Powered By Blogger

sábado, 1 de setembro de 2012

Política das Angústias






ALBUQUERQUE PROMETE ELEVAÇÃO NA CAMPANHA ELEITORAL APESAR DOS EXCESSOS DE JARDIM


O patrão do PPD, obcecado pela eternização no poder, degradou a linguagem da campanha contra o colega de partido Miguel Albuquerque, tratando-o por "indivíduo inqualificável" e "traidor" ao serviço da Oposição. As eleições internas aproximam-se, mas Albuquerque mantém a linha: "Vamos agir com elevação", disse-nos há pouco.

D. Perpétuo das Angústias faz um esforço para se portar com modos quando na presença daquele que tenta despachar o jardinismo.

A fúria dos ataques de Jardim a Miguel Albuquerque explica-se numa frase: puseram-lhe em jogo mais uma vez, e agora internamente, a perpetuidade no poder que anseia desvairadamente para si próprio.
Por trás dos discursos sobre a conveniência de uma sucessão em clima de estabilidade lá para 2014-2015, o chefe da Rua dos Netos esconde o verdadeiro móbil da sua luta: derrubar o novo obstáculo erguido na sua interminável carreira de ditador, o furacão Albuquerque, e depois moldar a situação que daí surgir para tornar 'inevitável' a sua recandidatura dentro de dois, três anos. E assim sucessivamente.
E Manuel António Correia? O chefe não lhe ordenou que anunciasse a sua candidatura? Não lhe manifestou apoio em várias ocasiões?


Patrão faz a Manuel António o que fez a Miguel de Sousa e a Cunha e Silva

"Alguém já lhe ouviu qualquer elogio ao Manuel António que não ouvisse noutras alturas em relação ao Miguel de Sousa e ao João [Cunha e Silva]?"
A pergunta é-nos feita por um barão do alto PPD-M, absolutamente convencido de que o chefe jamais se reformará por sua vontade. "Quantas vezes ele apontou Miguel de Sousa e João como sucessores ideais?"
 
Não podemos refutar essa dedução. Ela coincide com a nossa forma de analisar a estratégia do caudilho, de resto denunciada infantilmente. Ele inventou delfins em alturas que exigiam esse expediente. Tratava-se de retirar carga de cima de si, dando a entender que mais ano menos ano se reformava politicamente. Forma de ir ganhando eleições acenando para o eleitorado nos comícios com o lenço branco. E assim veio somando mandatos até atingir a salazarenta marca das três décadas e meia de cadeira.
Simplesmente, hoje põem-lhe em causa o lugar cativo no 'centro de dia das Angústias' dentro do seu próprio partido. O que não pode ser encarado senão como, diz ele, uma cruel "facada nas costas". E quem é o traidor 'faquista'? Miguel Albuquerque, também apontado como delfim pelo chefe, outrora, quando achou oportuno travar 'ideias' que supôs demasiado ambiciosas de Miguel de Sousa e João Cunha e Silva. Paulo Fontes, Sérgio Marques e outros viram também os seus nomes envolvidos nesses jogos, imaginando-se delfins aqui ou ali, consoante a táctica do chefe.
Quem não se lembra de ouvir o monarca disparar enfatuadamente o tiro da corrida à sucessão, julgando que lhe pediriam que continuasse 'ad aeternum'? Que fez ao perceber que os delfins tinham realmente aspirações?  Mandou parar tudo, acusando as 'falsas partidas'.


