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sábado, 21 de abril de 2012

Política das Angústias/SÁBADO

JARDIM ACELERA CAMPANHA ELEITORAL INTERNA E NÃO OLHA A MEIOS PARA CONTINUAR A DOMINAR O PSD-M


O reduto laranja continua proibido a quem não for obediente ao chefe.


O incrível patrão do laranjal averbou, só nas últimas duas semanas, meia dúzia de calinadas político-partidárias merecedoras de sumária demissão em qualquer democracia com um mínimo de seriedade

O líder do PSD-M está no terreno de mangas arregaçadas para defender a sua posição de regedor no partido e usa descaradamente todos os expedientes ao alcance para o conseguir, desde a mais grosseira chapelada estatutária ao enxovalho público dos seus colaboradores mais fiéis - aliás perante uma submissão canina da parte destes que há-de ser motivo de aturados estudos futuramente. A candidatura de Miguel Albuquerque fê-lo perder a cabeça e as estribeiras. De há uns tempos a esta parte, o outrora chefe indiscutível actua cônscio de que perdeu o controlo do partido ou pelo menos o poder de comandar as consciências. O pânico é evidente e cada passo que dá aproxima-o mais da queda no abismo - que outro desfecho não podia ter a sua impetuosa, extravagante e desaurida carreira.

Como os coronéis latino-americanos e os sargentos africanos

Em pleno 2012, que evolução regista um partido que leva democracia no nome? Que se vê ali? Vê-se um estilo de coronéis latino-americanos ou de sargentos golpistas africanos. De facto, é espantoso constatar como, no PSD-Madeira, o normal é anormal e o ordinário... extraordinário. Só neste partido um candidato à liderança precisa de fazer um requerimento com 300 assinaturas para conseguir marcar um congresso... que é ordinário.  Mas é o que por aqui se passa. Os estatutos do PSD impõem congresso em 2013, porque a periodicidade é de dois em dois anos. Mas sua excelência, o chefe, entende dizer que o congresso ordinário está adiado e que quem o quiser na data certa, 2013, é que precisa de 300 assinaturas. Não sabemos se Bokassa, o original, alguma vez se atreveu a semelhante expediente.
Numa qualquer democracia com um cheirinho a credibilidade tínhamos aqui uma expulsão pura e simples do partido.


De fracasso em fracasso, de calinada em calinada

O delírio jardineiro é irreversível e aquele itinerário pelos adros das igrejas resultou num inquestionável e rotundo fracasso. Acabaram-se as multidões que os caciques locais, de mãos dadas com os párocos, garantiam depois da missa, para mais um brilharete eleitoralista e de intoxicação anti-democrática. Quem fica a ouvir o regedor das Angústias são os co-partidários que o acompanham do Funchal até ao ponto escolhido, os que têm de justificar os cargos públicos que o chefe lhes deu. Apesar de vilipendiado miseravelmente nos tempos mais recentes, o vice do governo João Cunha e Silva é uma dessas presenças, lado a lado com o secretário-geral do partido, Jaime Ramos, Miguel Mendonça e outros barões com lugar na comissão política, palco erradamente considerado importante, já que o único comissário com voz activa é o chefe. E ainda vários quadros colocados em postos bem remunerados à custa do erário e que sentem o dever constante de dar graças ao patrão, sob pena de serem acusados de 'cuspir no prato onde têm comido' estes anos todos.
Povo, quase nenhum fica a ouvir aquele que sente fugir-lhe debaixo dos pés o palanque da ditadura. Pelo menos um pároco, da zona leste, fez questão de, na missa seguinte ao comício do adro, criticar essa iniciativa partidária, na homilia perante os fiéis. Sinais dos tempos que se avizinham.

Ancestral promiscuidade governo-partido

De pouco tem servido a promiscuidade, já velha, entre os assuntos tratados pelo chefe no papel de presidente do governo e no de presidente do partido. Se, nos adros, não se sabe ao certo se ele está como presidente do executivo, a explicar o plano de resgate a um povo ausente, ou se pretende simplesmente congregar os jornslistas à sua volta, para difundir as ameaças aos militantes que sonhem sequer assinar os papéis que porventura Miguel Albuquerque lhes apresente.
Já nos actos oficiais que inventa para garantir telejornal todos os dias, como a inauguração de veredas, impasses e tabuletas onomásticas, o discurso sai claramente virado para dentro do PSD. Tal como, enquanto presidente do governo, vai explicar aquilo que a Madeira tem pendente com Lisboa... diante dos militantes social-democratas. O mesmo fazem alguns secretários: para explicar actos governamentais, aliás quase inexistentes, deslocam-se às sedes do partido. Um desnorte absoluto.

