá diz o ditado: quanto mais se mexe na m.., mais ela cheira.

Anónimo disse...

Ainda a dias li uma coisa que achei interessante e que deixo aqui, os unicos que nao viveram nem vivem acima das suas possiblidades :
"Os políticos instalados no poder, banqueiros, administradores de Empresas Públicas como TAP, RTP CGD, EDA, Águas de Portugal, Estradas de Portugal, Empresas de transportes, Banco de Portugal, etc., que criam as próprias regras de retribuição e de passagem à reforma com meia dúzia (ou menos) de anos de serviço, com indemnizações e reformas milionárias que vão acumulando, enquanto pulam de conselho de administração em conselho de administração e destes para o Governo ou fazendo o percurso inverso, apesar das empresas darem prejuízos de milhões todos os anos. Não são muitos (quase sempre os mesmos), mas são bons, tem de ser bem pagos senão vão para o estrangeiro e aí ficamos sem massa critica, sem os melhores quadros (que rica massa crítica). O Governador do Banco de Portugal (já foi tarde), apesar de ganhar o dobro do seu homólogo americano e tanto como o alemão deixou o BPN e o BPP enganarem toda a gente e transformarem-se em sorvedoures dos dinheiros públicos.
Estes não tem culpa de nada, são intocáveis, é vê-los no dia de Portugal a se condecorarem uns aos outros, a passarem nos ecrãs das TVs a receitar parcimónia e aperto de cinto. Estes não viveram acima das suas possibilidades, viveram foi acima das NOSSAS."

jorge figueira disse...

Falta o s.exa. das Angústias avançar com a sua estafada tese da doutrina social da igreja, sempre muito útil nestas circunstâncias. Aliás, em última instância, resta sempre o recurso dos pobres irem para o céu em contraponto com o camelo a passar no buraco da agulha. Lembrei-me agora: caberá o buraco da dívida pública madeirense no fundo da agulha? Terão de aumentar a agulha?

Luís Calisto disse...

Um comentário aos comentários:
- Excelentes!
Pena é os verdadeiros destinatários não os lerem, porque ou bem andarem na leitura ou bem andarem a viver acima das NOSSAS possibilidades, parafraseando um dos comentários.

Mandem sempre!

RA disse...

Caro Calisto: isto é um "delírio da Mamadeira Nova". Mas quem é que viveu como rico?! o pobre do trabalhador que, no Verão, ousa comprar um corneto ou um perna-de-pau para dar ao filho?! O trabalhador que trabalha de sol a sol para poder ter um cantinho que será do banco até aos 70 e tal anos? Esta cachorrada que, ao lado de Jaime Ramos e outros mamões semelhantes, tanto mamou à custa de quem trabalha ainda acha que o povo viveu acima das suas possibilidades? P... que os pariu!!!

Luís Calisto disse...

Caro comentador: assim como as culpas das broncas e dos calotes são imputadas aos outros (Sócrates, Bush, Trilateral), também os outros é que viveram acima das possibilidades.
Linda leitura da situação, a que é feita pelos mamadeiros da Madeira Nova.

Anónimo disse...

O problema que se poe agora e como saimos disto ? Eu ja nao acredito em Portugal, estamos presos numa teia de interesses que vai muinto alem dos partidos politicos, para comecar precisavamos de uma grande operacao maos limpas e activar umas cadeias que foram desativadas para la serem colocados juizes,advogados,politicos, empresarios assim podia ser que ainda tivessemos saiba!

jorge figueira disse...

Ao exmo. anónimo recomendo-lhe, embora eu não pratique, uma tese muito em voga em período eleitoral: votar nos mesmos porque estes já estão e, por isso, não precisam enriquecer. Muita gente pensa assim, recomendando a tese, na vã esperança de, familiarmente, passar por entre os pingos da chuva

Luís Calisto disse...

Desculpem meter a colherada, mas gostaria de fazer notar isto: por que não votar noutros diferentes dos dinossaauros actuais e, por essa via, aumentar o número de ricos, em nome das estatísticas da Madeira Nova?

Anónimo disse...

Conheco algumas pessoas que usam essa tese, eu estou a vontade porque nunca votei PSD, nem em Cavaco para Presidente.
Hoje sinceramente tenho duvidas em quem votar mas o PSD nao tera o meu voto de certeza.

jorge figueira disse...

Meta a colherada, a garfada à vontade. Empanturre-se. Vamos ver se as cabecinhas pensadoras dão pelo logro em que as meteram. Pensam que quietinhos ficam incólumes à voragem.