Jardim traidor alinha com a Oposição

Miguel Albuquerque, presidente da Câmara do Funchal e ex-líder da JSD, explica-se incansavelmente: apresentar uma candidatura consiste num gesto democrático e não em 'facadas nas costas'. Concepção inválida para Jardim, que se julga credor de todas as subserviências. Discordar do que diz é traí-lo a ele, ao PPD, à Madeira e ao Universo.
Nessa ordem de ideias, o candidato apostado em roubar-lhe a eternidade passou de delfim a "vedeta de revistas de cabeleireiro" e a "futuro desempregado político". Um traidor pronto a liquidar o mestre de sempre. Ou, como afirmou chefe tribal esta quinta-feira no Porto Santo, um dos "indivíduos inqualificáveis" que "resolveram trair neste momento de dificuldades".
...Ou ainda esta ilação apenas compreensível na esfera do absurdo em que o chefe costuma ruminar os raciocínios: Miguel Albuquerque defende a realização de eleições regionais antecipadas, alguns elementos da Oposição acabam de defender a mesma ideia e então fica provada, segundo Jardim, a tese de que o projecto do "inqualificável" Albuquerque é trair o seu partido, "rebentando-o por dentro", para oferecer a vitória à Oposição.
"Do mesmo modo, poderia dizer-se que ele (Jardim) imita os adversários ao atacar ferozmente o presidente social-democrata da Câmara do Funchal, e então fica provado que está a trair o PSD para ajudar a Oposição" - ri-se um dos apoiantes de Miguel Albuquerque.


As coisas mudam e fogem ao chefe

Do lado municipal, a situação das pré-directas no PPD é encarada muito a sério, mas com um certo à-vontade. Os últimos tempos mostram a derrapagem do grande líder: sempre a descer direito ao despenhadeiro.
Jardim não resistiu ao empenhamento de Albuquerque e cedeu nas datas do congresso, que teimava em convocar para 2014-2015. Ei-lo antecipado para finais deste ano.
Depois de tentar mostrar o seu poderio varrendo a linha de Albuquerque na Câmara, a firme reacção nos Paços do Concelho levou-o a rebaixar e humilhar mais uma vez aquele a quem indicara para candidato, Sérgio Marques, passando a considerar Bruno Pereira, número dois de Albuquerque - este no limite de mandatos - como "candidato natural do PSD".
Um 'golpe de rins' que murchou tremendamente as vaidades nas Angústias.

Sem dúvida que as coisas estão a mudar e nem sequer as ameaças de processo disciplinar no PPD intimidam já os militantes que vão aos jantares (esta sexta-feira reuniram-se 170 em Machico).
A vereadora Rubina Leal, que apoia Miguel Albuquerque, enfrentou o chefe supremo em plena Comissão Política, sabendo das consequências. Pedro Calado e Costa Neves, também vereadores laranja, não escondem o desalinhamento com as cúpulas dos Netos/Angústias. E da restante equipa laranja municipal não se conhecem divergências com o principal edil.


Derrotas sucessivas

As coisas mudam tanto que as visitas pelos adros se transformaram em penosos fiascos. Ninguém lhe liga.
A contestação de dentro da Igreja, parceira fiel do governo, cresce à vista de todos, com padres a manifestar-se publicamente contra uma promiscuidade que vem de longe.
O chefe já não vai ao futebol, traumatizado por experiências tremendas nos Barreiros que ele sente em vias de reedição, não só no estádio mas em toda a parte, à conta da tragédia social da sua responsabilidade. A segurança oficial já foi reforçada e avançam sempre batedores à civil diante da comitiva presidencial, a caminho dessas freguesias.
 
Cunha e Silva, depois de humilhado pelo surpreendente avanço de Manuel António, a mando superior, também se disse disponível para disputar a chefia do partido e apareceu em público lado a lado com Albuquerque, rara coisa, revelando que o seu jardinismo já foi mais incondicional do que é actualmente.
O certo é que o vice do governo, contra as críticas e ataques de Jardim a Miguel Albuquerque, afirmou concordar com o aparecimento de candidaturas dentro do PSD. "São saudáveis", disse João Cunha e Silva.
 
Outro desaire para Jardim surgiu onde menos o homem previa: a maioria de militantes dentro da JSD 'correu' com Pedro Pereira, apoiante confesso das Angústias, esfumando-se desse modo os tais 4 ou 5 mil votos da juventude na candidatura jardinista.
A nova Direcção declarou-se neutra na matéria.


