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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Política das Angústias / SÁBADO



MIGUEL MENDONÇA PROVOCA PRIMEIRA DISSIDÊNCIA NA 'FÉNIX'



O repórter do blogue recusou-se terminantemente a pegar na entrevista do presidente da Assembleia ao JM e dar a volta àquilo. Adormecera logo à primeira resposta...



O chefe cá da 'Fénix' afiava garras para colar a manchete de Miguel Mendonça à tese de Jardim sobre maçonarias, trilaterais, Bush, sócios verde-rubros e bombeiros.




O chefe da 'Fénix' encarregou-nos de 'trabalhar' a entrevista concedida pelo Dr. José Miguel Mendonça ao Jornal da Madeira, publicada nesta sexta com cheiro a fim-de-semana.
Segundo nos disse o homem, em causa estavam declarações bombásticas que inspiraram a manchete de 1.ª página do JM - "Cabala crónica contra Assembleia".
Tratando-se da primeira figura institucional da florescente autonomia, esclareceu-nos o chefe, o interesse jornalístico obrigava-nos a tentar explicar aos leitores se Mendonça, outrora deputado socialista e hoje barão dos barões social-democratas, se convertera finalmente à tese doutrinária das 'cabalas' desde há muito defendida pelo chefe das Angústias.

A matinal adjudicação do serviço entusiasmou-nos. O assunto parecia bem aliciante e ao mesmo tempo fácil de realizar.
'Sacámos' o exemplar do JM numa sacristia da baixa.  Toca a ler.
Depois da sensacional chamada de 1.ª página em que o entrevistado promete mais crispação parlamentar para a próxima sessão legislativa, foi com grande apetite que nos atirámos às páginas 4 e 5, abrindo-as gulosamente de par em par sobre a secretária, para devorar as sábias palavras do entrevistado.


Mendonça entende que o trabalho no parlamento deve ser chamado 'trabalho parlamentar' 


A primeira pergunta da entrevista, porém, é um tanto desmobilizadora, já que pede um balanço à I sessão legislativa, expediente sempre maçador.
Mas veja-se como José Miguel Mendonça ainda consegue ser mais enfadonho:
"Quando me é perguntado o balanço da actividade parlamentar da I sessão legislativa da X Legislatura, de uma forma muito resumida, telegráfica quase, eu acho que se deve começar sempre por resumir alguns números estatísticos que provam que a actividade parlamentar não é propriamente uma actividade de lazer ou de ocupação de tempos livres, mas é uma actividade de trabalho que é chamado parlamentar."

Perante a mescla de banalidades, ameaça de balanços anestesiantes e humor involuntário, reclamámos com o manda-chuva da 'Fénix': estamos demasiado velhos para pegar num purgante deste jaez, desculpe lá oh chefe.
Que não, que o jornalismo de qualidade consiste muito em paciência sobretudo numa terra de raros génios, e por aí adiante se alongava o chefe.


Veja-se: três quartos de página só para a primeira resposta. E quem responde é Miguel Mendonça, que no parlamento mal deixa os pequenos partidos abrirem a boca.


Lá prosseguimos a leitura daquilo, de olhos semi-cerrados, a 'pescar bodiões', rezando aos santinhos para que a segunda pergunta aparecesse depressa. Mas qual! Íamos a meio caminho da primeira coluna (sem espaço perdido com fotos) e o homem que levou o Marítimo à I Divisão em 1977, como presidente do clube, ia despachando números e mais números do balanço - tantas reuniões das comissões especializadas permanentes, tantas reuniões do plenário, mais as médias, mais os 164 diplomas debatidos...


E falava o homem num 'resumo telegráfico'!

Quando o homem vai a entrar no balanço dos debates potestativos, alto e pára o baile! Mas quando é que surge uma segunda pergunta que acabe com este suplício?! - perguntámo-nos.
Passámos os olhos em diagonal, descendo pela coluna abaixo, até embatermos num entretítulo que a jornalista, pobre dela, achou conveniente meter ali a martelo a meio da resposta, para desanuviar a disposição de algum eventual leitor além do Dr. Mendonça. Então, sem nova pergunta ou coisa parecida, o 'paleio' continua dentro da normalidade, embora o mordomo parlamentar enverede pela explicação da 'cabala' de que se fala na 1.ª página.
Ora, essa "cabala contra a Assembleia" circunscreve-se,  nada mais do que isso, às críticas dos "senhores jornalistas" (senhores desde que deixaram de entrar de sapatilhas no nobre manicómio) segundo as quais críticas "na Assembleia não se trabalha" e "isto é um bando de vadios que por aqui andam".
Sem perder a velocidade lesmenta, chefe do parlamento insiste nos arrasadores remoques aos "ilustres, muito dotados e doutos plumitivos da comunicação social", em contraponto com a elevação ética daquela 'casa de loucos' (definição de Jardim) "onde circulam ideias, ideologias e divergências de opinião".
A peroração prossegue com teorias sobre parlamentarismo, democracia directa, democracia representativa. 
Bem, muda-se de coluna, o tema continua o mesmo. Mais um entretítulo da jornalista para desenjoar a primeira resposta - ainda! A segunda coluna vai a meio, descemos por aí abaixo, e nada de novo, mais parlamentos autónomos italianos, espanhóis...
O leitor pode não acreditar, mas chegamos ao fim da segunda coluna de uma página de jornal e ainda vamos na primeira resposta de uma entrevista!

