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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Politicando

Entrevista à RTP Informação

ALBUQUERQUE ENFRENTA JARDIM COM O PAÍS A VER

Apesar da hora coincidente com o Barcelona-Chelsea e com noticiários a falar das investigações às contas da Madeira, os desafios do presidente da Câmara do Funchal ao seu chefe de partido tiveram impacto.



O país com acesso àquele canal da RTP deve ter pasmado com a ligeireza com que Miguel Albuquerque afirmou, sem quebras de voz, deter os mesmíssimos direitos de militante do que Alberto João Jardim, e que não tem receio absolutamente nenhum das intimidações do líder. Cavaco Silva, Jaime Gama e outros indefectíveis do 'democraticismo' de Jardim, se acaso televiram a entrevista, arrepiaram-se ao reflectir sobre a justeza dos seus espantosos elogios ao barão das Angústias, já que agora escutavam um companheiro do seu amigo madeirense a pôr em xeque o sentido ético dele, Jardim.
A conversa com a jornalista da RTP girava em torno da data do próximo congresso do PSD-Madeira, que o chefe Jardim resolveu adiar para depois das autárquicas e o autarca funchalense insiste em que ocorra já para o ano. Miguel Albuquerque mostrou a página dos estatutos onde se diz que o congresso deve ser realizado de dois em dois anos. Ora, se o último congresso foi feito em Abril de 2011 - atacou sem hesitações - qualquer analfabeto percebe que o próximo deve ser em Abril do próximo ano. Qualquer analfabeto!
Claro, claro, Jardim não é analfabeto - respondeu Albuquerque à oportuna pergunta da jornalista. Então quem é que lê aquele ponto e conclui que para fazer um congresso ordinário - o de 2013 - é preciso arranjar assinaturas?! Quem é tal analfabeto?
Percebeu-se.

Jardim não consegue intimidar

"Eu não tenho de apresentar 300, 200 ou 400 assinaturas", disse o candidato à sucessão de Jardim, esclarecendo não se deixar intimidar - nem ele nem os militantes adeptos da sua condidatura - com nada. Está, sim, disposto a exigir o respeito dos seus direitos enquanto militante do PSD-Madeira. "Não me intimido com nada", explicou à jornalista, especificando mesmo: "Não tenho medo nenhum do Dr. Alberto João Jardim!"
Imagine-se! Jardim, que há meis dúzia de meses apostaria o que fosse preciso como ninguém no seu partido seria capaz de o enfrentar, muito menos de uma forma tão directa e provocadora como a utilizada nesta entrevista de terça-feira por Miguel Albuquerque!
"Eu e os apoiantes da minha candidatura reconhecemos o que ele (Jardim) fez pela Madeira, mas eu também tenho feito muito pela minha terra", dispara Miguel Albuquerque. "Por isso, vamos expressar os nossos direitos livremente e, se acaso há intimidações, é bom eu avançar em breve com a minha candidatura, para que isso fique tudo esclarecido."
A candidatura de Albuquerque está para breve, de facto, já que o edil funchalense recusa crer no adiamento do congresso ordinário. E a verdade é que se torna cada vez mais difícil ao chefe carismático insistir num adiamento para depois das autárquicas sem dar a ideia de que receia bater-se com o seu antigo delfim. Para mais, Albuquerque não se referiu nenhuma vez aos potenciais adversários apontados ultimamente como candidatos: Cunha e Silva, que fez lembrar às pessoas que ainda existe, e sobretudo Manuel António Correia, auto-candidatado e logo ultrapassado quando Jardim decidiu anunciar o regresso ao terreno para travar o passo ao homem da Câmara. Obviamente que a Miguel importa elevar-se até ao adversário colocado mais alto, para neutralizar a potencial concorrência do futuro.

Desafio claro para o mano-a-mano

Miguel Albuquerque, com esse intuito, fez desta entrevista uma declaração formal de que deseja enfrentar Jardim na presente luta pela liderança partidária. "Não tenho nenhuma questão pessoal com o Dr. Alberto João, mas é bom que as pessoas comecem a saber distinguir entre questões pessoais e a luta por objectivos políticos." Revelando o seu entendimento de que o ciclo jardinista no PSD chegou ao fim, anunciou possuir um projecto virado para a necessária renovação, de políticas mas também de comportamentos, porque entretanto a sociedade evoluiu, tornou-se mais aberta e urbana. E o PSD-M - disse - deve abrir-se ao exterior.

Ninguém está acima da lei

Quanto às investigações que decorrem no Funchal, por ordem de Lisboa, Albuquerque disse considerá-las normais, porque "ninguém está acima da lei". É preciso "apurar o que houver por apurar". Com a colaboração dos sectores investigados. Foi o que a sua vereação fez quando da realização de um inquérito ao município - lembra o autarca funchalense, que termina o mandato em 2013 e não se pode recandidatar, por força da lei. "As instituições devem ser transparentes", enviou como recado.
O edil da capital afirmou ainda que, a seu ver, o plano de resgate da Madeira deve ser renegociado e preconizou a criação de um projecto de reconversão do turismo, pilar da recuperação da Madeira, a par do Centro de Negócios que "o Estado está a destruir", quando o que deveria era tornar-se accionista da praça.

Mas a noite era de confronto com Jardim. Deliberadamente. O chellenger do poderoso chefe, como declarou repetidamente na entrevista, não abdica dos seus "direitos de militante" e tudo fará para os defender. Primeiro, esperará que o bom senso vingue e o congresso aponte para Abril de 2013, como ordenam os estatutos. Se não, procurará meios para repor a legitimidade.
O aviso ficou: "O Dr. Alberto João foi eleito no congresso anterior para dois anos de mandato à frente do partido, mas, como militante, não tem mais direitos ou deveres do que eu ou qualquer outro!"

Quinta das Angústias não é mais aquela casa dos horrores

Enfim, surpresas que o grande chefe não esperava tão cedo, muito menos diante dos telespectadores nacionais. Ele que sempre impediu companheiros da Madeira do menor brilho ao nível de país. Surpresas que são as primeiras de muitas que certamente já vêm a caminho. Os tempos mudaram. A voz do chefe e os seus ataques verrinosos assustam cada vez menos.

Quem acompanha estes desenvolvimentos com discrição mas muito empenho são, obviamente, os partidos oposicionistas. Depois de 36 anos de poder laranja, é legítimo pugnar pela mudança, seja para que lado for - independentemente das lutas intestinas no seio da maioria actual.
O futuro próximo promete.


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