Recurso à ofensa grosseira

Perante as adversidades e a perda de influência, Jardim envereda pela ofensa grosseira para tentar rebaixar o temível adversário que lhe surgiu no partido. É o que se vê por estes dias.
Esperto, chefe antecipou as eleições internas já para este ano. Bem andou nesse particular, porque, para ele, convém atalhar o fenómeno Albuquerque o mais depressa possível.
Sempre perspicaz, sabe também Jardim que o adversário não vive obcecado pela vitória neste congresso, porque, se não for agora, será no próximo - e então Jardim já magica fórmula para excluir Albuquerque destas andanças, de forma que no congresso que se seguir ele já não possa concorrer. Nas palavras de Jardim, a ideia é impedir certos 'coelhos', saídos da toca, de "atrapalharem a sucessão no PSD", na hora certa.
Os 'coelhos' são os tais "indivíduos inqualificáveis" que se candidataram antes do tempo e por isso devem ser excluídos do partido. Exclusão - palavra de ordem depois de Jardim perceber que não consegue fazer recuar o adversário.


Albuquerque: "Responderemos com elevação"

A campanha eleitoral, já de si mesquinha, tende a baixar de nível da parte de Jardim, à medida que a data decisiva da eleição interna se aproxima. Mas Albuquerque não altera por um momento que seja o rumo da sua candidatura. "Vamos agir com elevação em todos os momentos", dizia-nos há pouco o presidente da Câmara do Funchal. "Já demos muito à Madeira e ao PSD e não responderemos a injúrias."
O "serviço público realizado está à vista de todos", acrescenta Miguel Albuquerque, "e como não precisamos de demonstrar nada nesse capítulo, estamos plenamente tranquilos".
 
Nem por isso Albuquerque se inibe no exercício da pré-campanha. Começando por se demarcar da Fundação Social Democrata, braço armado de Jardim, o edil explicou ao nível nacional e regional o porquê de afrontar o chefe na corrida interna. Denunciou manobras intimidatórias de Jardim para manietar tanto a sua pessoa como os seus apoiantes. Logo acrescentando que não teme as pressões que visam instalar um "clima de medo" na família social-democrata. 
A sua posição desafogada na sondagem feita pelo DN antes de Jardim se anunciar candidato em vez de Manuel António permite-lhe jogar com a simpatia de militantes e cidadãos em geral.   
Daí protagonizar a sua pré-campanha eleitoral agindo pela sua cabeça, não receando assumir, em várias matérias actuais, posições claramente diferentes das que Jardim manifesta - como por exemplo a polémica problemática do aterro na Avenida e a incompreensível ausência do grande chefe em debates na TV e no parlamento. 
 

 
Fantasmas velhos e relhos
 
Jardim depara-se com uma situação nova e correm-lhe mal as primeiras tentativas para evitar cair no desconhecido com estrondo. Para entreter, levanta os fantasmas a que se habituaram os madeirenses nestes 30 anos. O inimigo externo (maçonaria, Europa, socialistas e até o PSD-Lisboa), os adversários da Autonomia e do seu projecto de revisão constitucional...
Esta sexta-feira, liam-se no JM declarações do presidente laranja regional a considerar "heresia" dizer-se nesta fase que o emprego é mais importante do que a Autonomia.
Veja-se: famílias onde marido e mulher perderam o trabalho e não têm dinheiro para alimentar os filhos ou comprar-lhes os livros. E o chefe de um governo que tem o dever de arranjar solução para o drama, dispersa-se na discussão de conceitos mais batidos do que o calhau do norte! Deixa os conterrâneos morrer de fome só para se perpetuar na porca da cadeira!
Jardim parou no tempo. Quando resolver abrir os olhos, será tarde. Esperemos que só para ele.
Ele bem diz: "Quem não estiver neste clima de unidade fica de fora!" Clima de unidade, como se sabe, consiste em dizer 'sim senhor' ao chefe. Se ele é tudo, é também a unidade.
Pois quem se arrisca a ficar de fora é ele mesmo. E se não for agora, será daqui a dois anos. De forma ainda mais triste.
Uma coisa é ele querer ultrapassar Salazar na longevidade político-ditatorial. Outra coisa é ele o conseguir.


Por que não aparecem barões no apoio ao chefe?