Aqui voltámos a ligar ao chefe da 'Fénix', que andava fora, provavelmente a receber instruções nas Angústias. Apresentámos a recusa: não fazemos trabalho nenhum sobre esta desgraçada entrevista!
"Experimenta!" - reagiu o chefe, desaparecendo logo da linha.
"Experimento, experimento", decidimos. Mas enquanto chefe regressa, não regressa à redacção, continuamos a seguir a entrevista com os olhos. Só na terceira coluna é que vamos encontrar a segunda pergunta! P...!
Ora, aproveitando a nova pergunta - se foi uma sessão legislativa difícil -, o nosso Amigo mordomo parlamentar aproveita para profetizar uma próxima sessão ainda mais difícil.

O leitor da 'Fénix' está sonolento, mas imagine então nós, quando lemos aquilo.

Lá vai Miguel Mendonça nessa onda por mais uma longa coluna e meia de caracteres, onde atinge o ponto de dizer que "o presidente (ele) também é humano".
Claro que falava grego para troiano ouvir, ou seja, dizia que precisava de ter paciência com posições como as de José Manuel Coelho, mas obviamente que falava para atingir Jaime Ramos, que o trata bastas vezes, no plenário, muito abaixo do humano.
Não aceitámos ler mais.

Quando o chefe chegou, tivemos conversa. A troca de palavras aqueceu com injúrias de fazer corar um carroceiro, certamente por influência de mais uma sessão parlamentar que todos seguimos. Pena o presidente não ter feito esse balanço, que seria mais vivo.
Enfim, o chefe perguntou-nos, cinicamente:
- Sabes o que é que entrou ontem em vigor?
- Não estou a ver...
- Então vê o que tens de fazer.

Pois, era o Código de Trabalho, feito à medida dos chefes fascistas.

Sem mais delongas, viemos esgalhar esta peça, que remédio. Como diz João Carlos Gomes, da Assicom, ter trabalhinho hoje em dia é um prémio. Mas, por revindicta, aqui vai um arrazoado mais maçador do que a entrevista do chefe José Miguel Mendonça. Uma proeza - e não é para nos gabarmos.

Nota da Fénix - Damos o valor à jornalista que conseguiu traduzir e colocar no 'word' a linguagem barroca com influências arabescas de José Miguel Mendonça. Não o conseguimos fazer tão bem quando, nos tempos do DN, fomos a uma entrevista e o já presidente do parlamento pôs um gravador seu a trabalhar ao lado do nosso.

7 comentários:

jorge figueira disse...

Como eu o compreendo Calisto. Ninguém gosta de ser perseguido no seu trabalho. O seu chefe não é para brincadeiras como se vê. Há muitos assim e alguns são como as hienas atacam "ao molho" sem dar a cara. Parabéns pelo resumo da entrevista. Tinha lido os títulos, preparava-me para lê-la na integra mas já não o faço. Chegou-me o resumo pois ainda estou cansado da leitura do brilhantissimo trabalho feito com as ideias de s.exa.o digníssimo deputado no mesmo jornal.

Luís Calisto disse...

Edição histórica, a do JM hoje!

Anónimo disse...

Nada de telegramas para o trabalho (para)lamentar, mas, sim, vaselina pura e dura, como toda a gente gosta. Ahahahahaha!.....

Luís Calisto disse...

Os deputados têm o que querem... e o que merecem.

Anónimo disse...

Ter o que querem até aí concordo plenamente, mas de que o merecem aí já não sei não...

Luís Calisto disse...

Quando digo que têm o que merecem refiro-me, por exemplo: têm o presidente do parlamento que merecem, o governo que merecem... e por aí fora.

Paulo disse...

Os deputados na sua grande maioria pouco se importa com as cenas que por la acontecem, querem e manter o seu emprego muinto bem pago esquecendo se que estam la para representar e defender quem os elegeu. Aquando de certas atitudes do quero mando e posso deste senhor, todos os deputados da oposicao nao se juntam e pura e simplesmente nao comparecem na Assembleia ? O que faria o Presidente da Republica ?