Votos internos: o vale-tudo

A campanha interna contra Miguel Albuquerque, ou seja, a campanha pela eternização de Jardim, consiste também num espaventoso activismo do líder da JSD-M, imitador das características trogloditas e das atitudes contraditórias do impune chefe máximo. Jardim deu força a Pedro Pereira e o jovem garante 4.650 militantes com direito a voto, face às próximas eleições no partido. A menos que esteja na forja uma geração para mais 30 anos de regime ditatorial e unanimista, esses votos dividir-se-ão na altura pelos candidatos em presença, mas nunca se sabe. O chefe é que não quer saber se os votos que o dão como líder perpétuo vêm de gente madura ou de jovens de 18 anos com muito que aprender na vida.
O chefe também não quer saber quem é que fica atropelado pela sua desenfreada corrida para conservar o poder. Só neste processo desencadeado pela candidatura de Albuquerque, estatelaram-se ao comprido três figuras do PSD-M. Primeiro Cunha e Silva, que tardiamente soube que deixara de ser delfim e que quem o ultrapassara é seu subordinado no governo regional. Depois foi Sérgio Marques: humilhado nas europeias pelo chefe, voltou a sofrer o mesmo duas vezes nos últimos dias, primeiro vendo o seu nome lançado para neutralizar a linha Albuquerque na Câmara e depois retirado dessa hipotética candidatura para uma outra, para a cadeira decorativa da assembleia municipal onde está João Dantas. Finalmente, Manuel António Correia. Escolhido por Jardim (será porque João Cunha e Silva estava em Canárias?) para correr atrás do candidato Albuquerque, acaba de ser descartado perante a insistência do edil funchalense quanto à realização do congresso no próximo ano. Jardim acaba de dizer: o Miguel vai mesmo e o Manuel António Correia não o consegue vencer, portanto vou eu mesmo.
Aliás, aconteceria mais tarde ou mais cedo. Jardim mandou Manuel António atrás de Albuquerque porque, enquanto o pau vai e vem...

Por quatro pratos de lentilhas

Perante estas atitudes vexatórias do chefe, que fazem os aviltados? Calam-se. Calados que nem coelhos mansos. Um silêncio de subserviência que muito caro lhes custará num futuro mais ou menos breve. Todos eles laboram no erro de sempre: deixar-se ficar sentado à espera que o chefe mande avançar alguém para a sucessão. Postura que já passou da ingenuidade à semi-loucura, que em política é contagiosa.
Se Miguel Albuquerque, com lucros à vista, se impôs pela diferença relativamente ao chefe, os fiéis incondicionais continuam a gravitar à volta da Quinta das Angústias. E muitos não precisavam desse papel, servil, bajulador - pegajoso. Miguel Mendonça, por exemplo. Jardim quis pô-lo fora da presidência do parlamento. Mendonça rogou pela continuidade. Porque precisa do lugar, não quer morrer pobre. Parece incrível, mas passou-se. Miguel Mendonça, que nestes anos todos tem amealhado reforma e vencimento parlamentar. Com um rendimento anual acima dos 200 mil euros, porque o par conjugal também dispõe de dois vencimentos, a reforma e o vencimento na espécie de unidade de investigação criada no Hospital. E Miguel de Sousa em alguma circunstância precisa de tantos amens ao chefe?
Quanto a Jaime Ramos, homem de negócios que cresceu com as piruetas desenvolvimentistas da Madeira Nova, é o mais autónomo dos dinossauros do PSD-M. Jardim não lhe vai à mão. Sabe que o seu futuro também passa pela força do secretário-geral, porque os presidentes de comissão de freguesia dizem: em quem o Jaime vier dizer para votar, é esse que vou indicar aos militantes. Tanto assim é que a incógnita Jaime Ramos, que muitos dizem próximo de Miguel Albuquerque, é um dos principais factores de animação do processo da sucessão de Jardim. Que este só admite por passamento fatal. Entretanto, Jaime apoiará Miguel contra o desejo do grande chefe? Não acreditamos.

Sede de campanha nas Angústias

Os expedientes eleitorais internos continuam em erupção na Quinta das Angústias. A presidência do governo é sede de campanha jardinista. O comando operacional anti-Albuquerque transferiu-se da vice-presidência do governo para o castelo das araras, com passagem interina pela Secretaria do Golden. Há barões chamados ao governo das Angústias para receber directivas partidárias. Manuel António tomou a seu cargo o trabalho de instruir os presidentes de juntas do Funchal. O DN escreveu que o próprio Jardim controlará a inscrição de novos militantes, para evitar infiltrações favoráveis ao candidato das 'revistas de cabeleireiro' e próximo 'desempregado político' - tudo expressões do chefe para depreciar o seu companheiro de partido Miguel Albuquerque. Umas das últimas de Jardim foi mostrar desconhecimento pela candidatura do edil funchalense. Brincadeiras dos tempos de escola, eis a quem a Madeira está entregue.

Se o povo quer mais...

Mandar avançar um secretário com uma candidatura à liderança do partido, espezinhar Sérgio, humilhar Cunha e Silva, humilhar aquele a quem mandou avançar, travando-o por suposta incapacidade, vilipendiar quem no seu partido possa ter uma ideia diferente da sua, cavar cada vez mais a ruína financeira da Madeira com as últimas declarações hostis a Lisboa, agir indiscriminadamente como presidente do governo e líder do PSD, maltratar cidadãos, distorcer o mercado dos jornais... Que mais é preciso para pôr a mexer um governante e político desta natureza?
Qual! O povo quer mais. Apesar de revelar cansaço, como nos fiascos dos adros, é capaz de querer mais, com medo da mudança. E vai ter mais. Porque esta campanha eleitoral pela liderança do PPD mostrará facetas ainda desconhecidas no carácter de sua excelência.

2 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro Sr. Luís Calisto

Jardim faz essas tropelias todas porque provavelmente ainda está convencido de que o povo é burro e vai na conversa. Foi para isso que criou o famigerado "povo superior", uma amálgama estupidificada, obediente e sem sentido crítico.
Mas os tempos mudam inexoravelmente e as pessoas acabam por aprender por si sós. Neste caso, da pior maneira, a apertar o cinto e a verem-se afundadas em dificuldades insolúveis. O estômago vazio é mau conselheiro e dificulta a receptividade ao paleio.

Luís Calisto disse...

O que o ilustre comentador afirma é verdade irrefutável, a meu ver. Mas só em referência ao 'povo superior' actual, que se deixou manobrar. Há 80 anos, o rei das Angústias seria corrido para não mais voltar à zona.