DESACATOS NO PARLAMENTO MARCAM NORMALIDADE REGIONAL
Os distúrbios registados nesta manhã de terça-feira na Assembleia Legislativa desmentem os arautos alarmistas que vêem desgraças a cada esquina e profetizam transformações preocupantes capazes de rebentar ainda mais a sociedade madeirense. Afinal, tudo corre dentro dos parâmetros normais, conforme documentos juntos.
Qual é a diferença entre esta cena, que tanto indignou Tranquada, e o espancamento do operário supostamente portador de deficiência às mãos do chefe do desgoverno regional, em Machico? |
Hoje nem sequer faltou o corriqueiro desaguisado na casa dos deputados, arbitrado com muito pulso pelo presidente Miguel Mendonça - que, já agora, mais uma vez deixou calados os que o querem na reforma, estendido numa rede a ler a colectânea dos Diários da Assembleia no meio das maçarocas e varas de feijão da nossa mística Santana.
Se algo vimos de estranho hoje foi aquele assombro do eterno deputado laranja Tranquada Gomes perante o que se desenrolava na arena. O homem parece ter estranhado umas cargas de ombro a destempo ou com exagerada virulência, e uns piropos de parte a parte, e então pediu cartões vermelhos indiscriminadamente (para os elementos trabalhistas).
Ou escutámos mal, ou Tranquada chegou a pedir cadeia efectiva para o deputado José Manuel Coelho do PTP, que, vítima dos empurrões às unhas dos funcionários, por ordem de Mendonça, chamou fascista ao presidente e exortou a populaça madeirense à invasão das repartições de finanças, como aconteceu em 1936 e em muitas outras ocasiões anteriores à Revolução do Leite.
"Incitamento à violência que dá prisão maior e portanto sem direito à imunidade", exigiu com veemência o indignado Tranquada Gomes. Não se deve ter lembrado que o homem que o tem metido na Assembleia todos estes mandatos, ou seja, o 'rei das Angústias', em lugar de incitar, já chegou mesmo a vias de facto, espancando um trabalhador que dirigia o trânsito numa zona em obras à entrada de Machico. Espancou um operário... que era portador de um certo grau de deficiência, porque, se estava ali uma pessoa normal e com tudo no sítio, o ocupante do Mercedes preto derrapava pelo chão para lá que nem o motorista Ramos tinha tempo de lhe deitar a mão.
E então se for para prender os simples incitadores à violência, o chefe de Tranquada, rei Jardim, só vinha ver os amigos no Natal com uma precária e pulseira no tornozelo abaixo das varizes.
Quem é que não se lembra dos apelos em Câmara de Lobos, nos complicados anos 80? "Quando vierem para aí comunistas, não percam tempo a chamar a polícia, façam justiça pelas próprias mãos!", disse, mais ou menos assim, o grande patrão das Angústias, diante da população que recebera umas chaves de casa.
Ficamos aqui, para não falar dos repetidos incentivos do mesmo regedor de aldeia aos apedrejadores e agressores de jornalistas. Aos corifeus que no Caniço agrediram o líder da então UDP, Paulo Martins.
Só falta um xerife com estrela cintilante para termos faroeste a sério
Decididamente, custa-me entender o pasmo de Tranquada Gomes quando aquilo a que assistimos hoje é do mais vulgar que se tem nesta terra: uma prática idealizada e protagonizada pelo seu próprio chefe, o das Angústias.
Não vejo onde está o esquisito deste quotidiano. Há comportamentos obscenos com os carros da polícia. Há espancamentos à falsa-fé na saída das discotecas da parte de operacionais do laranjal e contra elementos da oposição.
Depois, nem sequer falta o cheirinho aos anos 70 das bombas e dos incêndios de carros pela Flama: algumas máquinas arderam recentemente e o pânico generalizou-se até se tornar normal, como está.
Temos uma sociedade em que andar de noite se tornou perigoso, como nos bas-fonds das cidades perdidas, de modo que o cidadão ou anda armado ou então seguido e protegido por dois ou três seguranças bem treinados e com pouco amor á vida.
Ou o sr. deputado Tranquada Gomes imiscuiu-se tanto nos seus negócios que perdeu contacto com a realidade que o rodeia?
"Assim já é demais, urge impor uma subida de nível ao cenário político-partidário-social desta terra" - dizem alguns, desesperados. Pois subam a Avenida do Infante e dirijam-se a quem trouxe a Madeira a isto, exijam-lhe que descalce a bota. Até para bem-estar dele, que daqui a tempos andará sem guarda-costas por aí.
E atenção: quer-me parecer que o melhor bocado desta 'normalidade' está guardado para o dia em que o laranjal perder umas eleições. A reacção há-de ser de 'estrondo'. Só não sei, com a construção civil parada, onde é que os baluartes do regime irão buscar a gelamonite necessária para os 'festejos da derrota'.
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