Repare-se que, a poucas semanas das decisivas eleições internas, nenhuma figura do PPD-Madeira se assumiu publicamente como apoiante do actual chefe! Nem Jaime Ramos!
"Ninguém está para dar apoio sem saber se está convidado para as listas e mesmo porque ficar a bem com um lado, nesta altura, significa ficar mal com o contrário", sorri o barão que lamenta o papel que coube em todo este processo a Miguel de Sousa, João Cunha e Silva e Manuel António.
"Ele (Jardim) só sai se for derrotado, de contrário vai directamente das Angústias para as outras Angústias!" - reitera o barão uma ideia que se torna cada vez mais comum na Madeira. "Isso é o que lhe vai no íntimo, tenho a certeza."

Há um problema suplementar na fase actual de Jardim: os seus antigos colaboradores, mesmo os que fizeram carreira de vida junto do líder carismático, não só se abstêm de manifestar qualquer apoio à recandidatura do amigo como condenam vivamente a obsessão anti-Albuquerque desfraldada nas Angústias. Barões do regime assumem essa posição muito crítica na rua, sem olhar para os lados e sem garantir que em Outubro votarão no grande chefe, na hora das directas.
 
E se Jardim ganhar esta dura guerra que nunca imaginou vir a rebentar? Isso continua como hipótese forte, apesar das dúvidas no ar. Ele usará da sua persuasão natural e de argumentos repetidos para tentar convencer os militantes. Desta vez sim, garantirá doravante, preciso de um último mandato para meter tudo na ordem antes de partir.
Se ganhar? Terá de remodelar o governo regional. Tornou-se insuportável o ar que lá dentro se respira. Manuel António indicado futuro chefe... de João Cunha e Silva, que é vice na estrutura. E o secretário A que não fala com o B e o C que detesta o D... E todos em conjunto que não suportam o chefe.
Da remodelação não se livrará grande chefe. Só faz sentido promover agora o secretário do Ambiente a vice. O que implica o abandono de Cunha e Silva. Em todo o caso, chefe Jardim terá depois dois anos para magicar a forma de fazer com Manuel António o que fez com Miguel de Sousa e Cunha e Silva,  empacotando-o por mais uns anos... até mandá-lo embora de vez.

 
 
A caminho da eternidade
 
Como em 2015, mesmo que perca agora, Miguel Albuquerque estará na luta pela liderança, Jardim terá então motivos para nova cambalhota e gozar outra vez o seu eleitorado. "Os militantes estão a ver tudo" - vai já dizendo ele, morto de riso.
- Neste momento difícil da Região, em que as forças inimigas apontam armas ao nosso povo, a hora não é de virar as costas. Peço mais um mandato, só mais um... Depois, em Janeiro de 2019 fazemos um congresso e eu deixo o vencedor governar os últimos sete meses até às eleições desse ano, para o povo se decidir.
 
Parece que já estamos em 2015 a ouvir este discurso batido!



3 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro Luís Calisto

Jardim nunca pára de nos surpreender com cambalhotas monumentais. Se lhe restasse um mínimo de sensatez, para minimizar a catástrofe que se avizinha, apoiava a candidatura de Albuquerque já no próximo dia 9. Desculpas esfarrapada, muito ao seu estilo, nunca lhe faltaram. E tudo a bem da unidade do seu "partido" (esfrangalhado?)

Paulo disse...

O Alberto Joao esta preso numa teia que ele proprio criou.
Penso que pouca gente tem duvidas que a real divida da Madeira foi toda descoberta, nao sei aonde mas ha mais escondida, e se ele sai o que chegar nao vai querer ficar responsavel por isso.
O homem so tem uma hipotese ficar la ate morrer, quem vier depois que resolva!
Quanto a Albuquerque como ja disse varias vezes e um novo Jardim e sem o apoio deste nunca vai ganhar uma eleicao. Eu por mim acho que Alberto Joao devia continuar e ser o povo a manda lo embora!

Luís Calisto disse...

Caro Coronel Fernando Vouga
Nunca me passou pela cabeça tal solução, mas reconheço que aina seria a menos estrondosa na já difícil situação.

Caro Paulo
E como o povo não o manda embora, por ser masoquista, lá temos que o aturar mais uns anos. Também já estamos acostumados.