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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Cultura, Culturas





DA VARANDA DA QUINTA DAS ANGÚSTIAS



Vista da Baía do Funchal desde a Quinta Vigia.


A 07 de Outubro de 2011, dois dias antes das eleições legislativas regionais o imaculado Jornal da Madeira informava os ilhéus, que o presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, iria inaugurar às 12 horas, no Funchal, o Arranjo Urbanístico da Avenida Sá Carneiro e a Praça do Mar. E para que não restassem dúvidas da criteriosa utilização dos dinheiros públicos, os anestesiados eleitores eram minuciosamente informados das qualidades e dos benefícios das novas infraestruturas:
“Esta obra de grande melhoramento na baixa do Funchal, que vem dar uma maior dignidade a uma das principais portas de acesso ao centro da Cidade, sobretudo para quem vem do porto do Funchal, foi da responsabilidade da Vice-Presidência do Governo Regional, através da Sociedade Metropolitana de Desenvolvimento, consistiu no reperfilamento da Avenida Sá Carneiro, dotando-a de um perfil semelhante ao da Avenida do Mar, essencialmente constituído por quatro faixas de rodagem e amplos passeios ajardinados e arborizados.
De realçar a construção de uma ampla praça com mais de 3.500 m2 na cobertura do parque de estacionamento automóvel, e que se denominará Praça do Mar, que constituirá certamente um novo ponto de atração nesta zona da Cidade do Funchal.
Foi ainda criado um parque de estacionamento coberto com capacidade para 420 viaturas e construído um edifício de dois pisos com frentes para a Praça do Mar e para os amplos passeios da Avenida Sá Carneiro, destinado à concessão de espaços para o lazer, cultura e turismo.
O edifício de dois pisos tem capacidade para 11 estabelecimentos comerciais localizados no rés-do-chão, dispondo igualmente de oito espaços no piso superior do edifício, um espaço destinado a restaurante com capacidade no interior para 80 lugares sentados, isto além do já referido parque de estacionamento subterrâneo.”
Quase um ano após as eleições e dez meses depois da descoberta duma cratera nas finanças da Madeira, da varanda da Quinta das Angústias avista-se entulho amontoado no cais norte, a Praça do Mar deserta, blocos rochosos ameaçando saltar para a Avenida Sá Carneiro e um edifício inacabado, sem um única unidade comercial, com jardins suspensos povoados de plantas infestantes e buracos no telhado tapados com folhas de zinco, tábuas e blocos de cimento que sobraram das obras, tal qual nas construções clandestinas das zonas altas do Funchal.
Até hoje não consegui saber quanto já custou aquela obra, quanto falta pagar ao empreiteiro e quanto mais dinheiro será necessário para que o cais norte fique com um ar decente.
Da varanda da Quinta das Angústias o presidente da junta de freguesia da Madeira recusa-se a olhar para baixo. Entretém-se a vigiar mais um enterro do erário público numa ruidosa cerimónia a leste do cais da cidade.
 
Saudações ecológicas,
Raimundo Quintal
 





 





 
 
Nota da 'Fénix' - Efectivamente, faltava qualquer coisa neste lado para combinar com as maravilhas do aterro, no outro extremo do porto.
 

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